quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

A semana em cinco toques

No momento em que sento diante do computador para escrever a coluna de hoje, vejo, à distância, na tevê, a notícia da morte do ator Gene Hackman, estrela de "Operação França" (1971) e "Os Imperdoáveis" (1992), vencedor de duas estatuetas do Oscar, e um dos atores mais emblemáticos de Hollywood. Eugene Allen Hackman fez 95 anos no último dia 30, e foi encontrado morto ao lado da mulher, a pianista Betsy Arakawa, de 64 anos. Hackman atuou em mais de 80 filmes, além de trabalhos no teatro e na televisão. Dele, além das interpretações irretocáveis nos filmes aqui citados, guardo a imagem marcante na pele de Beatty, irmão do ladrão de bancos Clyde Barrow, no filme "Bonnie e Clayde: Uma Rajada de Balas" (1968), o clássico de Arthur Penn (1968). Mas em nenhuma de suas brilhantes atuações, quero crer, esteve tão bem, tão maravilhosamente bem quanto no papel de Jimmy Popeye Doyle, o atabalhoado detetive de "Operação França", sob a irrepreensível direção de William Friedkin. Até a escritura deste texto, são desconhecidas as circunstâncias da morte do casal. Lamentável.
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Entre livros, durante visita de costume à Livraria Leitura, do Rio Mar, deparo com o escritor e queridíssimo amigo Dimas Macedo. Damo-nos a conversar sobre a obra de ninguém menos, que Marguerite Duras, a que Dimas, leitor contumaz e profundamente exigente, dedica-se com a sensibilidade do poeta e a racionalidade do historiador. Fala-me de livro de poemas de sua autoria a sair até meados deste ano, sob a cuidadosa editoria de Clauder Arcanjo. Despedimo-nos com afetuoso abraço e a certeza feliz de que nos encontraremos durante o Carnaval. Com Dimas Macedo, à maneira de Horácio, aprendemos e nos divertimos, grande intelectual e artista também imenso que é.
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De Edmilson Caminha, com a inconfundível marca de sua singular elegância, vem-me a mensagem em que comenta coluna recente deste escriba a propósito do jornalista Joel Silveira. Escritor de múltiplas vertentes, Caminha discorre sobre vida e obra do jornalista e ficcionista alagoano com intimidade e fina capacidade de compreensão, deslindando suas instabilidades de humor e a contraditória personalidade de Joel Silveira --- como se sabe, detentor de irascível temperamento e extraordinário poder de sedução. De bandeja, manda-me, ainda, vazado no estilo que encanta a todo leitor, artigo primoroso sobre o autor de "A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista", livro em que Joel emprega, pioneiramente, recursos próprios do que se define como jornalismo literário.
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Escrita com a habilidade de um mestre, no plano da forma e do conteúdo, do Rio de Janeiro recebo correspondência virtual do editor, poeta, novelista e cronista de corte minimalista Clauder Arcanjo. Com a habitual maneira de se expressar através da escrita, que fazem dele um escritor de escol, Arcanjo comenta a realidade do país hoje, suas contradições sociais e políticas, mas invariavelmente tecendo suas reflexões com o escorreito da linguagem, a sabedoria filosófica de um mestre e a beleza marcante do estilo. Da vasta correspondência que vimos mantendo há muito, haverá de sair, a seu tempo, produzido a quatro mãos, o livro com que Clauder Arcanjo e eu temos trocado por e-mail, à maneira das velhas cartas, nossas ideias e percepções de mundo, nosso indomável amor pela literatura e pelas outras artes. Tudo, como manda o figurino do bom missivista, com a leveza do linguajar e a informalidade no plano da expressão. No prelo, brevemente.
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De mal a pior, em termos de popularidade, o governo Lula 3 há que enfrentar até 2026, a desfaçatez do pior jornalismo dos últimos tempos no Brasil, quer do ponto de vista ético quer do ponto de vista de sua formatação, bem na linha do que fazem os grandes jornais, Folha de São Paulo à frente, e os principais canais de TV. Para esses profissionais, que batem exaustivamente no presidente, pouco importa que o país alcance bom nível de crescimento, empregabilidade formal sem precedentes e implementação de programas sociais que se destinem a minorar o descalabro de nossas contradições e perversa desigualdade. Sem esquecer, por óbvio, a mais deplorável composição congressual, gente afeita a privilégios, roubalheira e negociatas inconfessáveis. Tudo sob a manto sujo do embuste, da manipulação de números e esquisitices outras. Em tempo, atente-se para a manchete do nosso mais importante jornalão, há pouco: "País cria 137,3 mil empregos com carteira assinada em janeiro". O país. Que pouca vergonha.

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