Qualquer que seja o desfecho do caso Bruno, o que está claro como uma fratura exposta é que ele é indefensável, muito mais indefensável que indefensáveis foram os chutes que o levaram à consagração após ter evitado que se transformassem em gols. Com 1,91 de altura, ídolo de uma torcida de mais de 30 milhões de brasileiros, um corpo de deus grego e um salário de 300 mil reais, Bruno é um desses muitos e muitos homens que povoam o imaginário feminino como objeto de desejo, numa época em que o sucesso profissional, a beleza física e a conta bancária são as referências que servem para estabelecer o valor da mais escassa mercadoria, o Homem, assim, com maiúscula.
Há coisa de uns dois, três meses, no máximo, eu já ficara estarrecido com uma declaração do goleiro Bruno, feita através da imprensa: - "Quem de vocês nunca saiu no braço contra uma mulher?" Perguntava durante uma entrevista concedida à tevê Globo, na maior, como faz um canalha, um psicopata que desconhece a fronteira entre o sucesso profissional e a obrigação de respeitar os outros. Em tempo: fazia-o numa tentativa de justificar atos de violência cometidos pelo companheiro de clube, o jogador Adriano, contra a mulher.
Agora, quando infelizmente está confirmada a morte de Eliza Samudio, a Justiça Brasileira, sob a luz dos spots, passa a agir com o objetivo de deslindar um crime que poderia ter evitado. Por que permaneceu indiferente às ameaças, quando procurada por Eliza através de uma instância cabível? Se não, vejamos: No ano passado, a jovem, grávida, dirigira-se à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, no Rio, para denunciar que vinha sendo vítima de maus-tratos. Lembro do que dissera à imprensa: - "Ele [Bruno] me deu bofetões... Enfiou uma arma na minha cabeça... E me disse: 'Sou frio e calculista. Vou deixar a poeira baixar e vou atrás de você. Se eu te matar e jogar em qualquer lugar, as pessoas nunca vão descobrir que fui eu.'" (sic) E, no entanto, nada, absolutamente nada se fez em favor dessa jovem, à época.
Acompanho esse caso pavoroso e fico pensando o que não virá acontecendo, por exemplo, na Região do Cariri, entre Crato, Juazeiro e Barbalha, onde os índices de criminalidade contra a mulher são alarmantes, com repercussão, inclusive, na Unifem, o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher. Quantas ameaças ignoradas? Quantos maus-tratos? Quanta tortura física e psicológica contra mulheres de todas as idades? Quantas vidas ceifadas?
No jeito bem brasileiro, o bárbaro assassinato de Eliza Samudio, em Minas, assim como o da advogada Mercia Nakashima, em São Paulo, Bárbara Calazans, no Rio, ou das anônimas do Cariri, no Ceará, serve para desnudar o descaso das nossas autoridades competentes no que diz respeito à segurança da população, da mulher, particularmente, ainda hoje submetida aos caprichos, à intolerância e aos impulsos monstruosos dos milhões de Brunos que habitam Brasil afora. Até quando?
Gostaria de não te parabenizar por esse texto. Essa dura realidade me parece irreal, já que somos homens e mulheres racionais. Triste, mas muito boa suas colocações. Até quando?
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