sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O Brasil hoje

> Esta semana fui brutalmente assaltado. Dentre os amigos com os quais tomo o café da manhã, algo em torno de dez a doze pessoas, dois deles viveram nos últimos dias a mesma experiência.

> Aqui e além, tenho ouvido histórias que parecem extraídas de alguma sequência de um filme de terror. Através da imprensa, autoridades aconselham as pessoas a não sair de casa.

> No Ceará, as estatísticas de mortes violentas ultrapassam o impensável número de duzentas ocorrências. É assustador o que se vive no estado hoje, nomeadamente em Fortaleza.

> Guilherme Amado, ex-deputado, apontado como líder do motim no estado anuncia: "Índice de arrastão vai ser incalculável!"

> Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro nega ao governador Camilo Santana pedido para prorrogar o prazo de permanência da GLO no Ceará, e, bem no seu estilo "troglodita", não mede palavras ao afirmar: "Resolva esse problema que é do seu estado, tá certo?"

> Novas negociações são aguardadas para o dia hoje. O que é improvável, espera-se bom senso do governo federal num momento em que o problema da segurança pública, a exemplo de outras mazelas que parecem tomar conta do país, deve ser objeto de cuidados que ignorem as fronteiras partidárias e as diferenças ideológicas. O presidente foi eleito para presidir uma nação, e não um expressivo número de brasileiros que age sob o efeito de passionalidades fundamentalistas e reacionárias cujo combustível são o ódio e a insensatez.

> A agravar o quadro de incertezas, Bolsonaro vem a público pelas redes sociais para convocar atos em sua defesa e contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 15 de março, numa atitude que caracteriza inequívoco crime de responsabilidade e, num país em que a Constituição Federal seja de fato respeitada, mais que justificaria pedido de impeachment, pois que se trata de iniciativa que atenta contra os interesses do país e da segurança nacional.

> É o caos, para o qual, infelizmente, assustadores trinta por cento dos brasileiros, como a reeditar subjetividades de torcedores de futebol, fecham os olhos e, ao que tudo indica, apostam no "quanto pior, melhor!" Uma tristeza o que se vê no Brasil hoje!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Wagner no cinema

WAGNER NO CINEMA
Álder Teixeira
Quando o então Secretário de Cultura Roberto Alvim fez o seu desavergonhado pronunciamento reeditando chavões nazistas, é natural que a grita tenha sido a que resultou na demissão do titular da pasta, isto é, que não tenha descido a detalhes que pudessem de alguma forma isentar a arte de Richard Wagner, cuja música Lohengrin fazia fundo ao Goebbels bolsonariano. Eu mesmo deixei, naquela oportunidade, de realçar os atributos artísticos do compositor alemão, que me parecem isentos, sob o ponto de vista estético, das abomináveis motivações nazistas do pronunciamento em pauta.
Pois bem, no cinema, por exemplo, a música de Wagner pontua a trilha sonora de algumas pérolas ao longo de muitos anos, muito embora o compositor alemão tenha morrido doze anos antes do cinema surgir, em 1895, conforme tentarei, de memória, evidenciar aqui.
Quem haverá de esquecer, por exemplo, a cena antológica dos helicópteros ao som de A cavalgada das Valquírias, em "Apocalypse Now", de Francis Ford Coppola, num dos momentos mais eletrizantes da história do cinema? E da tocante sequência em que Isolda morre sob a romântica Liebestod, em "Tristão e Isolda"? Ou do refinadíssimo seriado "Os Maias", em que também é Liebestod que embala os encontros de Pedro da Maia e Maria Monforte? Aliás, em tempo, pode-se concluir que de todo o repertório de Wagner é Liebestod a preferida dos diretores de cinema e teatro.
Ela está, ainda, por improvável que pareça, numa sequência de "A idade do ouro", de ninguém menos que o surrealista Luís Buñuel. Para não falar de Fritz Lang e Hitchcock. Deste, para citar outro exemplo, ocorre-me lembrar "Os pássaros", em que, num curioso merchandising estético, um exemplar de Tristão e Isolda pode ser vislumbrado na coleção de Suzanne Pleshette.
A propósito, para Max Steiner, autor de trilhas memoráveis do cinema, obras-primas como "... E o vento levou" e "Casablanca", sem falar em "O tesouro de Sierra Madre", Richard Wagner, fosse homem do nosso tempo, teria sido o maior compositor de músicas do cinema.
Na Alemanha nazista, sabe-se, lamentavelmente a arte era ferramenta do Estado, e sua função era enaltecer o ideário hitlerista. A pujança sonora do repertório de Richard Wagner prestava-se bem a fazê-lo. E isso, por motivos óbvios, foi o que levou o desastrado ex-secretário de Jair Bolsonaro a escolher Lohengrin como fundo do seu inaceitável pronunciamento.