sexta-feira, 20 de junho de 2014

O êxito e o sonho improvável

Eis que chegamos à segunda semana de Copa do Mundo e as minhas previsões, materializadas na coluna de sábado, vão se confirmando. Diferentemente do que anteviam o negativismo e a desfaçatez de setores da nossa 'melhor' imprensa, desconsiderados pequenos incidentes, de resto aceitáveis num evento de tamanha grandeza, o Brasil vem dando provas inequívocas de sua maturidade política, da sua irrefreável vocação para festejar a vida e receber como poucos povos do mundo são capazes de fazer.
 
A nota contrária, como afirmara, para a insatisfação de uns poucos, é que a nossa seleção, passos largos, vai fazendo cair a ficha dos nacionalistas de ocasião, contando com uma vitória pouco convincente contra a Croácia (para a qual terá pesado um pênalti incorretamente assinalado a seu favor) e um empate tão amarelo quanto a cor de sua camisa no jogo contra o México. Nada que se contraponha, é óbvio, entre a realidade e o sonho, contemos com uma goleada no jogo de segunda-feira, contra Camarões.
 
Mas, como não me permito julgamentos sem embasamento de análise, vou tentar ser claro. O time de Felipão, guardadas as qualidades, entre os onze titulares, de um ou dois jogadores acima da média, refiro-me a David Luiz e Neymar, a que se pode somar, talvez, a regularidade do capitão Thiago Silva, sempre firme no desarme e ousado nas subidas às vezes arriscadas, é bem inferior a outras seleções que tenho visto jogar, a Alemanha, por certo.
 
Não é preciso ser nenhum especialista em futebol, mas apenas um espectador atento, para constatar as fragilidades da canarinho: é abissal a distância que separa defesa e ataque, setor do campo em que se processam, já faz uns trinta anos no mínimo, as jogadas decisivas do futebol moderno, na linha do que fazem a própria Alemanha e a Holanda, outra grande candidata ao título, segundo posso ver. Digo isso e prevejo beicinhos de quem insiste em considerar Oscar, Paulinho e companhia jogadores extraordinários. Não são.
 
Ouso afirmar: temos nesta Copa do Mundo a mais débil das seleções em condições de disputar a 'taça', a mais medíocre (no sentido etimológico da palavra) das formações levadas a efeito desde 2010, quando fomos desclassificados pela Holanda naquela tarde infame na África do Sul. Exagero? Não, mas consciência de que nos falta muito para justificar qualquer otimismo já nas oitavas de final, quando teremos pela frente adversários tradicionais.
 
O time, que, como disse, apresenta visíveis limitações em valores individuais, é muito pior em termos coletivos. Não sabe recompor suas alternativas táticas (não há um esquema sólido) quando recupera a bola no setor defensivo, claudica nos contra-ataques, notadamente quando perde tempo com jogadas individuais de Neymar na intermediária, o que possibilita ao adversário se reestruturar defensivamente, e não tem criatividade nas proximidades da área adversária. Resta, desse modo, a expectativa de um lampejo de Neymar ou Fred, cujas qualidades técnicas são infinitamente menores que as do atacante do Barcelona.
 
Enfim, haverá de perguntar o leitor, não vai dar para ganhar a Copa? Sim, mas sem o brilhantismo de outrora, um feijão com arroz que mais irritará o torcedor que o levará ao delírio. Os times estão, hoje, muito mais nivelados, a exemplo do que posso ver, mesmo na sala onde escrevo esta coluna, na tevê: Costa Rica põe a Itália na roda e está a poucos minutos do final. Depois da Espanha, é a Inglaterra que fará suas malas. O resultado, assim, indica aquele que deverá ser o melhor jogo da competição: Itália e Uruguai. Pedreira. Mas, dizia eu há pouco, confirma-se o que sempre achei ser possível: o Brasil realiza uma Copa do Mundo que ficará na História. Positivamente, é bom lembrar.
 
 
 
 
 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Terá Copa

Escrevo esta coluna às vésperas da estreia do Brasil na Copa do Mundo de 2014. Faço-o por cobrança da editoria do jornal, que fixou a data de hoje, 11 de junho, para fechar a edição da semana. Por razões óbvias, corro o risco de ver publicadas, na versão impressa, aberrações bastantes para fazer enrubescer qualquer cidadão medianamente exigente. Nada, não. Vou adiante. Coisas do ofício.
 
Sem fechar os olhos para o que houve de errado, vejo com entusiasmo o que já sabia: o Brasil fará uma Copa do Mundo inesquecível, na contramão do que apregoava a voz agourenta da grande imprensa e a vontade inconfessável da oposição ao governo Dilma, PSDB à frente, mancomunados num dos mais asquerosos projetos de reação aos avanços sociais implantados no País nesses últimos anos  --  e, agora, impotentes, curvados às evidências: "Terá Copa!"
 
Até a BandNews, que passara o ano veiculando o criminoso bordão "Imagine na Copa", como que a antever (e desejar!) as piores ocorrências, durante o evento, está irreconhecível na cobertura jornalística do que, da noite para o dia, considera "um espetáculo como só os brasileiros são capazes de fazer", como (ato falho?) deixou escapar, alto e bom som, seu jornalista mais prestigiado, Ricardo Boechat, na manhã de ontem.
 
Quanto ao escrete, como diria Nelson Rodrigues, diferentemente, fico com o polêmico comentarista Milton Neves, para quem o time de Felipão anda longe de ser o que pensam dele. A começar pelo goleiro, que não me inspira a menor confiança. O que dizer de Oscar e Hulk, em posições em que já atuaram Tostão, Pelé, Sócrates, Zico?
 
São estilos diferentes, esquemas táticos desiguais, é o que dirão. Não penso assim. Em 70, por exemplo, tínhamos na quarta-zaga, Piazza, que atuava de volante no Cruzeiro; na ponta-direita, Jairzinho, ponta-de-lança, no Botafogo; Rivelino, atuando quase como ponta-esquerda (Gerson era, de fato, o nosso meia-armador), era meia-esquerda no Corinthians...
 
Ademais, não me cheira bem o excesso de otimismo com que a crítica especializada trata os nossos jogadores. Enoja o tom "galvaniano" que impera nas mesas-redondas das tevês brasileiras, notadamente a Globo. Neymar não é Messi, ainda, Fred anda longe de ser Christiano Ronaldo e nem mesmo a nossa linha de zaga é a perfeição que se diz. Quero estar errado.
 
Como adiantei, produzo o texto desta coluna horas antes de Brasil vs. Croácia. Corro o risco de dizer tolices. Que o diga. Quero o Brasil campeão! Estou certo de que acontecerá em terras brasileiras a Copa das Copas, como quis a presidente, mas tenho medo do nosso time. Que passe vexame como cronista, é o que desejo!