Amanhã será um lindo dia/Da mais louca alegria/Que se possa imaginar//Amanhã, redobrada a força/Pra cima que não cessa/Há de vingar//Amanhã, mais nenhum mistério/Acima do ilusório/O astro rei vai brilhar//Amanhã, a luminosidade/Alheia a qualquer vontade/Há de imperar//Amanhã será toda a esperança/Por menor que pareça//O que existe é para festejar//Amanhã, apesar de hoje/Ser a estrada que surge/Pra se trilhar//Amanhã, mesmo que uns não queiram/Será de outros que esperam/Ver o dia raiar//Amanhã, ódios aplacados/Temores abrandados/Será pleno, será pleno.
Hoje, acordei com essa música do Guilherme Arantes a repercutir, insistentemente, em meus ouvidos. O inconsciente, de que nos falou Freud a inaugurar uma das mais belas ciências humanas? Não sei, mas o fato é que fui à vidraça do quarto olhar o dia a explodir esperança pelos longínquos do horizonte.
Amanhã, o Brasil tem a sua frente mais que uma eleição para presidente. Amanhã, cabe-nos decidir entre dois projetos de país, duas realidades para nós, para as pessoas que amamos e para o nosso povo.
De que lado estaremos? Do Brasil do ódio, do rancor sem cura, da desesperança, da hostilidade às diferenças, do desprezo pela liberdade, pelos povos indígenas, dos maus-tratos aos negros e às mulheres, da indiferença e do desdém para aqueles a quem falta ar nos pulmões na hora da agonia, do negacionismo e da omissão em face das milhares de pessoas às quais se negou a vacina que salva, a ciência que trabalha em favor da vida? De que lado estaremos?
Estaremos do lado dos que respeitam a vida e a dignificam pelo trabalho, pelo salário justo, pelo respeito aos diferentes, pelo altruísmo, que veem o amor maior que o gênero, dos que sabem a dor de perder o ente amado, dos que defendem o meio-ambiente, que sonham com um país menos desigual e mais livre, mais humano, com mais escolas, mais livros, mais universidades? De que lado estaremos?
Estaremos com Paulo Freire, que elevou o prestígio da educação brasileira a níveis impensáveis mundo afora, ou de Olavo de Carvalho, com seus métodos rasteiros e odientos de conduzir os ingênuos e os desavisados? Dos que constroem hospitais, ou dos que os invadem e os apedrejam? Dos que adoram armas, munições, ou dos que exaltam a importância dos livros e da educação? De que lado estaremos?
Dos que se engasgam de revolta ao deparar com pobres no aeroporto, no cinema, nos restaurantes? Ou dos que se emocionam com a formatura da filha do porteiro, da servidora doméstica, dos afrodescendentes, dos que sonham ser reconhecidos pelo que são como gente, não pelo que possuem, pelo tamanho da conta bancária, dos carrões, das mansões compradas a dinheiro vivo? De que lado estaremos?
Dos que se encantam e aprendem com as fábulas literárias, ou dos que se curvam às mentiras de acusações levianas, fúteis, inconfessáveis, a exemplo da ameaça comunista, do "kit gay" e da existência de um "enviado" que mente, bate, professa o ódio e a violência como forma de garantir seus privilégios e suas conveniências sórdidas? De que lado estaremos?
De Chico Buarque, Caetano Veloso, Sebastião Salgado, Fernanda Montenegro, Marieta Severo, do técnico Tite, do meia Paulinho, Padre Júlio Lancellotti e do Papa Francisco, ou do goleiro Bruno, de Guilherme de Pádua, de Robinho, do sonegador Neymar e do seu conservadorismo interesseiro e vil? De que lado estaremos?
Dos que lutam por seus direitos, dos que compreendem o significado de um país livre e justo, mais igualitário, mais humano, mais sensível às coisas da poesia e da arte como um todo, ou dos que maldizem a democracia e a desvirtuam de forma criminosa, ao som de tiros e explosões de granadas? Dos que caluniam e ofendem, ou dos que pregam a paz, a tolerância, o amor? Dos que dividem, ou dos que só multiplicam? De que lado estaremos?
Como na canção de Guilherme Arantes, amanhã será outro dia e um novo sol vai brilhar.
Ou decidiremos em favor das trevas?