Durante o happy hour da sexta-feira, depois de alguns uísques, amigo resolve desabafar a sua neura com a certeza de que a velhice vai chegar: - "Velhice é uma doença. Não me identifico mais na imagem do espelho. Estou me tornando uma outra pessoa!" É verdade que ninguém conseguiu conter o riso, mas, no discreto disfarçar de cada expressão, passado o hilário da coisa, pude perceber alguma medida de preocupação. Mínima que fosse.
Ataquei de Cecília: "Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim magro, / nem estes olhos tão vazios, nem este lábio amargo. / Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu não tinha este coração que nem se mostra. / Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil. / Em que espelho ficou perdida a minha face?" E a conversa me fez lembrar de tantas outras... dos tantos e-mails que me chegam de amigos, para alguns dos quais está ainda tão distante a indesejada das gentes, como no verso clássico de Bandeira.
Ocorre-me um diálogo do belo filme do argentino Marcos Carnevale: a filha visita o pai viúvo e depara com o velhinho preparando um banho com um entusiasmo que havia tempos não possuia. Os remédios, aos montes, atirados na lixeira. "Papai, o que é isso? Decidiu morrer?" E ele responde: - "Não. Decidi viver!" Alfredo, como se chama o bom velhinho, descobrira-se apaixonado aos 80 anos. Nada surpreendente, não fosse Elsa, o objeto de sua paixão, mais velha que ele, imprevisível e feliz do alto dos seus 83 anos, que (re)ensina a Fred a alegria de viver.
A cena em que os dois fogem sem pagar a conta do jantar em um restaurante, é desconcertante de tão bonita e tão cheia de significados. Para não falar de um dos momentos altos da cinematografia nesses últimos anos, que é a sequência em que Fred torna possível a realização de um sonho antigo de Elsa: tomar banho à noite, na Fontana de Trevi, em Roma, numa citação da cena clássica de Anita Ekberg e Marcelo Mastroiani em A doce vida, de Fellini. A cena dói de tão linda.
Envelhecer é passar algumas páginas de nossas vidas... e complicamos tanto! Fazer amigos e preservar os que já temos; viajar, ler um bom livro, assistir a um filme de que nunca vamos esquecer; descobrir e redescobrir a beleza que está nos pequenos gestos, nas coisas simples, na capacidade de amar que devemos exercitar sempre... Acho que são tantos os caminhos para que não percamos a nossa identidade, para que continuemos nos reconhecendo na imagem do espelho... Elsa, a velhinha serilepe que nos faz chorar e rir às escancaras no filme de Carnevale, ajuda-nos a entender a vida e a tirar dela o que de melhor tiver para nos dar. A qualquer tempo, eis a lição!
Ataquei de Cecília: "Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim magro, / nem estes olhos tão vazios, nem este lábio amargo. / Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu não tinha este coração que nem se mostra. / Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil. / Em que espelho ficou perdida a minha face?" E a conversa me fez lembrar de tantas outras... dos tantos e-mails que me chegam de amigos, para alguns dos quais está ainda tão distante a indesejada das gentes, como no verso clássico de Bandeira.
Ocorre-me um diálogo do belo filme do argentino Marcos Carnevale: a filha visita o pai viúvo e depara com o velhinho preparando um banho com um entusiasmo que havia tempos não possuia. Os remédios, aos montes, atirados na lixeira. "Papai, o que é isso? Decidiu morrer?" E ele responde: - "Não. Decidi viver!" Alfredo, como se chama o bom velhinho, descobrira-se apaixonado aos 80 anos. Nada surpreendente, não fosse Elsa, o objeto de sua paixão, mais velha que ele, imprevisível e feliz do alto dos seus 83 anos, que (re)ensina a Fred a alegria de viver.
A cena em que os dois fogem sem pagar a conta do jantar em um restaurante, é desconcertante de tão bonita e tão cheia de significados. Para não falar de um dos momentos altos da cinematografia nesses últimos anos, que é a sequência em que Fred torna possível a realização de um sonho antigo de Elsa: tomar banho à noite, na Fontana de Trevi, em Roma, numa citação da cena clássica de Anita Ekberg e Marcelo Mastroiani em A doce vida, de Fellini. A cena dói de tão linda.
Envelhecer é passar algumas páginas de nossas vidas... e complicamos tanto! Fazer amigos e preservar os que já temos; viajar, ler um bom livro, assistir a um filme de que nunca vamos esquecer; descobrir e redescobrir a beleza que está nos pequenos gestos, nas coisas simples, na capacidade de amar que devemos exercitar sempre... Acho que são tantos os caminhos para que não percamos a nossa identidade, para que continuemos nos reconhecendo na imagem do espelho... Elsa, a velhinha serilepe que nos faz chorar e rir às escancaras no filme de Carnevale, ajuda-nos a entender a vida e a tirar dela o que de melhor tiver para nos dar. A qualquer tempo, eis a lição!