Para Ticiana
Há muitos anos, quando fui a Cachoeiro de Itapemirim, fiz questão de visitar a casa em que nascera Roberto Carlos. Coisa de "tiete" assumido do Rei. Só depois, já de viagem para o Rio, minha mulher, à época, fez a advertência: - "Você ama tanto a literatura e esqueceu que lá (em Cachoeiro) nasceu aquele cronista famoso, como é mesmo o nome dele?" Disse isso de forma tão sugestiva e um tanto irônica, que me deixou mesmo sem lugar para colocar as mãos. Referia-se a Rubem Braga, para muitos o maior dos cronistas brasileiros. Quanto a mim, fico, ainda, com os mineiros, Fernando Sabino à frente.
Pois bem, lembrei do fato a propósito de se comemorar este ano o centenário do "velho urso", sem dúvida um escritor obrigatório. Rubem Braga, como o cantor famoso, nasceu em Cachoeiro em 12 de janeiro de 1913, mas moraria quase toda a sua vida no Rio de Janeiro, até fins de dezembro de 1990, quando um câncer na laringe o mataria sob o peso de um sofrimento imenso. Deixou, inconfundível estilista que foi, uma obra marcada pela suavidade da linguagem, e uma força poética que se esconde por debaixo de um texto muitas vezes enxuto e aparentemente árido.
Li há coisa de uma semana um pequeno livro em que Braga registrou a sua rápida convivência com expoentes das artes plásticas e do cinema durante a sua permanência em Paris, onde se fixara como o repórter extraordinário que foi na cobertura da Segunda Guerra Mundial. Diferentemente dos textos em que trata da guerra propriamente dita, nos quais dá especial atenção às histórias dos soldados anônimos, detentores, aos olhos sensíveis do cronista, de uma humanidade a um tempo desesperada e doce, Rubem Braga 'fala' do lado frágil e contraditório de grandes celebridades, a exemplo do pintor Pablo Picasso e do cineasta Clouzot.
Como todo grande artista, bem na linha do que se saberia sobre Carlos Drummond de Andrade após sua morte, em agosto de 1987, Rubem Braga era bem diferente do que sugere, à primeira vista, sua imagem casmurra e amarrada. Cultivava amizades as mais distintas, tinha um sorriso largo e bonachão e adorava um bom uísque, com que adoçava a sua prosa solta e afetuosa. Mais: cultivava na cobertura em que morava árvores impensáveis para um edifício de apartamentos, como pés de pitanga, goiaba, manga e, pasmem, jabuticaba, o que lhe valeria o apelido de Lavrador de Ipanema.
Em uma de suas crônicas, referindo-se à beleza do pavão, adverte o leitor: - "Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris em plumas." Diz isso e compara tal beleza à do amor: - "Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glória e me faz magnífico."
Há muitos anos, quando fui a Cachoeiro de Itapemirim, fiz questão de visitar a casa em que nascera Roberto Carlos. Coisa de "tiete" assumido do Rei. Só depois, já de viagem para o Rio, minha mulher, à época, fez a advertência: - "Você ama tanto a literatura e esqueceu que lá (em Cachoeiro) nasceu aquele cronista famoso, como é mesmo o nome dele?" Disse isso de forma tão sugestiva e um tanto irônica, que me deixou mesmo sem lugar para colocar as mãos. Referia-se a Rubem Braga, para muitos o maior dos cronistas brasileiros. Quanto a mim, fico, ainda, com os mineiros, Fernando Sabino à frente.
Pois bem, lembrei do fato a propósito de se comemorar este ano o centenário do "velho urso", sem dúvida um escritor obrigatório. Rubem Braga, como o cantor famoso, nasceu em Cachoeiro em 12 de janeiro de 1913, mas moraria quase toda a sua vida no Rio de Janeiro, até fins de dezembro de 1990, quando um câncer na laringe o mataria sob o peso de um sofrimento imenso. Deixou, inconfundível estilista que foi, uma obra marcada pela suavidade da linguagem, e uma força poética que se esconde por debaixo de um texto muitas vezes enxuto e aparentemente árido.
Li há coisa de uma semana um pequeno livro em que Braga registrou a sua rápida convivência com expoentes das artes plásticas e do cinema durante a sua permanência em Paris, onde se fixara como o repórter extraordinário que foi na cobertura da Segunda Guerra Mundial. Diferentemente dos textos em que trata da guerra propriamente dita, nos quais dá especial atenção às histórias dos soldados anônimos, detentores, aos olhos sensíveis do cronista, de uma humanidade a um tempo desesperada e doce, Rubem Braga 'fala' do lado frágil e contraditório de grandes celebridades, a exemplo do pintor Pablo Picasso e do cineasta Clouzot.
Como todo grande artista, bem na linha do que se saberia sobre Carlos Drummond de Andrade após sua morte, em agosto de 1987, Rubem Braga era bem diferente do que sugere, à primeira vista, sua imagem casmurra e amarrada. Cultivava amizades as mais distintas, tinha um sorriso largo e bonachão e adorava um bom uísque, com que adoçava a sua prosa solta e afetuosa. Mais: cultivava na cobertura em que morava árvores impensáveis para um edifício de apartamentos, como pés de pitanga, goiaba, manga e, pasmem, jabuticaba, o que lhe valeria o apelido de Lavrador de Ipanema.
Em uma de suas crônicas, referindo-se à beleza do pavão, adverte o leitor: - "Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris em plumas." Diz isso e compara tal beleza à do amor: - "Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glória e me faz magnífico."
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