Quando escrevi aqui sobre A Separação, provável ganhador do Oscar de melhor estrangeiro de 2011, lembro que um leitor me abordou na rua a respeito de O Artista, indicado em dez categorias da Academia. Havia gostado muito e queria a minha opinião sobre o aplaudidíssimo trabalho de Hazanavicius, a que eu, àquela data, ainda não assistira. Lamentei não poder emitir o meu juízo e assumi o compromisso de fazê-lo neste espaço tão-logo tivesse a oportunidade de assistir ao filme. Faço-o agora, em palavras ligeiras.
O filme é mesmo esplêndido e justifica sua aclamação de público e crítica. Visceral, poderoso, magnifíco... uma obra de arte muito maior do que qualquer outra grande realização do cinema nesses muitos anos. Trata da complicada transição da sétima arte desde que esta se tornou sonora, em 1927, quando, estando para fechar suas portas, a Warner aceitou o desafio como última alternativa para evitar o pior. Mas o fato, sabe-se, não foi bem recebido por grandes astros do cinema e muitos tentaram resistir a tal avanço. Para que se tenha uma ideia, reproduzo de memória a famosa declaração do gênio Charlie Chaplin: - "Filmes falados? Podem dizer que os detesto! Estragam a arte mais antiga do mundo, a arte da pantomima. Destroem a beleza do silêncio!"
Pois imaginem: o filme falado, na contramão do que pensara Chaplin, só viria a realçar a beleza do silêncio, é o que nos transmite à perfeição este extraordinário O Artista durante os cem minutos que nos arrebata com sua força e sua poesia contagiante. Na Hollywood dos áureos tempos, o ator George Valentin (Jean Dujardin) vive o drama de muitos astros da época, temerosos de que a sonorização fílmica resultasse no fim de uma arte que se pretendia independente do teatro e de outras linguagens estéticas. Essa discussão, que se dá no contexto de uma história de amor que perpassa quase a totalidade do filme, é o que o Michel Hazanavicius, que também assina o roteiro, levanta a níveis impensáveis para uma obra do gênero. O que se depreende ao final do filme, sem qualquer 'forçação' de barra ou intelectualismos que viessem a comprometer a leveza de sua arte extraordinária, é que o som já fazia parte da essência do cinema, mesmo antes do surgimento do filme falado. Em preto e branco e quase inteiramente mudo, O Artista encanta por sua incontornável harmonia sonora -- a música de Ludovic Bource é de derrubar. Para não falar da direção de arte, da fotografia, do elenco, perfeitos, num tempo em que a baixa qualidade de muito do que se faz em termos cinematográficos nos condiciona a medir a arte com metro pequeno. A cena em que Peppy Miller, sozinha no camarim do estúdio, simula um movimento de dança, enlaçada ao paletó de Valentin, entra para a história do cinema.
Do ponto de vista dramático, também, O Artista é tremendamente bem construído. Enquanto George Valentin despenca, resistindo às novas conquistas tecnológicas do cinema, Peppy Miller (Bérénice Bejo), a jovem dançarina que aos poucos vai conquistando o seu coração, ascende ao estrelato em ritmo vertiginoso, o que, em princípio, aumenta o abismo que poderia separá-los. Poderia, não fosse a inserção do som na película o passo definitivo para tornar o cinema uma arte capaz de operar milagres. Um filme lindo, inteligente, bem realizado, escrito por uma câmera competente e sensível. Simplesmente irretocável.
O filme é mesmo esplêndido e justifica sua aclamação de público e crítica. Visceral, poderoso, magnifíco... uma obra de arte muito maior do que qualquer outra grande realização do cinema nesses muitos anos. Trata da complicada transição da sétima arte desde que esta se tornou sonora, em 1927, quando, estando para fechar suas portas, a Warner aceitou o desafio como última alternativa para evitar o pior. Mas o fato, sabe-se, não foi bem recebido por grandes astros do cinema e muitos tentaram resistir a tal avanço. Para que se tenha uma ideia, reproduzo de memória a famosa declaração do gênio Charlie Chaplin: - "Filmes falados? Podem dizer que os detesto! Estragam a arte mais antiga do mundo, a arte da pantomima. Destroem a beleza do silêncio!"
Pois imaginem: o filme falado, na contramão do que pensara Chaplin, só viria a realçar a beleza do silêncio, é o que nos transmite à perfeição este extraordinário O Artista durante os cem minutos que nos arrebata com sua força e sua poesia contagiante. Na Hollywood dos áureos tempos, o ator George Valentin (Jean Dujardin) vive o drama de muitos astros da época, temerosos de que a sonorização fílmica resultasse no fim de uma arte que se pretendia independente do teatro e de outras linguagens estéticas. Essa discussão, que se dá no contexto de uma história de amor que perpassa quase a totalidade do filme, é o que o Michel Hazanavicius, que também assina o roteiro, levanta a níveis impensáveis para uma obra do gênero. O que se depreende ao final do filme, sem qualquer 'forçação' de barra ou intelectualismos que viessem a comprometer a leveza de sua arte extraordinária, é que o som já fazia parte da essência do cinema, mesmo antes do surgimento do filme falado. Em preto e branco e quase inteiramente mudo, O Artista encanta por sua incontornável harmonia sonora -- a música de Ludovic Bource é de derrubar. Para não falar da direção de arte, da fotografia, do elenco, perfeitos, num tempo em que a baixa qualidade de muito do que se faz em termos cinematográficos nos condiciona a medir a arte com metro pequeno. A cena em que Peppy Miller, sozinha no camarim do estúdio, simula um movimento de dança, enlaçada ao paletó de Valentin, entra para a história do cinema.
Do ponto de vista dramático, também, O Artista é tremendamente bem construído. Enquanto George Valentin despenca, resistindo às novas conquistas tecnológicas do cinema, Peppy Miller (Bérénice Bejo), a jovem dançarina que aos poucos vai conquistando o seu coração, ascende ao estrelato em ritmo vertiginoso, o que, em princípio, aumenta o abismo que poderia separá-los. Poderia, não fosse a inserção do som na película o passo definitivo para tornar o cinema uma arte capaz de operar milagres. Um filme lindo, inteligente, bem realizado, escrito por uma câmera competente e sensível. Simplesmente irretocável.
"inteligente, bem realizado"
ResponderExcluirAcho que essas duas palavras definem bem esse filme!!
Obrigado, Danilo, pela visita ao blog e pelo comentário!
ExcluirMuito boa! Só discordo da cena mais bonita do filme: eu considero a cena em que ele sonha estar mudo como a mais forte do filme todo. E aquela que ela vê a película dos dois dançando é sensacional. Parabéns pelo texto, muito bom, como tudo que vc faz. Você é craque no que escreve!
ResponderExcluirSaudações, Álder!
ResponderExcluirConfesso que já devia ter desgastado, é isso mesmo, desgastado no mais puro sentido da palavra ― se ainda existisse o VHS (risos) ― essas duas últimas películas, A Separação e O Artista, que tens, maravilhosamente bem, dissecado em seu blog. Agora então, depois do que acabei de ler sobre O Artista, embora já tenha lido uma crítica sobre ambos, preciso numa “emergente-desesperada-urgencia” assisti-los até que os DVD’s se... desgastem, é isso (risos).
E só finalizando, pelo andar da carruagem, A Separação deve levar o caneco de melhor filme, ou melhor, a Estatueta.
Abraços!