QUEM AINDA NÃO ouviu falar das belas mulheres do Louvre? Pois bem, são famosas as musas que constituem uma porção especialmente atraente deste grande museu de Paris.
A Vitória de Samotrácia, de autoria desconhecida, ocupa um lugar especial no topo de uma escadaria do suntuoso prédio. A sua realização remonta, supostamente, a 190 ou 200 anos a.C. Seria provavelmente a ponta esculpida de uma proa de navio, ou, como querem alguns historiadores, um ex-voto dedicado a uma conquista ou a uma batalha vencida. Não importa, tanto, saber. O que parece consensual, é que a peça constitui um símbolo da vitória humana sobre o desconhecido. Sem cabeça e braços, a escultura avulta, solene e sedutora, entre as muitas mulheres do Louvre.
Havia pouco topara com a Vênus de Milo, com o sortilégio de sua nudez, despertando, em gregos e troianos, um tipo de iconolagonia ante a sensualidade clássica que emana do mármore. Representa Afrodite, a deusa grega do amor e da beleza, chamada de Vênus entre os romanos. Diante da estátua, curvara-me sobre o ombro da namorada para comentar a nudez ambiguamente contida e provocadora da deusa. Lembrei-lhe, na oportunidade, que Heine, Henri Heine, o famigerado poeta alemão, chamava-a de Nossa Senhora da Beleza.
Pouco depois, outra mulher deslumbrante, a jovem 'Liberdade' guiando o povo, de Délacroix, sobre cuja tela falei anteriormente nestas memórias. Assim, aqui e além, cada uma com sua magia e seu encantamento, carregadas de simbologias e sugestões, veem-se no Louvre essas maravilhosas mulheres, musas inspiradoras dos grandes nomes da Arte Ocidental.
Mas nada comparável à pintura de Lisa Gherardini, a poderosa mulher do florentino Francesco di Bartolomeo di Zanoli del Giocondo. Ou, simplesmente, a Mona Lisa, mais alta representação do Alto Renascimento e do gênio de Leonardo di Piero da Vinci.
A uma distância de oito ou dez metros, deparo com uma multidão de turistas diante da tela de proporções pequenas e importância gigantesca de Leonardo da Vinci. Agora (fato que se repetirá nas outras vezes que iria ao Louvre, anos depois), veem-se pessoas tomadas de uma emoção intensa e incontida, não raro em prantos, como não acreditando estarem ali, a poucos passos da mais aurática, a mais esplendorosa obra do cânone artístico ocidental.
Com o seu sorriso indecifrável, na expressão de um olhar a um tempo esnobe e simples, a figura intraduzível, penetrante e sedutoramente serena da mais conhecida mulher de todos os tempos. A Gioconda, sobre quem dirá o poeta Carlos Drummond de Andrade: "O ardiloso sorriso / alonga-se em silêncio / para contemporâneos e pósteros, / ansiosos, em vão, por decifrá-lo. / Não há decifração. Há o sorriso."
Enigmáticas, intangíveis, sedutoras, obscuras, inexplicáveis, cheias de mistério e encanto, fortes e sensuais, firmes e decididas, como foram por certo aquelas que lhes serviram de modelo, as mulheres do Louvre são um espetáculo à parte. Inspiradoras e veladamente soberbas, como todas as mulheres, através dos tempos e das civilizações.
Fantástico o texto. Parabéns!
ResponderExcluirVamos remontar "A Morta" e quando li o seu texto, logo lembrei do "Poeta" de Oswald de Andrade que define minha pesonagem "Beatriz":
ResponderExcluir"És sempre uma Vitória de Samotrácia, com os olhos e os cabelos presos a um horizonte sem fundo."
Um abraço.
Lu!