Contos, crônicas e crítica literária de Alder Teixeira

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Security status not satisfied.

I was planning to say hello, but now I think greetings are unnecessary.

Firstly, I already know you and all your loved ones very well.
Secondly, the occasion for which I'm writing to you is not the happiest one for a friendly greeting.

You've heard that the Internet is a dangerous place, infested with malicious links and hackers like me?
Of course, you've heard, but what's the point in it if you are so dismissive of your internet security and don't care what websites you visit?
Times have changed. You read about AI, judging by your browser history, and still didn't understand anything?

Technologies have stepped far forward, and now hackers like me use artificial intelligence.
Thanks to it, I can get not only access to your webcam and record your fun with highly controversial video
(I recorded it also, but now that's not the point), but also to all your devices and not only yours.
And I saved a special sauce for this dish. I went further and sent malicious links to all your contacts from your account.

Yes, someone was smarter and realized that this was a trap and you were hacked, but believe me,
about 70% of your contact list (and these are your friends, colleagues, and family) bought into my scam.
They have as many skeletons in their closet as you do. Some turn out to be hidden homosexuals...

I have accumulated and analyzed a huge amount of compromising data on you and those with whom you communicate.
Very soon I'll start a crossfire - everyone will receive the full history of correspondence
(and there are enough of "sensitive moments") and recordings from the other contact's webcam.
I can go further and put all these files, as well as the recorded fun of you and your hacked contacts with "hardcore videos" into the public domain.

You can imagine, it will be a real sensation!
And everyone will understand where it came from - from you.
For all your contacts and, you will be enemy number one. Even your relatives will take a long time to forgive you and forget such a family shame...

It will be the real end of the world. The only difference is that there will be not four horsemen of the apocalypse, but only one - (=
But there is no such thing as a completely black stripe without any white dots.
Luckily for you, in my case the "Three M Rule" comes into play - Money, Money and Money again.

I'm not interested in your worthless life, I'm interested in people from whom I can profit.
And today you are one of them.

That's why: Transfer $1390 in Bitcoin to: 1PPJpvSPbbMwbESJZXGS8VtKiFQkmm7DvK ...within 48 hours!

You don't know how to use cryptocurrencies? Use Google, everything is simple.

Once payment is received, I will delete all information associated with you and you will never hear from me again.
Remember one thing: my crypto address is anonymous, and I generated this letter in your mailbox and sent it to you.
You can call the cops, do whatever you want - they won't find me, my demands won't change, but you'll just waste precious time.

The clock is ticking. Tick tock, a minute out of 48 hours has passed right now. An hour will soon pass, and in two days your old life will pass forever.
Either goodbye forever (if I get my payment), or hello to a brave new world in which there will be no place for you.

Hasta La Vista, Baby!
P.S. Almost forgot. Finally learn what incognito tabs, two-factor authentication, and the TOR browser are, for God's sake!

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Uma revolução poética

Chico Buarque de Hollanda, do alto de sua genialidade, escreveu sobre a Revolução dos Cravos uma de suas mais belas canções, cujo título, "Tanto Mar", constitui uma referência metafórica à distância que separa o Brasil de Portugal, quer em termos objetivamente referenciais (denotativos), pois há um oceano entre um país e outro, quer em termos poéticos, uma vez que, à altura em que compôs a obra (1975), diferentemente dos irmãos lusitanos, os brasileiros ainda padeciam dos horrores do golpe militar de 1964. É pouco divulgado, no entanto, mesmo entre os historiadores da MPB, o fato de Chico Buarque ter escrito duas versões para "Tanto Mar". A primeira, pouco conhecida, mas não menos bela, é esta: "Sei que está em festa, pá/Fico contente/E enquanto estou ausente/Guarda um cravo para mim/Eu queria estar na festa, pá/Com a tua gente/E colher pessoalmente/Uma flor no teu jardim//Sei que há léguas a nos separar/Tanto mar, tanto mar/Sei também que é preciso, pá/Navegar, navegar/Lá faz primavera, pá/Cá estou doente/Manda urgentemente/Algum cheirinho de alecrim". Na segunda versão, mais trabalhada poeticamente, em obediência aos preceitos dos tratados de versificação, o poeta atinge uma dimensão artística de maior alcance e um andamento estilístico mais preciso, rítmico e melódico. Aqui está: "Foi bonita a festa, pá/Fiquei contente/Ainda guardo renitente/Um velho cravo para mim/Já murcharam tua festa, pá/Mas certamente/Esqueceram uma semente/N'algum canto de jardim//Sei que há léguas a nos separar/Tanto mar, tanto mar/Sei também como é preciso, pá/Navegar, navegar/Canta primavera, pá/Cá estou carente/Manda novamente/Algum cheirinho de alecrim".
Nesta quinta-feira, 25 de abril de 2024, comemoram-se os 50 anos da Revolução dos Cravos, cuja ocorrência, em abril de 1974, portanto, deu início a uma série de acontecimentos libertários dos países colonizados por Portugal, razão por que os festejos reunirão, nesta quinta-feira 25, diversos outros chefes de Estado, a exemplo de Angola e Moçambique.
Transitando entre a ficção e a realidade, como é próprio da Arte, em "Quase Romance" (Sarau das Letras, 2021), minha estreia na narrativa longa, prestei uma singela homenagem aos portugueses no capítulo do livro dedicado a esse memorável acontecimento histórico, momento em que, no plano do conteúdo, a personagem Ana já deixara o país para retornar ao Brasil:
"Ironicamente, Ana deixara Portugal às vésperas da derrubada do governo salazarista de Marcello Caetano, ocorrida em 25 de abril de 1974. Por curioso, mais que os revolucionários que punham por terra o regime de inspiração fascista conhecido como Estado Novo, vigente desde 1933, uma mulher simples, uma humilde empregada de um restaurante da rua Braacamp, que tantas vezes frequentara ao lado de Linda, entraria para a história: Celeste Martins Caeiro, era o seu nome. O bar chamava-se "Franjinha" e fora inaugurado havia exatos doze meses. Para comemorar a data, a gerência decidira comprar uma grande quantidade de cravos vermelhos e brancos para distribuir com as senhoras. Aos homens, de cortesia, seria servido um "Porto".
Em face da grande mobilização popular que tomava conta das imediações do "Franjinha", a gerência do restaurante resolvera manter suas portas fechadas.O que fazer, todavia, com tantos cravos? "Leve-os para suas casas", disse, na véspera, Isabel Falcão, a gerente, dirigindo-se aos empregados do restaurante.
Abraçada a um molho de cravos vermelhos, Celeste tomou o metrô a caminho do Rossio, deparando, ao descer nas proximidades do cubículo em que morava com a mãe e uma filha, no Chiado, com os tanques revolucionários. Aproximando-se de um deles, pergunta a um soldado o que se passa ali, ao que ele responde: "Vamos para o Carmo derrubar Marcello Caetano. Isto é uma revolução!"
O soldado pede a Celeste um cigarro. Como não fumasse, ela oferece-lhe um cravo. Não tendo outra forma como reagir ao gesto da doce mulher, o soldado, displecentemente, coloca o cravo no cano do fuzil. Celeste os ofereceu, em seguida, a outros soldados, que também os colocaram na ponta de suas armas. Os outros empregados do "Franjinha", que ali se encontravam, passaram a distribuir os seus cravos também. Em poucos minutos, eram centenas de fuzis ornamentados com as flores com que se pretendia comemorar o primeiro aniversário de um pequeno restaurante.
Era a Revolução dos Cravos.