sexta-feira, 3 de agosto de 2018

No andar da carruagem


Mais de três meses após sua prisão (sem provas!), Lula continua a animar os debates em torno da sucessão presidencial. Tudo, tudo, por uma razão muito simples: Impedido de ser candidato, objetivo indisfarçável de uma Justiça comprometida com o que existe de mais abominável em termos morais e ideológicos, mesmo assim todos os fatos políticos apontam para uma disputa entre o candidato por ele indicado e Alckmin, no segundo turno. Sem perder de vista que é precipitado emitir opinião a esta altura do campeonato, pelo que corro o risco de ser criticado depois, arrisco expor aqui a minha percepção de como anda a carruagem no cenário eleitoral de 2018.

Começo pelo candidato Ciro Gomes, que, mais uma vez, parece desconstruir a sua imagem em razão de não saber silenciar seu "sturm und drang" (paixão e ímpeto), para me valer de uma expressão muito usada entre os estudiosos de literatura com que se define uma poesia selvagem, ferina, espontânea, incontida, surgida na Alemanha entre 1760 e 1780. Ou seja, reunindo excelentes condições intelectuais, uma visão de mundo avançada, entre outras qualidades positivas inegáveis, o candidato do PDT, reeditando seu comportamento em campanhas passadas, vem se revelando incapaz de conter seu temperamento explosivo, de conviver com o contraditório, de administrar divergências, de exercitar a bela experiência da alteridade. O resultado, quando se age assim, nunca é outro: perde-se apoio, cai-se vertiginosamente nas pesquisas e inviabiliza-se, da noite para o dia, qualquer alternativa de ação em termos eleitorais. É improvável que vá para o segundo turno.

Como prova de que nem tudo está perdido, felizmente, o pior dos nomes com chances iniciais de vencer a eleição, Jair Bolsonaro, vai dando a ver, mesmo para os mais empolgados de primeira hora, inimigos figadais de Lula e do PT, que é mesmo um mito (no mau sentido!): uma mentira ardilosa, um engodo, um embuste, uma cilada capaz de levar o país ao pior desastre que se pode imaginar em termos políticos. Na medida em que se aproxima o dia da eleição, é ter olhos para ver, o candidato da extrema-direita como que se liquidifica, sob o peso de sua desfaçatez e da ausência de propostas minimamente racionais para um país à beira do abismo. Homofóbico, racista, reacionário, propenso à violência de toda ordem, entusiasta da tortura, Bolsonaro dificilmente irá para o segundo turno, prova, insisto, de que nem tudo está perdido.

Nesse cenário, pois, como dito acima, é que tudo está levando a crer que, em 2018, de novo a disputa se dará entre os candidatos do PT e do PSDB, afastando-se, claro, a hipótese remota de que Marina Silva revele-se portadora de uma capacidade política incomum, contrária a qualquer reflexão teórica que tome por base a sua história nas últimas eleições. 

Neste quadro, inicialmente confuso e improvável, nem mesmo começou a campanha e as coisas parecem ir tomando um rumo menos imprevisível. Com os minutos de que dispõe na tevê, nas regras questionáveis da proporcionalidade representativa adotadas pelo TSE, e vantagem a ser considerada como decisiva para uma candidatura em primeiro turno, Alckmin deve ir para a disputa final.

Assim, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, se confirmada a sua indicação por Lula, líder absoluto das pesquisas, despudoradamente afastado do processo pela elite empresarial brasileira e seus asseclas de plantão, poderá ser mesmo o nome com maior chance de vitória no segundo turno. É ver para crer. Tenho dito.

 

   

 

 

 

 

 

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