Acometido de um tipo de onipotência maniforme, já observada em situações as mais diversas desde o início do seu governo, e não se contentando com as superproduções até aqui levadas a efeito, já concluídas, como é o caso do Centro de Eventos, ou em andamento, a exemplo do famigerado aquário, o governador do Ceará entrega-se, agora, a um novo devaneio: a construção de um mirante nas imediações do Cocó.
Frescuras à parte, seria apenas ridículo não fosse criminosa tanta vaidade, o devaneio vem à tona na mesma semana em que, não se contentando com os assaltos pontuais, que de resto fazem parte da nossa rotina, os bandidos promovem uma verdadeira varredura em inúmeras ruas de Fortaleza, bairros Varjota e Papicu à frente.
O tal mirante, de cujo topo se poderá ver a cidade sitiada a partir de um luxuoso restaurante, em que, por certo, será servido o mais fino escargot, terá a seus pés o pink predominante da iluminação já projetada para o viaduto da Washington Soares, conforme divulgou o próprio governador. Que coisa brega!
No que tange ao aquário, não à toa, pois, é que se comenta aos quatro cantos o incontido entusiasmo do governador ao ouvir, ao vivo e em cores, o cantor Fagner dirigir-lhe um mimo enquanto interpretava, em show recente, a conhecida canção: - "Quem me dera ser um peixe, para mergulhar no teu aquário, fazer loucuras de amor à luz da lua, passar a noite em claro."
Quanto ao mirante, a propósito, é do jovem colunista Henrique Araújo, de O Povo, nesta quinta 10, a mais sublime página até aqui escrita, por cujos méritos sinto-me induzido a reproduzir neste espaço trechos imperdíveis. Vejamos:
"Para que serve um mirante? Para alçar a vista e alcançar lonjuras? Ver a cidade à horizontal, espinhela derreada? Um tapete que alguém estendeu sem se preocupar com as dobras? Patamar sobrelevado donde se enxergam as dunas, mares, verdes, um mirante serve mais ao deleite ou ao orgulho? [...] Um mirante como hipnose social? Um mirante como cinema das moléstias urbanas? Um mirante como projetor ad nauseam de macaquices?"
"[...] Como enamorar-se de prédios que copiam o desenho de caravelas, símbolo de perigo e aventura, quando tudo em derredor aponta para o inverso: segurança, medo e fortaleza? Como enamorar-se de uma ponte que pisca a intervalos mecânicos, definidos segundo uma lógica para qual o deslocamento de veículos importa mais que o bem-estar dos nativos?
Mire e veja: quem realmente precisa alterar-se para enxergar o que parece claro? A cidade necessita de gente ao rés do chão. Nem acima, nem abaixo. No mesmo patamar. Sem se mirar, que ninguém é alvo. Enamorando-se."
Frescuras à parte, seria apenas ridículo não fosse criminosa tanta vaidade, o devaneio vem à tona na mesma semana em que, não se contentando com os assaltos pontuais, que de resto fazem parte da nossa rotina, os bandidos promovem uma verdadeira varredura em inúmeras ruas de Fortaleza, bairros Varjota e Papicu à frente.
O tal mirante, de cujo topo se poderá ver a cidade sitiada a partir de um luxuoso restaurante, em que, por certo, será servido o mais fino escargot, terá a seus pés o pink predominante da iluminação já projetada para o viaduto da Washington Soares, conforme divulgou o próprio governador. Que coisa brega!
No que tange ao aquário, não à toa, pois, é que se comenta aos quatro cantos o incontido entusiasmo do governador ao ouvir, ao vivo e em cores, o cantor Fagner dirigir-lhe um mimo enquanto interpretava, em show recente, a conhecida canção: - "Quem me dera ser um peixe, para mergulhar no teu aquário, fazer loucuras de amor à luz da lua, passar a noite em claro."
Quanto ao mirante, a propósito, é do jovem colunista Henrique Araújo, de O Povo, nesta quinta 10, a mais sublime página até aqui escrita, por cujos méritos sinto-me induzido a reproduzir neste espaço trechos imperdíveis. Vejamos:
"Para que serve um mirante? Para alçar a vista e alcançar lonjuras? Ver a cidade à horizontal, espinhela derreada? Um tapete que alguém estendeu sem se preocupar com as dobras? Patamar sobrelevado donde se enxergam as dunas, mares, verdes, um mirante serve mais ao deleite ou ao orgulho? [...] Um mirante como hipnose social? Um mirante como cinema das moléstias urbanas? Um mirante como projetor ad nauseam de macaquices?"
"[...] Como enamorar-se de prédios que copiam o desenho de caravelas, símbolo de perigo e aventura, quando tudo em derredor aponta para o inverso: segurança, medo e fortaleza? Como enamorar-se de uma ponte que pisca a intervalos mecânicos, definidos segundo uma lógica para qual o deslocamento de veículos importa mais que o bem-estar dos nativos?
Mire e veja: quem realmente precisa alterar-se para enxergar o que parece claro? A cidade necessita de gente ao rés do chão. Nem acima, nem abaixo. No mesmo patamar. Sem se mirar, que ninguém é alvo. Enamorando-se."
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