terça-feira, 24 de maio de 2016

Conto da desfaçatez

Era minha intenção dar um tempo nos temas políticos e voltar ao que é mesmo o esteio deste blog: um espaço dedicado à Arte em suas diferentes linguagens, cinema e literatura à frente. Mas o calor dos acontecimentos, que reinserem o golpe na pauta do dia, convoca-me a fazer aqui registros que traduzam a linha de pensamento por que temos historicamente norteado nossos passos aqui e além. Em verdade, cedo o espaço da coluna de hoje para vozes do atual governo.
Para quem professava a afirmação de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff fora um processo lícito, amparado em fundamentos meramente constitucionais, os fatos dessa segunda-feira 23 clarificam o que esteve sempre por trás das articulações maquiavélicas (no mau sentido do termo) dos partidos ditos de oposição. Refiro-me, é óbvio, às gravações da conversa entre o homem forte do governo golpista  --  e grande líder das maquinações escusas contra Dilma e o PT  --, Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. O teor, sabemos, é de enrubescer de vergonha qualquer cidadão. Mas são eles que "escreverão" a coluna de hoje, como disse, um tipo de conto da desfaçatez. Boa leitura.
 
MACHADO - Agora, ele (Lula) acordou a militância do PT.
JUCÁ - Sim.
MACHADO - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
JUCÁ - Eu acho que...
MACHADO - Tem que ter um impeachment.
JUCÁ - Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO - E quem segurar, segura.
JUCÁ - Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela gente.
[...]
MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel (Temer).
JUCÁ - Só o Renan (Calheiros) que está contra essa porra. Porque não gosta do Michel, porque Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.
MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.
[...]
MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ - Caiu. Todos eles. Aloysio (Nunes, senador), o Serra, Aécio (Neves, senador).
MACHADO - Caiu a ficha. Tasso (Jereissati) também caiu?
JUCÁ - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
MACHADO - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
JUCÁ - Todos, porra. E vão pegando e vão...
[...]
MACHADO - O que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele (Aécio Neves) ser presidente da Câmara. Amigo, eu preciso da sua inteligência.
[...]
MACHADO - Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
[...]
MACHADO - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...
JUCÁ - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...
JUCÁ - É, a gente viveu tudo. 


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