"Pegaram o Lula com a Lava Jato, foi selvagem, uma história suja".
A afirmação acima não é minha e nem de nenhum entusiasta do PT. Foi feita por um americano de 74 anos, em Cannes, onde acontece há duas semanas o mais prestigiado festival de cinema do mundo.
Trata-se do cineasta Oliver Stone, nascido em 1946 na cidade de Nova York, formado pela Universidade de Yale, diretor e roteirista de mais de 25 longas-metragens (e de premiados documentários) e ganhador de dois Oscar de Melhor Diretor, por Platoon (1986) e Nascido em 4 de julho (1989), além de um Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por O Expresso da meia noite (1978).
A declaração de Oliver Stone, pois, insere-se num contexto em que o presidente Lula vem obtendo seguidas vitórias junto ao STF e provas mais que convincentes indicam a parcialidade de Sergio Moro em todos os processos que envolviam o ex-presidente. Não é muito lembrar que, no auge da operação de Curitiba, eram recorrentes as viagens de Moro aos Estados Unidos, como a prestar contas dos seus criminosos serviços a fim de tirar Lula do processo sucessório de 2018 e limpar o caminho para a eleição de um candidato de extrema-direita em tudo alinhado ao projeto norte-americano de destruição das lideranças latino-americanas de esquerda.
"A mentalidade no Ocidente agora é completamente anti-Rússia, anti-China, anti-Irã, anti-Cuba, anti-Venezuela. Não se pode falar nada de bom sobre eles. No Brasil, Lula foi para a prisão, eles se livraram do Lula. Eles policiam o mundo", disse o diretor.
Oliver Stone, por sinal, dedica-se à realização de um documentário sobre Lula. Para ele, existem fatos que apontam com clareza para o que houve no Brasil em 2018, esquema perverso de perseguição ao ex-presidente em que estiveram envolvidos mídia, grandes grupos empresarias e instâncias de poder no país e nos Estados Unidos.
Quanto ao que vem ocorrendo no Brasil nesses últimos dias, desde as complicações da saúde do presidente Jair Bolsonaro, à parte o desejo deste colunista no sentido de que se recupere e venha a reunir condições físicas de pagar por seus crimes, a concluir pelo que indicam as apurações da CPI da Covid-19, é de provocar náusea a exploração política que os bolsominions vêm fazendo do caso.
Como observa em sua coluna de hoje na Folha o jornalista Reinaldo Azevedo, "a foto do herói moribundo, mas com ar beatífico, como triunfo do martírio, é uma cola plástica do 'Cristo Morto' de Mantegna".
Com a agudeza intelectual e o senso de humor que atravessam invariavelmente os seus textos, Azevedo faz referência a uma têmpera sobre tela (68x81 cm) do pintor italiano Andrea Mantegna tendo como assunto o Cristo morto.
Em perspectiva que resulta profundamente sedutora, como a projetar na imagem a grandiosidade do homem ungido à condição de mártir, a obra intitula-se Lamentação sobre o Cristo Morto, pintada entre 1475 e 1478, e constitui uma das peças mais aclamadas da Renascença Italiana.
Contemplei-a, há muitos anos, na Pinacoteca de Brera, em Milão, mas ainda guardo o impacto que me causaram os procedimentos formais da obra: o enquadramento e a angulação sobretudo, algo como um perspectivismo ilusório que redimensiona o corpo inerte do Cristo, que a um só tempo assusta e fascina.
A confirmar a arguta percepção de Reinaldo Azevedo sobre as motivações de divulgar-se a foto do presidente em condições tão deprimentes, no quadro de Mantegna aparecem outras figuras: a Virgem Maria e São João, num tipo de lamentação silenciosa e terna, além de uma terceira que supostamente identifica-se como Maria Madalena.
Na foto do presidente enfermo, destaca-se o crucifixo de Dom Fernando José Monteiro Guimarães ladeado por outras pessoas "a abençoar o Mito", como bem observa o jornalista.
A criação genial de Mantegna ressalta sua aguçada percepção das dicotomias de um espetáculo em que a morte já anuncia a ressuscitação, a vitória do espírito sobre o corpo, simbolizando a dubiedade humana e divina da figura retratada.
O fotógrafo da presidência, como o pintor mantuano, teve a perfeita compreensão do objetivo perseguido, prestando-se, com sua arte, a enaltecer o sofrimento e a resignação de um Mito.
A que ponto chegamos.
Perplexo, começo pelo seu "A que ponto cheganos". Sem querer ferir idiossincrasiaa de quem lê sua sempre escorreita coluna, sempre abominei o uso da religião como meio de conquistar Poder. É iludir muito os que creem. Embora não professabdo fé alguma, não discrimino quem assim o faz, mas nos seus terrenos próprios. O arco traçado na sua crônica diz muito bem o que essa prática provoca: de um lado a compulsão imperialista americano, demonizando lideranças da Esquerda, do outro a exacerbação da fé, onde entram ícones religiosos, no caso crucifixo e a lembrança do quadro de Mantegna. Oliver nos traz à luz, pelo menos, o debate do tema e como se tecen os golpee contra as lideranças alhures citadas.
ResponderExcluirCorreções: idiossincrasias...professando..americana...tecem ( a digitação nos trai ).
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