A Revista da Cultura traz, em sua edição de dezembro, um curioso artigo da psicanalista Regina Navarro. Para ela, está com os dias contatos o relacionamento 'fiel', fundamentado no que considera a fantasia de que, para ser feliz, só pode existir 'uma pessoa certa' com quem nos relacionar. A tese, sobre a qual escrevi há algum tempo neste espaço, reedita o que Navarro defende no best seller A cama na varanda. Até aí, nada de novo, não se leve em conta o fato de que, com distribuição gratuita, a revista tende a atingir um público maior e, em princípio, mais susceptível de se deixar influenciar. Ou não, como diria Caetano.
O que chama a atenção agora, é o fato de que, cada vez mais, a psicanalista tem baseado a sua teoria em dados obtidos em seu consultório, uma espécie de muro das lamentações classe A, para o qual se dirige todos os dias um contingente feminino de elevado status social e, supostamente, de maior escolaridade. Nesse sentido é que Navarro cita, já no início do artigo, um caso em que está envolvida uma professora de 33 anos. Sil, como é referida no texto, depois de um tempo curtindo a vida de solteira, descobre-se apaixonada por Mário, com quem passa a dividir uma experiência amorosa absolutamente feliz. Até que um dia, sem que existam motivos aparentes, a admiração e o desejo pelo namorado vão diminuindo e ela passa a achar a relação desinteressante: - "De uns tempos para cá, tenho me decepcionado com o Mário. Chego a achar que ele não é essa maravilha que eu imaginava." A agonia do amor.
A razão (ou razões) por que isso ocorre, sabemos: quando nos apaixonamos, invariavelmente construimos uma relação idealizada, e o objeto do nosso desejo é fruto de uma utopia, de uma cegueira momentânea em face das limitações e imperfeições do outro, fenômeno absolutamente natural, soubéssemos, ao contrário do que quase sempre ocorre, lidar com esse sentimento fugaz -- que é a paixão -- com o equilíbrio necessário quando do nosso retorno à realidade. Se nos falta esse tino, essa aceitação da realidade humana, com suas imperfeições e suas contradições mais íntimas, o insucesso da relação é inevitável.
Segundo Navarro, no que considero o ponto alto de sua teoria, "o amor é uma construção social e em cada período da história se apresentou de uma forma." Se é procedente a sua afirmação, e é, num tempo em que a individualidade é cultuada como um bem inalienável, a tendência lógica é que homens e mulheres se atirem em busca de novas descobertas. E não foi sempre assim?, haverá de questionar o leitor. Sim, essa busca é inerente ao homem de todos os tempos. A diferença, diz a pesquisadora, é que, desta vez, ela se dá para dentro de si mesmo. Ou seja, no caso, já não precisamos do outro para ser feliz.
A morte do amor romântico, como está anunciada no artigo de Regina Navarro, abre espaço para o amor do futuro, "com a possibilidade de amar e de nos relacionar sexualmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo." Em certa medida consistente, a teoria de Navarro peca, no entanto, por não considerar que, sendo uma construção social, como afirma, o amor traz dentro dele todas as contradições de qualquer construção social. Inclusive a fantasia de querer amar e ser amado com exclusividade.
O que chama a atenção agora, é o fato de que, cada vez mais, a psicanalista tem baseado a sua teoria em dados obtidos em seu consultório, uma espécie de muro das lamentações classe A, para o qual se dirige todos os dias um contingente feminino de elevado status social e, supostamente, de maior escolaridade. Nesse sentido é que Navarro cita, já no início do artigo, um caso em que está envolvida uma professora de 33 anos. Sil, como é referida no texto, depois de um tempo curtindo a vida de solteira, descobre-se apaixonada por Mário, com quem passa a dividir uma experiência amorosa absolutamente feliz. Até que um dia, sem que existam motivos aparentes, a admiração e o desejo pelo namorado vão diminuindo e ela passa a achar a relação desinteressante: - "De uns tempos para cá, tenho me decepcionado com o Mário. Chego a achar que ele não é essa maravilha que eu imaginava." A agonia do amor.
A razão (ou razões) por que isso ocorre, sabemos: quando nos apaixonamos, invariavelmente construimos uma relação idealizada, e o objeto do nosso desejo é fruto de uma utopia, de uma cegueira momentânea em face das limitações e imperfeições do outro, fenômeno absolutamente natural, soubéssemos, ao contrário do que quase sempre ocorre, lidar com esse sentimento fugaz -- que é a paixão -- com o equilíbrio necessário quando do nosso retorno à realidade. Se nos falta esse tino, essa aceitação da realidade humana, com suas imperfeições e suas contradições mais íntimas, o insucesso da relação é inevitável.
Segundo Navarro, no que considero o ponto alto de sua teoria, "o amor é uma construção social e em cada período da história se apresentou de uma forma." Se é procedente a sua afirmação, e é, num tempo em que a individualidade é cultuada como um bem inalienável, a tendência lógica é que homens e mulheres se atirem em busca de novas descobertas. E não foi sempre assim?, haverá de questionar o leitor. Sim, essa busca é inerente ao homem de todos os tempos. A diferença, diz a pesquisadora, é que, desta vez, ela se dá para dentro de si mesmo. Ou seja, no caso, já não precisamos do outro para ser feliz.
A morte do amor romântico, como está anunciada no artigo de Regina Navarro, abre espaço para o amor do futuro, "com a possibilidade de amar e de nos relacionar sexualmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo." Em certa medida consistente, a teoria de Navarro peca, no entanto, por não considerar que, sendo uma construção social, como afirma, o amor traz dentro dele todas as contradições de qualquer construção social. Inclusive a fantasia de querer amar e ser amado com exclusividade.
Às vezes tenho a impressão de que vc está escrevendo sobre a minha vida (muita pretensão da minha parte). Identifico-me em muitas de suas crônicas e muito me conforta saber que não estou sozinha nessa difícil arte de amar. A fantasia de amar e ser amada com exclusividade continua. Encontrar um novo amor, idealizá-lo a ponto de não ver os seus defeitos, sentir uma grande paixão, mesmo sabendo quão fugaz é este sentimento. Só me sinto completa apaixonada!
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