Entre amigos, vem à tona o tema do racismo, outra vez colocado na agenda do melhor debate. Como das últimas vezes, o futebol é o palco de que emanam as provas contundentes de que, no Brasil, como nos Estados Unidos ou na Europa, homens e mulheres de cor são alvo da injúria racial e de racismo, que, se sabe, têm penas distintas, posto que se trata de dois tipos de crime.
O primeiro, previsto no art. 140, p. terceiro, do Código Penal, estabelece pena branda (três anos e cumprimento da condenação em regime aberto, em albergue domiciliar), caracteriza-se por ofensa pessoal, como ocorreu ao goleiro Aranha, do Santos, em Porto Alegre, há coisa de duas semanas. Para o segundo, tipificado como crime contra um número indeterminado de pessoas, estigmatizadas pela cor da pele, não há a prescrição, não cabe fiança nem liberdade sequer provisória. É cadeia.
Caprichos da Justiça, pois não se veem razões lógicas para tal distinção. Esperar que o ofendido manifeste sua indignação ante o menosprezo, sem o que nada ocorrerá ao ofensor, é contribuir para a manutenção de um problema que se arrasta através dos tempos e é, em tudo, inaceitável. Ambos os casos, injúria ou racismo, são crimes que afetam a dimensão humana de todos, independentemente de raça ou diferenças de qualquer natureza.
A discussão, como a dar consistência ao que afirmo acima, ganha novos contornos com as declarações, não raro infelizes, de um negro célebre, ninguém menos que o senhor Edson Arantes do Nascimento, para quem tais manifestações [de racismo] são compreensíveis nas circunstâncias de um jogo. Segundo Pelé, reportando-se aos insultos dirigidos ao goleiro Aranha, "quanto mais atenção se der a isso, mais vai aguçar."
Não é preciso muito esforço, como se vê, para concluir que a opinião de Pelé, sob o pretexto de "acalmar" o debate, materializa um racismo dissimulado, na medida em que expressa sua indiferença para com o preconceito de que são vítimas centenas de milhares de negros em todo o País. A declaração, pois, vinda de quem vem, contribui para o fortalecimento de um discurso odiento recorrentemente colocado à mesa sempre que se discute a questão racial: "O pior racista é o negro!"
No caso brasileiro, para maior vergonha, pois, o racismo impera nos quatro cantos do território nacional trazendo em suas entranhas outro juízo não menos condenável, o de que a posição social, proporcional à riqueza de cada um, é capaz de disfarçar diferenças de cor e outras diferenças mais.
Assim, mesmo nas conversas informais, o discurso se fortalece, subterrâneo, empenhado em ocultar intenções, posições de domínio, desvelando convicções, na linha do que examina em sua obra o filósofo Michel Foucault. Para o autor de As palavras e as coisas, "o discurso não é apenas aquilo que traduz as lutas, [...] mas aquilo pelo que se luta, o poder que se tenta possuir." Por trás das palavras, portanto, pulsa o preconceito que se diz combater.
O primeiro, previsto no art. 140, p. terceiro, do Código Penal, estabelece pena branda (três anos e cumprimento da condenação em regime aberto, em albergue domiciliar), caracteriza-se por ofensa pessoal, como ocorreu ao goleiro Aranha, do Santos, em Porto Alegre, há coisa de duas semanas. Para o segundo, tipificado como crime contra um número indeterminado de pessoas, estigmatizadas pela cor da pele, não há a prescrição, não cabe fiança nem liberdade sequer provisória. É cadeia.
Caprichos da Justiça, pois não se veem razões lógicas para tal distinção. Esperar que o ofendido manifeste sua indignação ante o menosprezo, sem o que nada ocorrerá ao ofensor, é contribuir para a manutenção de um problema que se arrasta através dos tempos e é, em tudo, inaceitável. Ambos os casos, injúria ou racismo, são crimes que afetam a dimensão humana de todos, independentemente de raça ou diferenças de qualquer natureza.
A discussão, como a dar consistência ao que afirmo acima, ganha novos contornos com as declarações, não raro infelizes, de um negro célebre, ninguém menos que o senhor Edson Arantes do Nascimento, para quem tais manifestações [de racismo] são compreensíveis nas circunstâncias de um jogo. Segundo Pelé, reportando-se aos insultos dirigidos ao goleiro Aranha, "quanto mais atenção se der a isso, mais vai aguçar."
Não é preciso muito esforço, como se vê, para concluir que a opinião de Pelé, sob o pretexto de "acalmar" o debate, materializa um racismo dissimulado, na medida em que expressa sua indiferença para com o preconceito de que são vítimas centenas de milhares de negros em todo o País. A declaração, pois, vinda de quem vem, contribui para o fortalecimento de um discurso odiento recorrentemente colocado à mesa sempre que se discute a questão racial: "O pior racista é o negro!"
No caso brasileiro, para maior vergonha, pois, o racismo impera nos quatro cantos do território nacional trazendo em suas entranhas outro juízo não menos condenável, o de que a posição social, proporcional à riqueza de cada um, é capaz de disfarçar diferenças de cor e outras diferenças mais.
Assim, mesmo nas conversas informais, o discurso se fortalece, subterrâneo, empenhado em ocultar intenções, posições de domínio, desvelando convicções, na linha do que examina em sua obra o filósofo Michel Foucault. Para o autor de As palavras e as coisas, "o discurso não é apenas aquilo que traduz as lutas, [...] mas aquilo pelo que se luta, o poder que se tenta possuir." Por trás das palavras, portanto, pulsa o preconceito que se diz combater.
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