quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Cinismo e rebolado

Em termos de cinismo, matéria em que o Brasil vai confirmando ser inelutável, pelo menos em termos políticos, nada que se possa comparar à declaração do futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, acerca do envolvimento em práticas de caixa dois do futuro Chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni: --- "Ele já reconheceu o erro e se desculpou. O assunto é página virada."

O pior é que o argumento, em que pese caracterizar o mais deslavado cabotinismo, vai ocupando espaço no discurso "oficial" como um lugar-comum. Está no Estadão de hoje: "Valor "irrisório" isenta Bolsonaro em caso de assessor, diz general Heleno". Trata-se do general da reserva e futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do próximo governo, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, minimizando a baita repercussão que vem ganhando o relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre as transferências de recursos a assessores e ex-assessores de deputados no Rio de Janeiro, entre eles o deputado e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), um dos "garotos" do presidente da República eleito.

No caso de Flávio Bolsonaro, o tal assessor é o ex-motorista do parlamentar, Fabrício de Queiroz, cujo nome aparece em movimentações financeiras irregulares na ordem de R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017, incluindo-se no montante o "irrisório" cheque de R$ 24 mil pago à futura primeira-dama, Michele Bolsonaro. Sobre o malfeito, bem na linha das falas citadas acima, é hilária a afirmação do próprio presidente eleito: --- "Dói no coração? Dói.", como a reconhecer o descompasso entre o discurso moralista que professou em campanha e o que se vê nem mesmo tem início o seu governo. A afirmação consta de uma transmissão ao vivo de Jair Bolsonaro através do Facebook.

Como a balizar o cinismo a que me refiro, em sendo procedente o que apontam os números da primeira pesquisa sobre o próximo presidente, cravados 75% de aprovação às medidas até aqui adotadas (indicação de ministros, extinção de ministérios, redistribuição de poderes e criação de novas pastas), os brasileiros, em sua expressiva maioria, estão satisfeitos com o que se anuncia. Pelo menos na perspectiva dos donos do dinheiro, é óbvio, os números apenas dão suporte ao que se materializa como a mais vergonhosa realidade: Garantindo os meus privilégios e fazendo crescer o meu império financeiro, "foda-se!".

O triste é saber da outra face dessa realidade: Desemprego crescente, queda do poder aquisitivo dos mais pobres, saúde e educação no rumo do desastre etc. Sem esquecer, claro, aquela fatia do eleitorado que rebolava nas praças Brasil afora, lembra?, conhecendo de política o que cão conhece de Igreja: nada! Essa vai comer o pão que o diabo amassou.

Essa gente morre e não aprende. Lembram dos adesivos "Não tenho culpa, votei no Aécio"? Pois é, o mineirinho está de volta às manchetes de jornais. Dessa vez, segundo a Polícia Federal (PF), o senador e deputado eleito é suspeito de ter arrebanhado ilegalmente R$ 128 milhões do grupo J&F, dinheiro sujo com que comprou o apoio de partidos políticos em 2014. Aécio Neves, o mesmo cujas palavras ocupavam os mais prestigiados espaços do jornalismo brasileiro para acusar Dilma Rousseff e o PT. Sem meias-palavras: Nesta terça 12, agentes da Polícia Federal reviraram apartamentos de Aécio Neves, no Rio e em Minas, em busca de documentos que confirmem o que, para ela, é quase um fato: Aécio terá recebido R$ 128 milhões da JBS para tentar garantir a sua eleição como presidente em 2014. Rebola Brasil!

 

   

 

   


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sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Essa mulher imensa

Preconceito inconsciente (ou não!), leva as pessoas a afirmar que por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher. Ocorre-me pensar nisso mal me chega a triste notícia da morte de Teonila Araújo, quando, o coração em prantos, passo em revista a convivência de muitos anos que tive o prazer de travar com essa família admirável que construiu ao lado do marido, Raimundo Felipe. Ao lado, rigorosamente ao lado!

Aliás, é tarefa difícil trazer à memória, agora que nos deixa, a figura de um sem o outro.

Teonila e  Raimundo Felipe eram, se diz tanto isso, como carne e osso, indissociáveis em sua beleza enquanto casal. Beleza e dignidade; beleza e elegância no sentido mais essencial da palavra. Beleza e generosidade em forma de gente, e simplicidade, e bondade humana, e todos os bons substantivos que se possa dizer sobre pessoas como foram, juntos, numa vida longa e saudável que souberam, exemplarmente bem, dividir como um casal. E ser exemplo.

Tive, como disse, o privilégio de conviver estreitamente com a família de Teonila e Raimundo Felipe. De ter, por isso, como amigos e como irmãos, pelo sem-fim dos tempos, gente da qualidade humana de Ana, Tadeu, Miguel, Tereza, Rejane, Dione e Júnior.

E quando me refiro à qualidade humana desses irmãos, que é mesmo a opinião unânime daqueles que os conhecem de perto, faço-o para evidenciar que está nisso o resultado do trabalho de pais-educadores que foram à perfeição. Teonila, então... Que firmeza de caráter possuía essa mulher, que retidão de princípios, que serenidade era capaz de demonstrar nas horas mais difíceis, que leveza de espírito sabia expressar, que doçura vinha do seu coração para festejar a alegria da paz e do amor entre familiares e amigos ao final de cada ano.

Fui, permitam-me ser redundante, de dentro da casa de Teonila. Guardo dessa convivência lembranças tão boas e tão marcantes, que não encontro, profissional da palavra, força de linguagem que possa dizer com exatidão o que quero, o que gostaria, o que tinha por obrigação dizer... Que Teonila me perdoe por isso.  

Fico, insisto, muitíssimo triste por saber que nunca mais os verei de novo, ali naquela calçada, em suas cadeiras de balanço, esperando, como rei e rainha, a noite chegar. A paz dos bons e dos justos.

Que Deus dê a Raimundo Felipe, na dignidade dos seus mais de noventa anos, a força de que vai precisar para suportar a saudade, a ausência de Teonila, essa mulher "imensa" que acabou de partir.  

 

 


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