O livro é de 2011, mas só agora pude me dedicar a lê-lo. Esplêndido, não há palavra mais precisa para dizer das minhas impressões! Trata-se do mais completo e criterioso levantamento já realizado em torno da vida e da obra de Chico Buarque de Hollanda. Tudo feito com o carinho e o bom gosto de uma jornalista talentosa e, como a maioria dos brasileiros que conhecem a obra do artista, fã de carteirinha desse gênio nascido em 1944, no Rio de Janeiro. Regina Zappa já escrevera, por sinal, uma biografia anterior, mas nada que se possa comparar com esse seu último mergulho no universo buarquiano.
Para seguir minha jornada, como se intitula, nasceu, segundo a autora, de uma conversa sobre o Brasil de Chico Buarque, mais precisamente sobre tudo (ou quase) que se publicara sobre o compositor nas décadas de 1960, 1970 e 1980, e que havia sido arrebanhado pela tia dele, Cecília Buarque de Hollanda. São artigos, recortes de jornais, revistas e documentos de críticas e do próprio acervo pessoal do biografado. Tudo, como disse, tratado de forma absolutamente irrepreensível do ponto de vista editorial, o que dá ao livro de Regina Zappa um charme e uma força estética incontornável. É ler e constatar.
Ricamente ilustrado, com um conjunto fotográfico capaz de deixar babando qualquer fã mais entusiasmado, o livro me pegou, sobremaneira, pela riqueza de informações pouco exploradas de passagens muitíssimo curiosas da vida pessoal e artística de Chico Buarque. Um exemplo? A quase sempre questionada relação do compositor de Construção com a Jovem Guarda, movimento que, pela própria distância do rigor estético característico da produção buarquiana, poderia lhe ter sido indiferente. E não foi!
Baseada em jornais da época, Zappa alude à assumida intenção de Chico Buarque de se aproximar de Roberto Carlos a fim de liderar com ele um movimento de união dos diferentes segmentos da música popular brasileira: "Roberto Carlos e Chico Buarque parecem estar juntos, no mesmo time, pela primeira vez. O iê-iê-iê e o samba tradicional concluíram que era gastar energia inútil manter a rivalidade e fizeram as pazes". Numa conversa entre os dois, Chico propôs: "Por que não grava 'Amélia'? Seu sucesso quando canta música de Mário Lago e de Ataulfo é evidente." Roberto gravou o samba-canção e fez muito sucesso, além de convencer aos desafetos, de uma vez por todas, que é de fato um intérprete versátil e seguro.
O mais significativo, no entanto, diz respeito mesmo à militância de Chico Buarque, o que lhe valeu bem mais do que censura aos seu trabalho. O artista foi frequentemente ameaçado pelos militares, e o fac-símile de uma cartão de Natal, endereçado ao compositor, atesta: "[...] O Comando de Caça aos Comunistas deseja a você, ativista da canalha comunista que enxovalha o país, um péssimo Natal e que se realize no ano de 1979 nosso confronto final." Sobre este aspecto do livro, tão rico, escreverei na coluna de sábado. Por enquanto, recomendo o belíssimo trabalho de Regina Zappa.
Para seguir minha jornada, como se intitula, nasceu, segundo a autora, de uma conversa sobre o Brasil de Chico Buarque, mais precisamente sobre tudo (ou quase) que se publicara sobre o compositor nas décadas de 1960, 1970 e 1980, e que havia sido arrebanhado pela tia dele, Cecília Buarque de Hollanda. São artigos, recortes de jornais, revistas e documentos de críticas e do próprio acervo pessoal do biografado. Tudo, como disse, tratado de forma absolutamente irrepreensível do ponto de vista editorial, o que dá ao livro de Regina Zappa um charme e uma força estética incontornável. É ler e constatar.
Ricamente ilustrado, com um conjunto fotográfico capaz de deixar babando qualquer fã mais entusiasmado, o livro me pegou, sobremaneira, pela riqueza de informações pouco exploradas de passagens muitíssimo curiosas da vida pessoal e artística de Chico Buarque. Um exemplo? A quase sempre questionada relação do compositor de Construção com a Jovem Guarda, movimento que, pela própria distância do rigor estético característico da produção buarquiana, poderia lhe ter sido indiferente. E não foi!
Baseada em jornais da época, Zappa alude à assumida intenção de Chico Buarque de se aproximar de Roberto Carlos a fim de liderar com ele um movimento de união dos diferentes segmentos da música popular brasileira: "Roberto Carlos e Chico Buarque parecem estar juntos, no mesmo time, pela primeira vez. O iê-iê-iê e o samba tradicional concluíram que era gastar energia inútil manter a rivalidade e fizeram as pazes". Numa conversa entre os dois, Chico propôs: "Por que não grava 'Amélia'? Seu sucesso quando canta música de Mário Lago e de Ataulfo é evidente." Roberto gravou o samba-canção e fez muito sucesso, além de convencer aos desafetos, de uma vez por todas, que é de fato um intérprete versátil e seguro.
O mais significativo, no entanto, diz respeito mesmo à militância de Chico Buarque, o que lhe valeu bem mais do que censura aos seu trabalho. O artista foi frequentemente ameaçado pelos militares, e o fac-símile de uma cartão de Natal, endereçado ao compositor, atesta: "[...] O Comando de Caça aos Comunistas deseja a você, ativista da canalha comunista que enxovalha o país, um péssimo Natal e que se realize no ano de 1979 nosso confronto final." Sobre este aspecto do livro, tão rico, escreverei na coluna de sábado. Por enquanto, recomendo o belíssimo trabalho de Regina Zappa.
Olá, Álder!
ResponderExcluirBelíssima crônica, como sempre. O Chico é uma de nossas jóias. Além disso, é um sujeito autêntico, de caráter, que não se rendeu, a meu ver, após a ditadura, ao império dos marinhos para consolidar a sua já consolidada carreira; diferente de outros aí que vivem puxando o saco destes, para venderem suas sardinhas. Espero tão logo degustar esse livro. Abraços!
Ah, me perdoe quando no comentário do seu texto anterior, FUI INFELIZ, TALVEZ, eu questionei “Ócios do ofíco?”, quando deveria ser “Coisas do ofício?”. ― coisas do ofício. (risos)
Sucesso sempre!