quarta-feira, 4 de julho de 2012

Fui infeliz, talvez

Há algum tempo não repercutia tão polemicamente qualquer texto publicado, neste espaço, o quanto repercutiu a coluna Woody Allen, o perdedor. Do interior de São Paulo, leitora (queridíssima!) diz: - "Seu texto é bem escrito, como sempre, mas não concordo com nada que está nele!" Vai além, afirma não suportar o cineasta e considera a sua declaração "coisa de um poderoso", observando que nenhum pai quer ser identificado como um perdedor. Um outro, também de São Paulo, já pensa em contrário e coloca Allen numa relação dos seus cineastas preferidos, além de concordar com o teor da coluna. Aqui de Fortaleza, outro, ainda, vai mais longe e indaga se não lembro que se trata (Woody Allen) de um pedófilo, que "deveria estar na mesma cela de ...", referindo-se a um comunicador preso por supostas práticas de exploração de menores.
 
Fui reler o texto e admito não ter sido muito feliz na sua escrita, o que supostamente ocasionou alguma controvérsia. Valho-me deste, pois, para esclarecer alguns pontos que julgo importantes sobre o assunto: Não tive, sob qualquer aspecto, a motivação de achar razoável que os pais devam assumir a condição de perdedores para os seus filhos. Pelo menos se tomarmos a expressão ao pé da letra. Assumir-se perdedor, no caso da coluna de sábado, é dar aos filhos a consciência de que somos falíveis, sujeito a cometer erros e capaz de reconhecê-los, sem subterfúgios ou medo de enfrentar as suas consequências. Ninguém é ou poderá ser vencedor a vida inteira, mesmo "aqueles cujas contas bancárias estão explodindo de gordas", foi o que dissemos, baseados na última declaração de Allen: - "Não quero que digam: oh, meu pai arrecadou 12 milhões de dólares só na primeira semana!", referindo ao filme Meia Noite em Paris.
 
Depois, aludimos à atitude de um pai nas imediações do colégio em que fora apanhar o seu filho pequeno, ofendendo de forma arrogante um simples catador de recicláveis que 'ferira', por descuido, o carrão blindado. Esses os que, medindo as regras do jogo pelo dinheiro que têm, diariamente dão aos filhos a noção equivocada de que são vitoriosos sempre. E a vida, cedo ou tarde, acabará por lhes dizer não! 
 
Quanto à acusação de que se trata de um pedófilo, é oportuno esclarecer: em 1992, Woody Allen, à época casado com a atriz Mia Farrow, apaixonou-se pela coreana Soon Yi Previn, 34 anos mais nova, com quem casou e viveu até a separação, recentemente divulgada na imprensa. Fui infeliz? Talvez.
 
Woody Allen está nos cinemas com o seu último filme: Para Roma, com amor. Não o vi, ainda, razão por que não posso comentá-lo agora, a exemplo do que fiz com outros títulos de sua vastíssima lavra. Inclusive o último, Meia-Noite em Paris, o tal filme dos 12 milhões de dólares na primeira semana. Até onde sei, contudo, o filme faz parte de um projeto do cineasta americano no sentido de documentar cinematograficamente algumas das cidades mais belas do mundo, entre aos quais o Rio de Janeiro. Na mesma entrevista de que tiramos a seiva da coluna anterior, por acaso, Allen afirma estar impressionado com o que já conhece da cidade brasileira por gente da produção. Está dito.
 
 

Um comentário:

  1. Olá, Álder!

    Avante, meu caro! Quem escreve está suscetível a diversas interpretações. Ócios do ofício? Sim. Imagine a Bíblia, em especial o livro de Apocalipse. Quantas interpretações não se tiram dali. Nem sempre conseguimos expressar aquilo que realmente queremos, ou às vezes sentimos que não fomos claros o bastante. Confesso que já li algumas colunas do João Ubaldo Ribeiro, no jornal Estado de S. Paulo, onde ele comentava das ‘bordoadas’ que havia tomado em decorrência de uma ou outra crônica mal interpretada. Eu, particularmente, lhe compreendi, porque torcemos pelo mesmo time: O Audiovisual.

    Sucesso sempre!

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