segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Na imensidão do infinito

Quando morrem pessoas queridas, com o passar do tempo costumo ter a impressão de que vão se distanciando lentamente, lentamente, lentamente... até se tornarem um pontinho de luz na imensidão do infinito. E um dia, sem que nem ao menos a gente perceba, desaparecem no azul a que se convencionou chamar de céu. É claro que, por amadas e inesquecíveis, costumam voltar, aqui e além, nas coisas que nos fazem recordá-las com uma saudade que, durante algum tempo, é mesmo um tipo de dor que não se pode definir com palavras. Depois, voltam nas boas recordações que já não incomodam, mas que nos proporcionam uma sensação agradável, que reeditam fragmentos do que vivemos com essas pessoas queridas.

Nos relacionamentos amorosos acho que acontece o mesmo, quando morrem. Durante um tempo que não se pode precisar, porque a experiência repercute diferentemente em cada um, o outro vai se distanciando lentamente, lentamente, lentamente... até se tornar, como no caso da morte verdadeira, um pontinho de luz no sem-fim do que chamamos de horizonte. Se foi um relacionamento feliz ou não, pouco importa, porque de tudo é inevitável que fiquem marcas, leves e belas como o desenho da boca em batom, ou indeléveis e feias como a cicatriz da ferida. Mas permanecem, e por um tempo vão ficar assim, insistindo num tipo de obsessão de que não se pode libertar. Depois, eventuais e imprevistas, vão se transformando em lembranças cada vez mais esparsas, até que desaparecem como que para sempre...

A música que foi a "nossa" música, o perfume que ela usava, o jeito com que ele fala, a mesa do restaurante em que jantamos juntos a primeira vez, o carro igual ao dela, a praia que frenquentávamos, a tomada aérea da cidade em que se viveu a lua de mel na entrecena da telenovela, a voz rouca, o detalhe da boca, do nariz, o corte do cabelo dela, o prato que ele sugeriu e que você amou, tudo... tudo traz a presença da pessoa que foi a razão da felicidade fugaz. E um dia, exatamente como na recordação dos mortos, sem que se perceba, o outro vai ficando longe, longe, longe... até que desaparece, até ficar um sonho perdido no vazio impreenchível do nosso coração.

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