sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Dia Internacional da Democracia

Os espíritos tacanhos precisam de despotismo para o jogo de seus nervos, como as grandes almas têm sede de igualdade para a ação de seu coração.

BALZAC (1799-1850)

Escrevo esta coluna no Dia Internacional da Democracia (15 de setembro). O Brasil, depois de quatro anos sob um regime de fisionomia e práticas assumidamente fascistóides, e há pouco menos de oito meses da mais repugnante tentativa de um golpe de Estado, parece voltar definitivamente para a condição de país democrático. A provar isso, felizmente, segundo relatório produzido pelo Instituto V-Dem, entidade sueca dedicada a analisar a realidade política mundial em termos democráticos, o Brasil, desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, volta a figurar entre os países em nível democrático satisfatório, com nítida reversão do quadro de ameaças a que foi submetido durante o governo do inominável.

O resultado, não bastasse configurar uma realidade política desejável, em que as instituições funcionam de conformidade com o que lhes impõe a Constituição Federal, tem ainda maior significado quando os números do levantamento, na perspectiva global, apontam para um crescimento de regimes autoritários nos últimos quarenta anos. A estimativa, segundo o instituto, é de que pouco mais de 70% da população mundial sejam governados por regimes autocráticos, muitos dos quais vivendo realidades muito próximas do que se pode definir como modelos neofascistas ou com eles identificados.

O relatório evidencia que o Brasil caminha para a plena reconstrução democrática, mesmo considerando-se a existência de organizações de extrema direita empenhadas em impedir esses avanços em práticas cotidianas que se estendem do simples desejo reacionário (volta dos militares ao governo), por exemplo, a comportamentos do dia a dia marcados pela intolerância, racismo, aversão aos pobres, visão elitista de mundo, desrespeito aos valores republicanos e sanha ideológica contra entidades, movimentos populares e partidos convencionalmente considerados progressistas  ---  PT, PSOL e afins.

A celebração do Dia Internacional da Democracia, ressalte-se, ocorre entre nós, brasileiros, num momento particularmente importante da pauta política e institucional nacional, leve-se em conta os julgamentos, iniciados ontem pelo STF, dos envolvidos com os atos de 8/1, cujas sentenças até aqui conhecidas giram em torno dos 17 anos em regime fechado.

O momento, pois, constitui uma demonstração de que inimigos da democracia e destruidores da coisa pública deparam com um desfecho para eles surpreendente. É indispensável, no entanto, que esses processos e as investigações em andamento não se limitem aos "bagres", aos desordeiros e desatinados autointitulados "patriotas", os que batem continência para pneus e constituem, sob o domínio da insensatez, provas contra si mesmos. Urge que se chegue --- e as provas são incontrastáveis --- aos peixes grandes, tambaquis, dourados e poraquês que assoberbam as águas verdes dos quartéis.

Falar nisso, qual o paradeiro dos esbravejadores de há pouco, agora convertidos ao mais acovardado silêncio? Por onde andam Augusto Heleno, Luis Fernando Ramos, Paulo Sérgio, anfitrião de hackers com fito golpista? Onde o general Braga Neto, Eduardo Pazuello, Bento Albuquerque, José Roberto Bueno Jr., onde?

Como escreveu em coluna notável o jornalista Ruy Castro, "tão valentes no poder, hoje trêmulos e mudos. Mas terão de criar coragem e se explicar".

No dia que lhe é internacionalmente dedicado, viva a democracia brasileira!

  

 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Li, algures, uma frase de autor desconhecido dizendo que a Democracia não pode ser tão elástica a ponto de permitir aqueles que querem acabar com a Democracia.
    Acho que a tônica desta frase se encaixa na luta hercúlea do STF e TSE na defesa de nossa ainda frágil Democracia, que foi alvo de ataques brutais dos cúmplices do fascismo bolsonarista. Não escapamos tão incólumes assim porque eles insistem nos ataques, com mentiras deslavadas. Sigo o raciocínio do Colunista: Viva a Democracia!

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