Sexo, traição, triângulos amorosos e outras excentricidades que dizem respeito às relações passionais sempre tiveram seu público -- e disso tudo, diga-se em tempo, a literatura tirou ingredientes para grandes romances. Mas agora, ao que se vê, é matéria de que também não abre mão a grande imprensa, televisão e revistas à frente. Em edição da semana, a revista IstoÉ divulga pesquisa que invade as rodas femininas como assunto da vez. É o que concluo de três ou quatro 'grupinhos' em cujas mesas sentei, durante o fim de semana. Hilário! Ou não, como diria Caetano.
Passo na banca e compro o meu exemplar, que não sou de entrar em jogo sem ficha. Está lá, no lead de uma das matérias centrais: "Pesquisas indicam que a infidelidade feminina quase dobrou em uma década e que ciúme e carência são os principais motivos." Que os motivos arrolados são mesmo procedentes, já se sabe, e, mais de uma vez, escrevi sobre isso. A novidade, se há novidade numa prática tão antiga quanto a existência da própria mulher, é que a coisa vai tomando foros de banalidade. E, como afirma Ernesto, amigo meu, o negócio está deixando a "homarada" de cabelo em pé. Vamos ao que diz a pesquisa.
Segundo dados da Fundação Perseu Abramo e do Sesc, ouvidas 2.365 brasileiras, 12% afirmaram já ter tido pelo menos uma experiência fora do relacionamento 'oficial', contra 7% da pesquisa anterior, há dez anos. Não é pouco. Outro estudo, diz a revista, levado a efeito sob a orientação da prestigiada médica Camila Abdo, traz números ainda mais 'assustadores' (ou preocupantes, como quer Ernesto, um machista assumido). Os resultados estão sob o domínio de uma das mais respeitadas universidades brasileiras, a USP, e indicam: metade das mulheres ouvidas em levantamento do Prosex, um projeto ligado à sexualidade, do Curso de Medicina, já pulou o muro. Por quê?
A tomar por base o conteúdo das declarações, algo em torno dos 35% das mulheres ouvidas trairam por vingança, tão-logo souberam que o companheiro mantinha relações fora do relacionamento. Ou seja: a mulher descobre que o parceiro anda se danando e logo sai à procura de quem queira provar do fruto proibido. O pior: como a coisa tem gosto de novidade, carregada daquele tempero de todo começo de relação, acaba gostando e a tendência é que os encontros se tornem frequentes com o passar do tempo. Resultado: surge a paixão e... Aí todos sabem.
A propósito, a revista cita um livrinho da antropóloga Mirian Goldemberg que li outro dia, e que, dado algum desconto, recomendo para os meus leitores. Porque os homens e as mulheres traem é o título, e, nele, a autora faz uma leitura mais consistente do fenômeno. Para ela, as mulheres afirmam ter sido empurradas para os braços de outro homem por vingança, mas é a atração física exercida pelo amante que leva à traição. Segundo Mirian, falta coragem à mulher para assumir essa realidade, decorrência dos valores morais a que foi submetida através dos tempos. O certo é que o assunto volta à pauta de forma ainda mais impactante. Pelo que sei, cresce, cada vez mais, o contingente de mulheres para as quais é crônica a incapacidade de separar a fantasia da realidade, o mundo em que estão daquele que veem nas novelas de tevê e nos big brothers da vida. De Flaubert, ao meu ver, ainda vem a explicação mais convincente. É ler ou reler Madame Bovary.
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