O Ceará mais uma vez desponta no circuito da grande arte. Depois da excelente exposição Edson Queiroz de Artes Plásticas, objeto de comentários neste espaço, a novidade não é menos relevante para a cultura cearense. Agora, noutra linguagem, a fotografia, com a inauguração, há coisa de um mês, do Museu da Fotografia de Fortaleza, uma iniciativa louvável dos colecionadores Paula e Silvio Frota.
Localizado à rua Frederico Borges, 545, na Varjota, trata-se de um dos mais importantes espaços do país dedicados integralmente à fotografia. A mostra reúne algumas das obras fotográficas mais famosas do mundo, a exemplo da antológica Mãe emigrante, 1936, da americana de origem alemã Dorothea Lange (1895 - 1965), que retrata a camponesa Florence Thompson, na Califórnia, cuja expressão, ladeada pelos rostos escondidos dos filhos, revelam toda a dramática crise dos Estados Unidos nos anos 1930.
Como destacou Fabio Cypriano, jornalista da Folha de S. Paulo, que veio recentemente a Fortaleza para cobrir a inauguração do museu, a iniciativa de Paula e Silvio Frota, na linha do que fez o empresário Edson Queiroz, mais merece o nosso reconhecimento por se tratar de um empreendimento levado a efeito com fundos privados, na contramão do que, grosso modo, ocorre comumente no Brasil desde sempre.
Segundo Silvio Frota, o sonho de tornar público o seu valiosíssimo acervo surgiu há pelo menos uma década, quando da aquisição da primeira fotografia de fama internacional. Refere-se à foto Menina Afegã, do também americano Steve McCurry, consagrado fotojornalista da agência Magnum.
O Museu da Fotografia de Fortaleza ocupa três andares de um antigo prédio totalmente reformado para receber o precioso acervo dos colecionadores cearenses. O projeto, do arquiteto Marcus Novais, notabiliza-se pelo arrojo, qualidade estética e funcionalidade, estendendo-se por uma área de 2.500 m2. Dois andares destinam-se a exposições permanentes e um para mostras temporárias.
Nas mostras permanentes, Um Imaginário de Cidades e Jogos de Olhares, o visitante depara-se com fotografias, como disse, antológicas. Até há pouco inacessíveis, ali estão nomes célebres, como o francês Henri Cartier-Bresson, o húngaro Robert Capa e o peruano Martín Chambi. Mas estão presentes os grandes fotógrafos brasileiros ou que aqui produzem o que existe de mais relevante na sua produção: Claudia Andujar, Miguel Rio Branco, Rosângela Rennó, Mario Cravo Neto e Gabriel Chaim.
Há ainda, no conjunto da exposição temporária, intitulada O Norte e o Nordeste, fotógrafos da estatura de Marcel Gautheror, José Medeiros, Pierre Verger e o nosso Chico Albuquerque, com a conhecida série É Tudo Verdade, uma narrativa imagética das filmagens de It`s All True (1942), de Orson Welles. Sem esquecer o trabalho "surrealista" de Man Ray e Fernando Lemos, ou fotojornalístico, como é o caso de Juca Martins.
Se a humanidade permanece, de alguma forma, na Caverna de Platão, reinventando-se em seu regozijo ancestral, como afirma Susan Sontag, em livro absolutamente indispensável "sobre a fotografia", o Ceará projeta-se Brasil afora como um dos centros de maior importância nessa linguagem a um tempo fascinante e banalizada, mas sem a qual é impensável a vida presente. Com todos os méritos, Paulo e Silvio Frota prestam um grande serviço ao Ceará.
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