quinta-feira, 18 de junho de 2015

Mera coincidência

O problema que os intelectuais deste país têm de enfrentar parece muito grave. Os políticos reacionários, agitando o espectro de um perigo externo, conseguiram sensibilizar a opinião pública... Calma: a afirmação desse primeiro período não é minha, e nem diz respeito à situação do Brasil. Mera coincidência. Está no livro Como vejo o mundo, de Albert Einstein, que acaba de chegar às livrarias e que me encantou da primeira à última página, razão por que o recomendo para quem desejar uma leitura de final de semana de tirar o folego, de tão encantadora que é.
 
Conhecido por desenvolver a teoria da relatividade, Einstein foi prêmio Nobel de Física em 1921. Sua descoberta, no entanto, contra toda e qualquer motivação do cientista, resultou na contribuição decisiva para o surgimento da bomba atômica, cujos males trazidos à humanidade dispensam maiores esclarecimentos. O que é mais importante, contudo, na perspectiva do que me interessa aqui, é que Albert Einstein foi um dos maiores humanistas de que se tem notícia, de cuja pena sairiam escritos impagáveis, pela força poética e revelação de um espírito em tudo superior.
 
Foi eleito pela revista Time como a "Pessoa do Século" e ganhou notoriedade não apenas pelas obras científicas que nos legou, a exemplo de Teoria especial da relatividade, Teoria da relatividade, Evolução da física, entre outros, mas, também, pelo livros de extração literária que escreveu, A minha filosofia e Meus últimos anos à frente. Não à toa, pois, é que seu nome, "Einstein", virou sinônimo de gênio e sua face passou a figurar entre os retratos mais conhecidos de todos os tempos no mundo inteiro.
 
Num tempo marcado pela inversão de valores, ler Como vejo o mundo é benéfico para qualquer um. Vindo de um materialista, rompe a barreira dos maniqueísmos e resgata aquilo por que se deveria guiar o mais vibrante dos religiosos: o amor ao próximo, a condenação de qualquer ato de violência, a determinação de lutar pela paz entre os povos, bem na linha do que atestam suas palavras: "Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo débil. A guerra é a coisa mais desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a participar dessa ignomínia".
 
Questiona o sentido da riqueza que se enclausura nas benesses que só o dinheiro é capaz de comprar: "O dinheiro polui tudo e degrada sem piedade a pessoa humana. Não posso comparar a generosidade de um Moisés, de um Jesus ou de um Gandhi com a generosidade de uma Fundação Carnegie qualquer". Arrisca o filosofar mais nobre sobre como se devem julgar os homens: "De acordo com uma única regra determino o valor de um homem: em que grau e com que finalidade o homem se libertou do seu Eu". Escorrega, como todo bom coração, em alguma medida, na desesperança em face de como agem os políticos e grande parte dos religiosos: "Quando analiso mais atentamente os mestres da política e da religião, começo a duvidar do sentido profundo de sua atividade. Será o Bem?".
 
Mas é no capítulo com que abre este belíssimo Como vejo o mundo que se deixa ver por inteiro, apoiando-se na humildade exemplar de um verdadeiro fenômeno da inteligência humana para apontar o caminho para um mundo melhor: "Minha condição humana me fascina. Conheço o limite de minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas às vezes o pressinto. Pela experiência cotidiana, concreta e intuitiva, eu me descubro vivo para alguns homens, porque o sorriso e a felicidade deles me condiciona inteiramente, mas ainda para outros que, por acaso, descobri terem emoções semelhantes às minhas".
 
Não de outra boca, pois, é de onde vêm as palavras inquietantes (e intencionalmente contraditórias, para um cientista): "Na ciência, não raro deparamos com um limite para além do qual é impossível ir sem a presença de Deus".