Para um ex-professor, quero crer que para todos aqueles que, como eu, dependuraram as chuteiras, pelo menos em termos do que convencionalmente se compreende por atividade docente, nada é mais prazeroso que ouvir daqueles a quem dedicou o seu trabalho em sala de aula, declarações que o façam concluir não ter sido vã a sua tarefa.
Esta semana, não sei por que razão efetiva, tenho recebido de ex-alunos e ex-alunas um sem-número de manifestações de público carinho e gratidão pelo que lhes teria feito ao longo dos mais de 35 anos lecionando no ensino médio e na universidade. Lecionando Arte, faço questão de frisar: literatura e disciplinas afins, artes cênicas, artes visuais e estética do cinema.
Digo isso pelo fato de que, também na universidade, houve um tempo em que ministrei cadeiras curriculares do curso de educação, filosofia da arte e sociologia da educação, por exemplo.
Dessas, mesmo tendo guardado lembranças do que de alguma forma terá contribuído para a minha evolução como professor, resta muito pouco. É do professor de arte que se recordam em sua grande maioria os que, agora, para além do merecimento, elogiam o profissional que fui, e a quem dedicam esse apreço que tomo a iniciativa de revelar na coluna de hoje. Não o faço por vaidade, acreditem, mas por querer tornar público que o reconhecimento ao trabalho de um professor é o que de mais significativo pode existir, não fechando os olhos para a necessidade de que esse reconhecimento se traduza, também, em melhores condições de trabalho e em salários dignos.
A propósito, uma ex-aluna escreveu-me sobre o impacto que lhe teria causado (e influência, diz ela) os momentos em que levei para a interpretação da obra elementos originários de outras ciências, a exemplo da filosofia, do estruturalismo e, sobretudo, diz ela, da psicanálise: "A sua leitura de Lygia Clark a partir de Freud, professor, fez-me penetrar a natureza de sua criação artística. Obrigada por isso, A.!"
Li o que me escreveu a ex-aluna e, agradecido, ocorreu-me lembrar que deixara passar em brancas nuvens, neste espaço, o aniversário de 100 anos da artista mineira, cuja importância para a arte conceitual do Brasil e do mundo é imensa, respondendo, na mesma medida de um Hélio Oiticica (ou mais!), pela descoberta da 'não representação' e da desmistificação da arte, o que significa dizer: da inserção do espectador no que se convencionou chamar de experiência estética.
Por limitações de espaço, no entanto, voltarei a Lygia Clark na semana que vem.
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