E onde cabe a tal "benignidade", essa indulgência para a culpa alheia de que nos falou Allen? Nunca há culpados. No caso do Ernesto, que não teve seu amor correspondido, em pedir, com uma ternura que lhe é típica, que os dois se dessem um tempo em silêncio. Até que a chama do amor apaque.
O caso do meu amigo é antigo e não é a primeira vez que me reporto a ele, a essa dolorosa travessia que já dura, quando menos, uns três anos. Foi objeto de uma crônica em que este escriba se reporta à decisão do Ernesto de nunca mais querer amar alguém -- "Vai pintar paixão, estou fora!", diz ele, sempre que lhe perguntam sobre a possibilidade de um novo amor. Sem mais delongas: Ele me dizia, entre um chope e outro, ter criado coragem para pedir a ex que lhe desse um tempo, que parasse com e-mails e eventuais telefonemas. Agiu com correção, foi benigno, dessa vez muito mais com o amor do que com a coisa amada, o que é, como no filme de Woody Allen, muito mais belo do que dizer, simplesmente, "eu te amo!".
A caminho de casa, passaram-me pela mente alguns dos muitos filmes e romances que tratam do tema, trechos de música, poemas etc., que eternizaram essa experiência tão difícil dos que, a exemplo do amigo, não tendo o amor correspondido, pedem um pouco de paz para curtir a sua dor: "Tire o seu sorriso do caminho / Que eu quero passar com a minha dor / Se hoje pra você eu sou espinho / Espinho não machuca a flor / Eu só errei quando juntei minh'alma à sua / O sol não pode viver perto da lua". Ah, que belo e clássico e triste samba de amor escreveram Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito sobre o tema!
É isso, meu camarada e meu irmão, não se deve alimentar para sempre "a eterna desventura de viver / à espera de viver ao lado teu / por toda a minha vida", já dizia o poeta que você eu admiramos tanto. Beijo, querido, nesse bom coração!