Semana que passou proferi palestra de inauguração do Espaço L.G. de Miranda Leão sobre o filme Cinema Paradiso, a convite do médico e intelectual Cesar Lincoln, a quem dirigimos o nosso aplauso pela forma como presta ao renomado crítico de cinema cearense esta justa e oportuna homenagem. Refiro-me, não à palestra em foco, claro, mas à construção dessa excepcional alternativa para um conhecido grupo de cinéfilos da cidade, que passa a contar com condições excepcionais para suas rodadas de filmes e debates sobre a sétima arte.
Falei na ocasião sobre interlocuções possíveis entre o filme de Giuseppe Tornatore e o poema A Odisseia, de Homero, valendo-me da Semiótica como perspectiva de análise dos muitos signos homéricos presentes na narrativa da comovente trajetória de Totó, o garoto que protagoniza Cinema Paradiso, nesta que me parece ser a mais bela declaração de amor ao cinema.
É que o filme do cineasta italiano, sugestivamente autobiográfico, para além de "citar" inúmeros filmes do cânone cinematográfico, meio de que se vale Tornatore para louvar alguns dos maiores mitos do cinema mundial (atores inesquecíveis como Chaplin, John Wayne, Jean Gabin, Bardot etc.), intertextualiza elementos dramáticos das desventuras de Ulisses no clássico grego, que, sabemos, constitui uma das mais prodigiosas metáforas do autoconhecimento, da descoberta interior do homem em sua longa e perversa jornada de volta para casa.
Hoje, dentro de uma programação que resulta de uma criteriosa e refinada escolha de títulos do 'grande cinema', o Espaço L.G. de Miranda Leão exibe o não menos metalinguístico (e perfeito do ponto de vista narrativo) Splendor, de Ettore Scola.
O filme, curiosamente, é de 1989, o mesmo ano de Cinema Paradiso, com o qual concorreu em inúmeros festivais, inclusive para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Perdeu, que, embora se trate de uma realização maravilhosa, quer na perspectiva do plano de expressão quer na perspectiva do conteúdo, Cinema Paradiso é mesmo, no gênero do metacinema, como se classificam os filmes sobre cinema, uma obra-prima incomparável.
Pois bem, Splendor narra a trajetória da sala de projeção de mesmo nome, cujas dificuldades operacionais, decorrentes do surgimento da TV como uma concorrente de apelo popular inquestionável, levam o seu proprietário, Jordan, esplendidamente interpretado por Marcello Mastroianni, a fechar suas portas.
Na linha do que ocorre ao Cinema Paradiso, também no filme de Ettore Scola vamos deparar com um tratamento de linguagem refinado e sensível, um desempenho de atores (Massimo Troisi está sublime no papel do projecionista e amigo de Jordan), na textura e paleta de cores, que por vezes dá espaço a um preto e branco coberto de poesia, bem como numa movimentação e câmera e requinte de enquadramento e composição de imagens de tirar o fôlego. Há quem o prefira a Cinema Paradiso, como Wilson Baltazar, uma das nossas autoridades quando o assunto é cinema.
A última sequência de Splendor, quando Jordan assiste à desmontagem do auditório por tantos anos lotado, e agora "vencido" pela ganância do capital (o empresário Lo Fazio, interpretado por Giacomo Piperno, pretende transformá-lo numa indústria de móveis) é um instante divino, pela sensibilidade e força lírica com que Ettore Scola transpõe para a tela o seu amor pela Arte. Coincidências à parte, são ambos imperdíveis!
Falei na ocasião sobre interlocuções possíveis entre o filme de Giuseppe Tornatore e o poema A Odisseia, de Homero, valendo-me da Semiótica como perspectiva de análise dos muitos signos homéricos presentes na narrativa da comovente trajetória de Totó, o garoto que protagoniza Cinema Paradiso, nesta que me parece ser a mais bela declaração de amor ao cinema.
É que o filme do cineasta italiano, sugestivamente autobiográfico, para além de "citar" inúmeros filmes do cânone cinematográfico, meio de que se vale Tornatore para louvar alguns dos maiores mitos do cinema mundial (atores inesquecíveis como Chaplin, John Wayne, Jean Gabin, Bardot etc.), intertextualiza elementos dramáticos das desventuras de Ulisses no clássico grego, que, sabemos, constitui uma das mais prodigiosas metáforas do autoconhecimento, da descoberta interior do homem em sua longa e perversa jornada de volta para casa.
Hoje, dentro de uma programação que resulta de uma criteriosa e refinada escolha de títulos do 'grande cinema', o Espaço L.G. de Miranda Leão exibe o não menos metalinguístico (e perfeito do ponto de vista narrativo) Splendor, de Ettore Scola.
O filme, curiosamente, é de 1989, o mesmo ano de Cinema Paradiso, com o qual concorreu em inúmeros festivais, inclusive para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Perdeu, que, embora se trate de uma realização maravilhosa, quer na perspectiva do plano de expressão quer na perspectiva do conteúdo, Cinema Paradiso é mesmo, no gênero do metacinema, como se classificam os filmes sobre cinema, uma obra-prima incomparável.
Pois bem, Splendor narra a trajetória da sala de projeção de mesmo nome, cujas dificuldades operacionais, decorrentes do surgimento da TV como uma concorrente de apelo popular inquestionável, levam o seu proprietário, Jordan, esplendidamente interpretado por Marcello Mastroianni, a fechar suas portas.
Na linha do que ocorre ao Cinema Paradiso, também no filme de Ettore Scola vamos deparar com um tratamento de linguagem refinado e sensível, um desempenho de atores (Massimo Troisi está sublime no papel do projecionista e amigo de Jordan), na textura e paleta de cores, que por vezes dá espaço a um preto e branco coberto de poesia, bem como numa movimentação e câmera e requinte de enquadramento e composição de imagens de tirar o fôlego. Há quem o prefira a Cinema Paradiso, como Wilson Baltazar, uma das nossas autoridades quando o assunto é cinema.
A última sequência de Splendor, quando Jordan assiste à desmontagem do auditório por tantos anos lotado, e agora "vencido" pela ganância do capital (o empresário Lo Fazio, interpretado por Giacomo Piperno, pretende transformá-lo numa indústria de móveis) é um instante divino, pela sensibilidade e força lírica com que Ettore Scola transpõe para a tela o seu amor pela Arte. Coincidências à parte, são ambos imperdíveis!
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