Ainda repercute mundo afora o vexame que foi o discurso de Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU, no início da semana. Para críticos internacionais, o presidente brasileiro perdeu uma rara oportunidade de se retratar com um mínimo de dignidade pelo desastre que tem sido o seu governo em questões da pauta universal, a ambiental sobretudo.
Ao responsabilizar índios e caboclos pelo desmatamento e queimadas na Amazônia e no Mato Grosso, Bolsonaro fez pilhéria com um problema que afeta não apenas o Brasil, ressaltam os principais jornais de diferentes países, mas o mundo inteiro.
A patranha do presidente, no entanto, não se restringiu à questão ambiental. Num exercício de negacionismo por que tem pautado a dramática situação do país no campo da saúde, com o número de vítimas da Covid-19 aproximando-se dos 150 mil brasileiros e brasileiras mortos, foi além. De forma indisfarçavelmente leviana, Bolsonaro tripudiou da situação, e, mais uma vez, criticou protocolos da ONU e isentou-se de responsabilidade pelo que vem ocorrendo no Brasil desde o mês de março.
Como um marido farsante, que reafirma amar a mulher com quem casou exclusivamente por dinheiro, na feliz comparação do escritor Sérgio Rodrigues, discorrendo sobre a mentira, o presidente exaltou o seu amor ao país e se dirigiu a estadistas do mundo inteiro como se falasse aos seus asseclas, apaniguados ou fanáticos, que, por ingenuidade, oportunismo ou desfaçatez, continuam a seguir incondicionalmente seus passos rumo ao abismo. Abismo esse --- desgraçado destino! --- a que somos todos de alguma forma empurrados.
A tornar ainda mais indigna a realidade do Brasil hoje, onde grassam o cinismo e a irresponsabilidade, é vergonhoso que jornais de prestígio como a Folha de S. Paulo e O Globo, em suas edições dessa quarta-feira 23, tenham estampado em suas páginas manchetes que se acumpliciaram com o cabotinismo do presidente Jari Bolsonaro, considerando o desconserto do seu pronunciamento apenas "polêmico". Como bem afirmou Rodrigues, citado acima, "inverdade não é polêmica" e "mentiras não deixam de ser mentiras quando alguém acredita nelas --- tornam-se apenas mais perigosas."
De mal a pior, indiferente e omisso, o Brasil vai se habituando a conviver com a canalhice, o obscurantismo e a mais desavergonhada forma de se fazer política, aceitando-os com naturalidade e subserviência. Até quando?
Com certeza, meu ilustre amigo, constatamos essa cumplicidade com a canalhice e com o descaso ao bem público, com seriíssimos reflexos no Social. Junto-me a sua pergunta: ATÉ QUANDO?
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