quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Canção para Ignez

Os passos já não têm a mesma firmeza,
nem os movimentos, a mesma graça, o ritmo de antes. 
Os olhos, no entanto, plenos de luz e beleza, 
como faróis acessos, em meio à escuridão, vigilantes e atentos,
fazem lembrar janelas d'alma, como quis Platão.
E assim sendo, veem o que somente olhos tão belos podem ver:
Tudo é cor, formas, texturas, volumes, traços. Tudo o que alegra e contenta,

que nos dá calma.
Se, em circunstâncias, quaisquer que fossem, tivéssemos, tomados de encanto,
que descrever a rainha, a mulher...
Sensibilidade, elegância, bondade, perseverança, outras
não seriam, não poderiam ser, as palavras,
precisas, justas, que, assim sensível, poucos foram, como ela, os de outrora, 
e dois ou três (juro!), virão a ser os do futuro...
E por que negar?  --  mesmo os de agora.
Por isso, a luminosidade de sua percepção acolhe, num piscar de pálpebras,
a lógica, a medida certa, de todos os espaços,
e, possuindo-os, como se fossem seus, diga-se de novo, todos
os espaços, cobra deles a relação perfeita, do todo
e das partes...
A cadência, a harmonia, o equilíbrio... Como dizer à maneira de Aristóteles, Kant, Plotino, Hegel? Ela quer
a proporção exata  --  e, é óbvio, a transcendência das coisas sublimes, das coisas belas...
 
Ah, Ignez, não existisses... e teríamos, 
súditos e em pranto, de criar,  como os artistas,
em ato de milagre, cobertos de espanto, a tua grandeza interior,
teu glamour, teu charme, tua força de deusa... ou só mulher?
Seja uma coisa e outra, por certo, é claro, roubando de ti um não-sei-quê de santo.
O saber fazê-lo? O senso estético?
Tudo isso e mais um pouco, da tua arte, dos teus segredos,
da tua essência... Da tua verve? Da tua pele?
Ainda que fosse, um fio, apenas, 
dos teus cabelos?
 
 
           

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