quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Aos leitores, em resposta

Sobre a coluna de sábado, é significativo o número de e-mails com comentários em torno do tema da solidão. Mas um telefonema, sobremaneira, vindo de uma leitora conhecida, chamou-me a atenção. Elogia a perspectiva através da qual abordei o assunto, mas assume, enfaticamente, não saber lidar com o problema desde a separação do marido, há coisa de pouco mais de dois anos: - "Para mim, tem sido um inferno! Não sei estar sozinha e acho improvável que alguém possa ser feliz assim." Reportava-se ao fato de que, no texto, afirmávamos ser possível tratar com a solidão de forma criativa, saudável e produtiva sob muitos aspectos. Existenciais, sobretudo, aproveitando a fase do 'sem-ninguém' para ler bons livros, assistir a bons filmes e escrever, entre outras alternativas indicadas para o solteiro bem-resolvido. O ócio, inclusive.

Como se trata de uma pessoa de excelente nível intelectual, boa argumentadora e exemplarmente descontraída, deixamos a conversa fluir por um tempo considerável, até que o adiantado da hora e o sono nos cobrassem beijinhos de despedida. Desliguei o telefone e me ocorreram, como que num passe de mágica, as palavras de Thelma Ritter para Doris Day em Confidências à meia-noite, a interessante comédia de Michael Gordon. Lembrei detalhes porque revira o filme havia poucos dias. A uma dada altura, Thelma Ritter, dirigindo-se a Doris Day, afirma: - "Só há alguma coisa pior do que uma mulher vivendo sozinha: é uma mulher dizendo que gosta disso." Risos à parte, pus-me a pensar.

Não concordo muito com a afirmação, embora o telefonema da leitora coubesse como luva para o que diz a personagem de Ritter, nesse clássico de 1959, sobre a solidão feminina. Sempre achei que as mulheres via de regra sabem lidar melhor com o problema, se é que estar sozinha por uns tempos constitui mesmo algum problema para uma pessoa como a referida leitora, a quem sobram beleza, desenvoltura e inteligência, atributos pelos quais foi sempre uma mulher muitíssimo admirada. E continuará sendo.

Ainda sobre solidão, dessa vez no blog, ficou registrado o elogio: - "[...] Parece que seus textos são escritos para quem os lê. (sic) Faço sempre uma reflexão profunda e me vejo espelhada em suas palavras. Palavras muito tocantes, profundas, que chegam a doer..." Pura elegância, pura generosidade... Está feito o registro.

Acerca da coluna anterior, leitor cinéfilo reclama: - "Você falou sobre a saudade na literatura e na música popular, mas esqueceu o cinema." É verdade, 'parceiro', não houve espaço para citar uma cena de filme que explorasse o tema, a exemplo do que fiz com livros e letras de música. Nem haverá hoje. Fica a provocação, num excerto de Casablanca. A cena final da película, de que cito de memória o diálogo de despedida, quando Humphrey Bogart, por uma causa mais nobre, renuncia ao seu amor pela personagem de Ingrid Bergman, guardando do mesmo as boas lembranças: - "E nós?", ao que ele responde: - "Nós sempre teremos Paris."


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