Curiosamente, numa coincidência geográfica digna de nota, são de Piracicaba, SP, as duas declarações sobre política que mais me chamaram a atenção durante a semana. Dois discursos, dois olhares.
O primeira deles, assinado pelo senhor Antônio Roberto de Godoi, teve espaço numa revista semanal de prestígio, e tomo a liberdade de transcrever aqui, na íntegra, seu conteúdo:
"Em 2002, no fim do governo de oito anos do PSDB, a Petrobrás tinha valor de mercado de 15 bilhões de dólares. Atualmente, vale 107 bilhões (sete vezes mais). Especulador que ganhou com a bolha da energia roga praga agora. Mas ganharam muito e não deveriam chorar de barriga cheia. Com o propósito de atingir a maior empresa do País, o vazamento seletivo de 'informações sigilosas' tem finalidade clara de corrosão da verdade com uso político para determinados grupos. Privar propositalmente da verdade a sociedade brasileira e deixar que uma única revista interprete a seus interesses as informações é repugnante".
A revista a que se refere Godoi, percebe-se, é a Veja, cujas leviandades resultaram anteontem na conquista do direito de resposta do PT, em página inteira, como noticia na edição de hoje, 25 de setembro, o jornal Folha de S. Paulo.
O segundo, contaminado pelo ódio ao PT e aos petistas, afirma: "O Lula só nos enche de orgulho! Esse partido e seus membros foram a pior coisa que já aconteceu a esse país. Devia estar mofando na cadeia, ele e sua corja" (sic).
São palavras proferidas, neste caso, por um talentoso fotógrafo do jornal Gazeta de Piracicaba, Christiano Dehl, por quem, aliás, nutro mais que um sentimento de simples amizade, pois o tenho no escaninho do coração em que se encontram algumas das pessoas mais queridas.
Li isso e fiquei a pensar com os meus botões: O que pode a linguagem, que permite a filhos de um mesmo chão, no caso a simpática e poética Piracicaba, sobre a mesma "realidade", deitar raízes em sentimentos ao mesmo tempo tão "convictos" e contrários em sua essência e suas intenções. Fui mais longe: Como é de alguma forma positivo que ela [a linguagem] se torne um instrumento livre para o conflito aberto de interesses e motivações! Mas é preciso cuidado.
A linguagem, como observou Hielmslev, é mesmo uma forma de o homem agir no mundo, de tomar partidos, de fazer escolhas e de justificá-las com os seus próprios instrumentos [dela, a linguagem], de tentar influenciar os outros, de estabelecer identidades, de exprimir sentimentos e emoções, a exemplo dos dois piracicabanos, mas, (in)felizmente, a linguagem é também capaz de criar falsas realidades, de vender "verdades", de deliberar condenações, o sabemos desde Platão.
Se, no primeiro caso, o discurso se constrói sobre bases racionais, uma vez que seu autor fornece dados que dão pertinência a suas afirmações (e a condenação da Veja, por unanimidade dos ministros do Superior Tribunal Eleitoral, parece confirmar), no segundo nasce de uma emoção, apenas, e, como ocorre quase sempre no caso dos discursos construídos sobre e sob a emoção, ressente-se de uma argumentação objetiva, advém de um mero exercício de subjetivação que mais o invalida que convence sobre qualquer aspecto.
Como afirmou esta semana o respeitável jornalista Maurício Dias, acerca dessas "convicções" nascidas do mais explícito antipetismo, "da fonte do medo também brota o ódio". E ele nada de positivo constrói!
O primeira deles, assinado pelo senhor Antônio Roberto de Godoi, teve espaço numa revista semanal de prestígio, e tomo a liberdade de transcrever aqui, na íntegra, seu conteúdo:
"Em 2002, no fim do governo de oito anos do PSDB, a Petrobrás tinha valor de mercado de 15 bilhões de dólares. Atualmente, vale 107 bilhões (sete vezes mais). Especulador que ganhou com a bolha da energia roga praga agora. Mas ganharam muito e não deveriam chorar de barriga cheia. Com o propósito de atingir a maior empresa do País, o vazamento seletivo de 'informações sigilosas' tem finalidade clara de corrosão da verdade com uso político para determinados grupos. Privar propositalmente da verdade a sociedade brasileira e deixar que uma única revista interprete a seus interesses as informações é repugnante".
A revista a que se refere Godoi, percebe-se, é a Veja, cujas leviandades resultaram anteontem na conquista do direito de resposta do PT, em página inteira, como noticia na edição de hoje, 25 de setembro, o jornal Folha de S. Paulo.
O segundo, contaminado pelo ódio ao PT e aos petistas, afirma: "O Lula só nos enche de orgulho! Esse partido e seus membros foram a pior coisa que já aconteceu a esse país. Devia estar mofando na cadeia, ele e sua corja" (sic).
São palavras proferidas, neste caso, por um talentoso fotógrafo do jornal Gazeta de Piracicaba, Christiano Dehl, por quem, aliás, nutro mais que um sentimento de simples amizade, pois o tenho no escaninho do coração em que se encontram algumas das pessoas mais queridas.
Li isso e fiquei a pensar com os meus botões: O que pode a linguagem, que permite a filhos de um mesmo chão, no caso a simpática e poética Piracicaba, sobre a mesma "realidade", deitar raízes em sentimentos ao mesmo tempo tão "convictos" e contrários em sua essência e suas intenções. Fui mais longe: Como é de alguma forma positivo que ela [a linguagem] se torne um instrumento livre para o conflito aberto de interesses e motivações! Mas é preciso cuidado.
A linguagem, como observou Hielmslev, é mesmo uma forma de o homem agir no mundo, de tomar partidos, de fazer escolhas e de justificá-las com os seus próprios instrumentos [dela, a linguagem], de tentar influenciar os outros, de estabelecer identidades, de exprimir sentimentos e emoções, a exemplo dos dois piracicabanos, mas, (in)felizmente, a linguagem é também capaz de criar falsas realidades, de vender "verdades", de deliberar condenações, o sabemos desde Platão.
Se, no primeiro caso, o discurso se constrói sobre bases racionais, uma vez que seu autor fornece dados que dão pertinência a suas afirmações (e a condenação da Veja, por unanimidade dos ministros do Superior Tribunal Eleitoral, parece confirmar), no segundo nasce de uma emoção, apenas, e, como ocorre quase sempre no caso dos discursos construídos sobre e sob a emoção, ressente-se de uma argumentação objetiva, advém de um mero exercício de subjetivação que mais o invalida que convence sobre qualquer aspecto.
Como afirmou esta semana o respeitável jornalista Maurício Dias, acerca dessas "convicções" nascidas do mais explícito antipetismo, "da fonte do medo também brota o ódio". E ele nada de positivo constrói!