sexta-feira, 20 de novembro de 2020

PT lidera em returnos

Foi morta pelo poder/que queria silenciar/a sua voz de denúncia/e a extrema rebeldia/com palavras de luar (Maria Teresa Horta, sobre Marielli)

Às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado hoje como forma de desconstruir o mito da benevolência de uma princesa branca contra o racismo, o Brasil dá mais uma incontrastável prova de viver um tempo de horrores no que diz respeito à questão racial.

Primeira negra eleita na cidade de Joinville, a professora Ana Lúcia Martins, do PT, vem sendo alvo de ameaças assumidamente fascistas, coisa de resto já esperada num país que tem como presidente Jair Bolsonaro.

Mal saído o resultado das urnas, na segunda-feira 16, acumulavam-se mensagens no Twitter que indicam correr Ana Lúcia os mesmos riscos que culminaram com o assassinato da vereadora Marielli Franco, no Rio de Janeiro, há pouco mais de dois anos.

As mensagens, segundo depoimento da advogada Andreia Indalencio Rochi, à Folha, "falam que precisam matá-la para um suplente branco assumir, que fascistas mandam e que ela precisa se cuidar". Com Marielli, sabe-se, em inícios do seu mandato como vereadora do Rio de Janeiro, ocorreu exatamente isso. Até que se cumprisse o que diziam essas ameaças, num crime hediondo que, mesmo não esclarecido em sua totalidade, tem evidências apontadas para um endereço bastante conhecido do Rio de Janeiro.

A poucos dias do segundo turno das eleições para prefeito em 57 cidades com mais de 200 mil habitantes, nas quais 28 candidatos pertencem a partidos de esquerda ou identificados a ela, pode-se perceber que está em jogo muito mais que o destino administrativo de cidades. Das urnas, a 29 deste mês, sairá uma forma de pensar o país, o Estado de Direito e a democracia.

A professora negra Ana Lúcia, eleita vereadora em Joinville, é do PT, legenda que dobrou a sua participação no segundo turno em relação a última eleição para prefeito  ---  e participa do processo, este ano, com o maior número de candidatos.

Não é pouco, diga-se por fim, para um partido que as vozes do fascismo no Brasil afirmam ter degringolado.

 

 

 

Um comentário:

  1. Caro amigo, acrescente-se a sua crônica o brutal assassinato de um negro nas dependências do Carrefour, em Porto Alegre, corroborando com suas observações, e preocupações com as quais sou solidário. Até quando haveremos de permitir tamanho aviltamento da dignidade humana, chegando ao cúmulo desses desfechos fatais? Como crer num País onde a maioria diz professar algum credo, nenos o da humanidade, da fraternidade sem interesses outros? Há tempos, com outro viés, diziam Assim Caminha a Humanidade. Não desejo que essa nossa caminhe do jeito que estão conduzindo.

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