"A ignorância está na origem das superstições e de todos os outros males da humanidade". Disse-nos Epicuro (341-270 a.C.).
Por WhatsApp, recebo de leitor uma mensagem curiosa: "Leio com profundo interesse seus textos. São bem escritos e exploram temas que despertam a vontade de lê-los com prazer e atenção". Mensagem elegante e elogiosa, como se vê, não fosse o MAS que causa desconforto a qualquer escritor: "... gostaria de saber por que deixou as questões políticas de lado? É mais cômodo?" A mensagem subliminar é clara: "O que está por trás de sua omissão?" (palavras minhas). Necessário esclarecer ou não, faço-o imbuído dos melhores propósitos, sobretudo em respeito ao referido leitor. Vamos lá.
Ao optar por dar ênfase à questão cultural, proporcionando aos leitores minha humilde contribuição no sentido de despertar e/ou fomentar o interesse pelas artes em suas diferentes linguagens --- cinema, teatro, música e, em especial, a literatura ---, não estou incorrendo em qualquer tipo de omissão, uma vez que são evidentes as minhas posições políticas e ideológicas, mesmo quando me dedico a falar daquilo que, aos olhos de muitos, parece não ter um interesse "prático" ou exercer o que, na falta de melhor expressão, poderia definir aqui como "função social". A Arte, por exemplo.
Querido leitor. Desarmado e inconscientemente omisso (indiferente, digo melhor!), é aquele que ignora a importância da cultura, que desconhece o passado da civilização em que vive, que não tem uma postura crítica do presente, que não vê que a Arte, não sendo o único instrumento de politização das pessoas, é por certo o mais eficiente, pois que seu poder didático é que justifica, para ficar num exemplo, o que fez Paulo Freire em Angicos, associando a seu método de alfabetização elementos da cultura popular nordestina, o teatro, a dança, os folguedos populares e suas manifestações estéticas.
É a falta de cultura de grande parte da população, a que se soma o oportunismo de setores perversos de nossa elite econômica e social, que quase levou o país ao desastre, e que ainda ameaça de forma preocupante a sua soberania, os valores do Estado Democrático de Direito, as liberdades essenciais de nosso povo.
É a falta de cultura que faz com que tantos brasileiros não pensem com sua própria cabeça, que se submetam ao fanatismo religioso mais delirante, que elejam falsos messias e políticos que se vendem como salvadores da Pátria, "mitos" de barro, ancorados em mentiras e desfaçatez.
Brecht estava certo: "Infeliz de um povo que precisa de heróis". É olhar para o passado e ver o que fez Hitler, na Alemanha; o que fez Stalin, na Rússia; o que fez Mussolini, na Itália; o que, nos dias de hoje, faz Trump nos Estados Unidos --- e quer fazer no mundo.
É a falta de cultura, de escolas, de acesso facilitado ao teatro, ao cinema, aos espetáculos artísticos em grande escala, a inexistência de bibliotecas e do hábito de ler, o que leva multidões às praças para pedir a volta da ditadura, e pessoas a bater continências para pneus e entrar em transe diante de Malafaia e outros "malas", filhotes ignaros do fascismo mal disfarçado e mais asqueroso.
Querido leitor. Não existe meio mais eficaz, para que um povo descubra a sua real identidade, que valorizar a cultura, o patrimônio intelectual e artístico de seu país e do mundo, agora muito mais, quando as fronteiras se diluem e a globalização, com as mais desencontradas implicações, é viagem sem volta.
Por isso mesmo, concluo, é que tenho tentado destinar a ex-alunos, professores, e a todos os interessados por cultura, minhas crônicas semanais, despertando-lhes a curiosidade e o desejo de conhecer melhor o que dizem os filmes, os livros, os espetáculos do teatro e da música, a vivenciar a experiência e a emoção estética, a contemplar o belo que "haverá de salvar o mundo".
De uma vez por todas, entenda, a cultura é a mais poderosa e a mais eficaz das armas políticas.
*O título ecoa composição clássica de Geraldo Vandré.
Excelente, caro amigo. Simples assim! 👏👏👏👏
ResponderExcluirSem espaço para contestações: Cultura é a identidade de um povo.
ResponderExcluirSimplesmente antológico , mestre Álder.
ResponderExcluirTexto fabuloso. Feito para ser replicado.
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