No filme Perdas e Danos, de Louis Malle, há uma frase que acho da maior sagacidade. É quando a bela Juliette Binoche diz para Jeremy Irons: - "As pessoas feridas são perigosas. Sabem que podem sobreviver." Revendo o filme esta semana, lembrei de uma conversa que havia mantido com uma amiga. Ela dizia da impossibilidade de ex-amantes se tornarem amigos. Como a minha experiência pessoal, nesse sentido, vai de encontro ao que afirmava, aventei a hipótese de que essa impossibilidade se prendesse ao fato de não sabermos perdoar.
Se é uma realidade que a maioria dos rompimentos se dá por força da infidelidade de uma das partes (a maioria, entenda-se!), é natural que a pessoa ferida, decepcionada, carregada de ressentimentos, não queira a proximidade de quem lhe causou a dor. É um tipo de defesa, de resguardo e, por que não?, de dignidade de quem investiu tanto numa relação e a vê desmoronar assim, quase sempre de modo inesperado.
E o perdão, a nossa incapacidade para perdoar, onde entra?, há de indagar o leitor ou a leitora. Ah, ok. Escrevi uma crônica há algum tempo em que levantava essa questão: 'Por que se tornam inimigos os ex-amantes?' Dizia eu, 'é a precariedade dos homens, a ingratidão para com a felicidade que não foi eterna, mas, acima de tudo, é a nossa incapacidade para o perdão.'
Continuo pensando exatamente assim. E, quando falo de infidelidade, faço referência à mais dramática razão por que os relacionamentos se desfazem. Há outras razões, claro, mas acho que todas elas estão de certo modo relacionadas ao desgaste, à perda do encanto e da admiração pela pessoa anteriormente amada. E (como negar?), essa realidade abre uma porta perigosa para experiências fora da relação. Aliás, no livro Do Amor e Outras Crônicas, se não estou enganado, escrevi sobre isto. Acho, não. Escrevi, sim, agora estou certo.
Referia-me ao fato de que quase nunca se está preparado para ouvir da pessoa que se ama: - "Olha, o amor morreu. Gosto de você como pessoa, como amiga, mas, sinceramente, como namorada, como mulher, não. Vamos separar!" Como reagiríamos diante dessa demonstração de transparência, de honestidade, de correção moral? Ora, ora. Ninguém recebe a sinceridade que vem dessas palavras com tranquilidade. O mundo, inevitavelmente, nessas circunstâncias, vai por terra. Baterá o desespero, o nó na garganta, a sensação de absoluta e desumana impotência.
É aí que entra a necessidade do perdão, da aceitação sem despeito, da compreensão de que o amor, que um dia fez um e outro andarem nas nuvens, como tudo na vida, pode passar ou transformar-se num sentimento, não menos bonito, de carinho, de amizade, de benquerença, o que, convenhamos, não justifica levar adiante um projeto que, em pedaços, já está no chão. No filme de Malle, diga-se em tempo, não há essa disposição de ânimo. Há a ferida, o perigo de saber que se pode sobreviver.
O que vc pensa sobre a infidelidade qdo tudo parece perfeito? Qdo não há a perda do encanto e simplesmente a pessoa (normalmente o homem)trai apenas pelo sexo...
ResponderExcluirAcho que a infidelidade, em sua essência, é algo inaceitável, sobretudo quando existe o encanto, a admiração. Neste caso, reafirmo, é algo condenável. Mas, veja bem, acredito que a traição quase nunca ocorre nessas circunstãncias. Haverá algo, o arrefecimento do sentimento, a perda do encanto, o desenamoramento... ou fatores mais 'concretos', como a distância (por exemplo), que, sendo reais, ainda não foram percebidos.
ResponderExcluirObrigado pela visita ao site e pelo comentário!
Vocês já pensaram na idéia: A quem você está traindo? A você ou ao outro, caso não seja sincero consigo mesmo?
ResponderExcluirLu!