sexta-feira, 13 de maio de 2016

Triste Brasil

É verdade que os rótulos direita, centro e esquerda perderam hoje sua validade rigorosa, se é que a tiveram um dia. Têm suas raízes no final do século XVIII, mais exatamente nos anos que antecederam à Revolução Francesa. Na tentativa de tornar os debates mais organizados em face das divergência não raro pontuadas por atos de violência física, o presidente das assembleias separou a sua direita e a sua esquerda os militantes contrários ou a favor das mudanças, nessa ordem. Girondinos e jacobinos. Desde então se convencionou considerar-se de direita aqueles que se posicionam contra os avanços, e, de esquerda, aqueles que se colocam a favor das transformações ditas progressistas, isto é, que buscam os caminhos pelos quais se possa alcançar uma sociedade mais igualitária e mais livre.
A coisa, com o passar do tempo, foi se tornando mais complexa. Alguns, se não se contrapõem aos avanços e conquistas, não os querem radicais, mas lentos, consentidos pela sociedade civil. O mesmo ocorrendo aos de direita, por conseguinte, que muitas vezes não querem mudanças, mas não nutrem a pretensão de voltar ao passado.
Surgiram novos conceitos, extrema-direita, centro-direita, centro-esquerda e extrema-esquerda, ou seja, os que querem a reimplantação dos fundamentos ditos ultrapassados, os que querem a manutenção da ordem e são contrários a quaisquer avanços, os que defendem que esses avanços sejam graduais, no ritmo das possibilidades históricas e aqueles que buscam pelas práticas revolucionárias o estabelecimento de estruturas de governo populares, voltadas para o povo e, teoricamente, por ele exercido.
Numa ressignificação desses conceitos, pois, é que se pode dizer que no Brasil se dá um golpe em favor das classes dominantes e reinstala-se no país um governo de extrema-direita, ou reacionário, o seu equivalente mais moderno. Nesses termos, portanto, é que Michel Temer assume, sem a legitimidade do voto, o comando dos destinos políticos do país. Vejamos: Após 13 anos de um governo reformista (os governos do PT nunca foram de esquerda, como equivocadamente alguns os consideram), que tornaram realidade conquistas importantes para o povo, os mais pobres e as minorias, o Brasil dá uma volta à direita, destina-se ao atendimento dos interesses do capital, norteado por um liberalismo econômico perverso e, descaradamente, contrário às minorias. Novamente, vejamos.
Na composição do seu ministério, nenhuma mulher, algo jamais verificado no país desde a era dos generais; nenhum negro; entrega a pasta da Educação ao DEM, cuja atuação em nível do congresso dificultou a aprovação de programas de apoio aos estudantes pobres e a adoção de cotas para afrodescendentes e índios; para o Ministério do Desenvolvimento Social, que abriga o Bolsa Família, escala um deputado do PMDB que rotulou o referido programa de "coleira política"; para a Justiça um ex-advogado de uma facção criminosa e que, como Secretário de Segurança Pública de São Paulo, determinou porrada contra os estudantes, além de maquiar vergonhosamente os números da violência em seu estado, etc., etc.
A foto de sua posse, do presidente golpista Michel Temer, é assustadora. Enquanto Dilma fez seu pronunciamento  --  primoroso, diga-se de passagem  --  ladeada por quadros expressivos do sindicalismo, das lutas estudantis, de lideranças femininas, de ex-presos políticos e representantes legítimos de inúmeros movimentos sociais, Temer aparece ao lado do que existe de mais ultrapassado, a dita direita "brucutu", gente das bancadas ruralista, da bala, dos evangélicos mais retrógrados, que pregam o que definem como "cura gay", a perseguição explícita aos LGBTs. Não à toa, registre-se, reuniu-se por mais de uma hora com os pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano, com quem teria firmado compromissos de arrepiar cabelo de elefante. Durma-se com essa realidade! Triste Brasil.
 
 

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