sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A nau perdida

"É a nau perdida/Trem que chega/A nova dança/Mata verde, esperança/Em suas tranças vou voar", diz a bela poesia de Geraldo Azevedo.

Num país em que se  faz júri para julgar a vítima em vez do criminoso, cria-se o "estupro culposo" para isentar a figura do estuprador e mulheres (infelizmente muitas!) saem em defesa do machismo, falta muito pouco para se eleger Tim Maia como nosso maior filósofo. É só recordar a afirmação a ele atribuída: --- "O Brasil é o único país onde prostituta tem orgasmo, cafetão tem ciúme, traficante é viciado e pobre é de direita". Incorreção política à parte, é algo hilário o que se vê hoje sobre o país.

A propósito, por curiosidade, vasculho mensagens na internet que "analisam" as eleições americanas e deparo com coisas impagáveis de um e outro lado, isto é, de "torcedores" de Donald Trump ou Joe Biden, reflexo em grande parte da polarização que tomou conta do país nos últimos anos. E a mesma a "sensatez", claro: "Ganhamos", é como começa sua mensagem um entusiasta brasileiro do partido republicano, quase como a dizer que obteve informações de dentro da Casa Branca. Nada que se compare, no entanto, ao que afirma um deputado federal cearense sobre o atual presidente americano candidato à reeleição: "Trump é um defensor das liberdades e dos pobres e negros, o melhor presidente americano desde Ronald Reagan".

Um outro, desfiando reflexões dignas de um especialista, chama a atenção para o fato de que uma vitória de Joe Biden "é um risco para o Brasil, porque fortalece o PT". E por aí vai a enxurrada de loucuras sobre a eleição para presidente dos Estados Unidos e em que dimensão isso nos diz respeito. Tom Jobim estava com a razão: "O Brasil não é para amadores".

E assim, sem rumo certo, vamos nós, nesta nau dos insensatos, tristes diabos à procura da sobrevivência política em meio a um mar revolto.

Haveremos de deparar, por milagre ou sem ele, com o coqueiro da ilha sob cuja sombra aguardaremos a chegada do salvador.

 

 

 

 

 

 

2 comentários:

  1. A linha que embasa seu raciocínio no texto foi bem escolhida. Serviu-se de Geraldo, Tim Maia ( pela ironia) e Tom pela apreensão perfeita do País. Daí, surge o texto montado nessa ridícula polarização que amedronta o mundo. Ontem, vimos um atentado contra o Presidente eleito da Bolívia, de que me sirvo para completar, humildemente, seu raciocínio.

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  2. Alguém já disse antes que "a estupidez humana, ao contrário da inteligência, é infinita." É o que estamos constatando messe cenário sombrio pelo qual passamos.

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