Leio, na revista CartaCapital, matéria no mínimo curiosa sobre sofrimento pós-separação. Dor de cotovelo tem remédio, é o título do texto assinado por Rogério Tuma. A princípio, nada de muito estranho, uma vez que, em muitos casos, só mesmo sob o efeito de tranquilizantes é possível a pessoa suportar a dor que se segue ao término do relacionamento. A lista de medicamentos capazes de amenizar a angústia que advém do sentimento de perda é significativa e, muitas vezes, os resultados se mostram favoráveis para quem faz a dolorosa travessia.
Do ponto de vista científico, sabe-se, a paixão e suas muitas outras faces têm raízes biológicas, o que implica -- nas experiências indesejáveis como a separação --, em alterações neurais importantes. É quando algumas drogas podem regular esse mecanismo e manter o equilíbrio do neurotransmissor nas regiões afetadas pelo circuito. Em poucas palavras: existem, é verdade, medicamentos capazes de tornar a pessoa que sofre mais resistente às perdas afetivas.
Segundo a matéria, pesquisas recentes levadas a efeito com roedores indicam que, reduzida a presença no sangue do 'cortisol' , um hormônio liberado pelo corpo quando o indivíduo é submetido a algum tipo de estresse, houve também redução de 'oxitocina' e os animais deixaram de apresentar sinais de depressão, por exemplo, com a morte do parceiro. O resultado é bom, sobremaneira pelo fato de que a pesquisa envolveu um tipo de ratazana (Microtus orchrogaster) conhecida por sua fidelidade: os casais nunca se separam e mantém até a morte a mesma dedicação, extensiva aos rebentos que provierem de sua união. Fidelíssimos.
Quando o assunto é gente, no entanto, por algum tempo os desiludidos terão ainda de procurar curtir a dor, no melhor das hipóteses aliviada pela ação dos medicamentos convencionais. De minha parte, tradicionalista assumido em termos afetivos, concluo que este é o caminho mais curto até a superação desse sofrimento incomunicável que só quem já passou pode dimensionar com precisão. Sobre isso, a propósito, depois do imenso sucesso do romance O passado, do argentino Alan Pauls, que, encantado, li há poucos dias, fui ver, em DVD, o filme homônimo de Hector Babenco. E gostei muito.
É a história de um casal, Rimini e Sofia, que tem de enfrentar as barras de uma separação mal-resolvida (se é que existem separações bem-resolvidas). No começo, a situação é tratada com uma delicadeza que comove, até que aparece na vida dele outra mulher com quem decide reconstruir sua vida. Sofia, então, passa a se desorganizar emocionalmente. Um dia, deparando com o ex sendo beijado por uma moça, tenta fugir dali e morre atropelada. O acidente, claro, vai repercutir na vida de Rimini.
O filme, num nível estético que considero equivalente ao livro, tem pegada e é bem conduzido pela câmera sensível de Babenco, dentro de cuja narrativa serão recorrentes as referências a outros filmes sobre o amor e o sofrimento que dele, quase invariavelmente, advém. É o caso de Rocco e seus irmãos, de Lucchino Visconti, e A história de Adèle H, de François Truffaut, emblemáticos, sublimes e inesquecíveis sobre as paixões não correspondidas. Para quem não os viu, ainda, os dias de Carnaval convidam a fazê-lo. Refiro-me aos que não estão com o coração em pedaços, é bom lembrar.
Do ponto de vista científico, sabe-se, a paixão e suas muitas outras faces têm raízes biológicas, o que implica -- nas experiências indesejáveis como a separação --, em alterações neurais importantes. É quando algumas drogas podem regular esse mecanismo e manter o equilíbrio do neurotransmissor nas regiões afetadas pelo circuito. Em poucas palavras: existem, é verdade, medicamentos capazes de tornar a pessoa que sofre mais resistente às perdas afetivas.
Segundo a matéria, pesquisas recentes levadas a efeito com roedores indicam que, reduzida a presença no sangue do 'cortisol' , um hormônio liberado pelo corpo quando o indivíduo é submetido a algum tipo de estresse, houve também redução de 'oxitocina' e os animais deixaram de apresentar sinais de depressão, por exemplo, com a morte do parceiro. O resultado é bom, sobremaneira pelo fato de que a pesquisa envolveu um tipo de ratazana (Microtus orchrogaster) conhecida por sua fidelidade: os casais nunca se separam e mantém até a morte a mesma dedicação, extensiva aos rebentos que provierem de sua união. Fidelíssimos.
Quando o assunto é gente, no entanto, por algum tempo os desiludidos terão ainda de procurar curtir a dor, no melhor das hipóteses aliviada pela ação dos medicamentos convencionais. De minha parte, tradicionalista assumido em termos afetivos, concluo que este é o caminho mais curto até a superação desse sofrimento incomunicável que só quem já passou pode dimensionar com precisão. Sobre isso, a propósito, depois do imenso sucesso do romance O passado, do argentino Alan Pauls, que, encantado, li há poucos dias, fui ver, em DVD, o filme homônimo de Hector Babenco. E gostei muito.
É a história de um casal, Rimini e Sofia, que tem de enfrentar as barras de uma separação mal-resolvida (se é que existem separações bem-resolvidas). No começo, a situação é tratada com uma delicadeza que comove, até que aparece na vida dele outra mulher com quem decide reconstruir sua vida. Sofia, então, passa a se desorganizar emocionalmente. Um dia, deparando com o ex sendo beijado por uma moça, tenta fugir dali e morre atropelada. O acidente, claro, vai repercutir na vida de Rimini.
O filme, num nível estético que considero equivalente ao livro, tem pegada e é bem conduzido pela câmera sensível de Babenco, dentro de cuja narrativa serão recorrentes as referências a outros filmes sobre o amor e o sofrimento que dele, quase invariavelmente, advém. É o caso de Rocco e seus irmãos, de Lucchino Visconti, e A história de Adèle H, de François Truffaut, emblemáticos, sublimes e inesquecíveis sobre as paixões não correspondidas. Para quem não os viu, ainda, os dias de Carnaval convidam a fazê-lo. Refiro-me aos que não estão com o coração em pedaços, é bom lembrar.