quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

É Carnaval, mas falo de cinema

Havia na cidade dois cinemas. O "Alvorada", antigo "Cine Sá", onde hoje está a sede do CDL, e o "Cine São José", do outro lado da praça, no prédio que foi preservado e, agora, abriga as instalações do SENAC. Alguns horários, acreditem, eram de tal modo concorridos, que as filas não raro davam a volta no quarteirão, sobretudo no primeiro, onde, de costume, "passavam" os filmes mais concorridos. Ali, pelas mãos do irmão Emídio Neto, à época um cinéfilo fanático, descobri os meus primeiros John Ford, William Wyler, Howard Hawks e Anthony Mann. Curioso é que, como ainda não soubesse ler, acompanhava as imagens, enquanto Emídio, solícito, lia as legendas para mim. Nascia o meu amor pela sétima arte.
 
Naquele tempo  --  curioso!  --, meu pai, um homem simples, de poucas leituras, era também um admirador contumaz do cinema. Gostava, sobremaneira, dos westerns. Na companhia dele assisti aos meus filmes preferidos no gênero: Rio Bravo, Rastros de Ódio, Sete Homens e um Destino e Duelo ao Sol. Este último é um clássico, ambientado no Velho Oeste, que gira em torno do amor de dois irmãos pela mesma mulher. Traz a assinatura de King Vidor, um diretor ousado, capaz de obter resultados estéticos impressionantes. Nunca me esqueci da sequência final, quando, por meio da montagem, Vidor mostra os homens se reunindo... e a imagem vai se completando, prodigiosa, no écran.
 
Hoje, tendo quase todos esses filmes ao alcance da mão, em DVD, revejo-os sempre que posso. Isso me dá um aperto tão grande no peito... Penso no meu pai, lamento que não tenha alcançado esses avanços da tecnologia, chego a imaginá-lo revendo seus filmes preferidos, assistindo a esses westerns maravilhosos sempre que desejasse. Que belo amante do cinema, que belo homem foi meu pai.
 
Engraçado que Duelo ao Sol, um filme dos anos 40, chegou ao Brasil à época do technicolor, lá pela década de 60. Os filmes chegavam aqui muitos anos depois de lançados nos Estados Unidos e na Europa. Lembro que causou um certo frisson, não apenas pela qualidade estética da película, que é indiscutível, mas pelas cenas de sexo, avançadas para aqueles tempos.
 
Mas um filme, sobretudo, me impactou muito no velho Alvorada: Shane, que no Brasil chama-se Os Brutos Também Amam. Conta a história de um garotinho, que vive isolado numa região do Velho Oeste, com os pais. Um dia chega ao rancho um desconhecido e conquista o coração do garoto (e da mãe, nas entrelinhas). Protege a família do garoto contra um bandido poderoso e seus seguidores. Mas, no final, missão cumprida, parte. A cena em que Shane, o lourinho, despede-se dele, é de arrebentar o coração. Em Iguatu, no inesquecível Cine Alvorada, começava o meu amor pelo cinema.
 
 
 
 
 
 
           

Um comentário:

  1. Saudações, Álder!

    Mas que linda crônica, meu caro. Acho que, de certa forma e independente da idade, somos todos um pouco saudosistas. Eu sou, e muito.

    Parabéns!

    Sucesso sempre e bom feriadão!

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