sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Louvação ao poeta amigo

"O poeta é um fingidor/finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/a dor que deveras sente", são os versos iniciais do poema Autopsicografia, do poeta português Fernando Pessoa. É com eles que abro a coluna de hoje, singela louvação a Cícero Braz de Almeida.
O meio da semana em Fortaleza foi marcado, no campo da literatura, pelo lançamento do livro "Porta Estreita", de Cícero Braz de Almeida. O local não poderia ter sido melhor, o salão de eventos do novo "Docentes & Decentes", leve-se em conta que o nome do recém-inaugurado restaurante remete a uma história de boemia que lembra, por exemplo, os velhos tempos do "Cais Bar" e do "Estoril", cenários da melhor e mais notável convivência de artistas cearenses.
A exemplo dos dois aclamados epicentros de noites inesquecíveis, o "Docentes & Decentes" traz à memória tempos que entraram na história de nossa cultura popular.
Cenário de grandes festas da literatura, da boa convivência e do repertório musical mais refinado, lá, por certo, Cícero Braz terá gestado em sua alma prolífica muito do que agora publica no seu belíssimo e mais novo trabalho, objeto da entusiástica recepção por parte de estudiosos da literatura, escritores, músicos, cantores, compositores e, o que é mais importante, conforme destacou em seu rápido e comovente depoimento, amigos que Braz conquistou do alto de seu notável carisma como pessoa humana coberta de luz.
Tenho pela arte de Cícero Braz de Almeida uma particular admiração. Trata-se de artista de múltiplas habilidades: letrista, poeta, prosador, instrumentista e intérprete de reconhecido talento, por cujas searas trafega com igual segurança e apurado gosto estético.
Agora, com o livro "Porta Estreita", aposta num arco literário mais exigente (a literatura "livresca" propriamente dita), posto que, no plano do conteúdo, a coletânea reedita temas conhecidos de sua trajetória como compositor e intérprete
É no plano da expressão, portanto, que se pode perceber no livro suas incursões mais elaboradas, o jeito pessoal de construir o poema. Explico melhor: Por ser músico, e dos bons, sua poesia dá a ver um domínio de linguagem musical extremamente sedutor, colocando-se muito acima da dimensão meramente semântica do texto, mesmo quando, de modo consciente, opta por descumprir padrões de versificação tradicionais.
É, portanto, a força musical que sobressai, e o poema derrama-se em melodiosa experiência sonora, sob cuja matéria impera um rigoroso senso de medida, em que pese alguma irregularidade do estilo, revelando o criador cônscio de suas potencialidades e contenções --- estas, próprias daqueles que não se atiram a aventuras enquanto escritores; aquelas, muito maiores e mais frequentes no conjunto de sua produção e de suas inquietações artísticas.
Como já disse em comentário a outro de seus livros, Cícero Braz não é apenas um artista versátil e eclético, desses que surgem vez e outra nos meios literários. Se o artista faz bem tudo o que faz artisticamente falando, a pessoa humana é singular, um tipo de que andam carentes os tempos de hoje.
Isso para não descer a curiosidades, como o fato de ser ele um notável conhecedor da música popular brasileira, capaz de, com sua memória prodigiosa, ao primeiro acorde, para além de identificar a música, dizer quem a compôs, e, não raro, em que circunstâncias o fez.
Sob este aspecto, é aula escutar o que tem sempre a dizer sobre os bastidores da MPB, os encontros e desencontros de grandes nomes do cancioneiro popular, suas impensáveis excentricidades, seus mistérios íntimos mais inconfessáveis, suas intensas e mal resolvidas paixões, suas conquistas e seus fracassos mais comoventes. Aula e prazer sem nome, acrescento.
Numa noite de beleza radiante, para um contingente de boêmios e frequentadores históricos, como a renascer das cinzas, qual fênix, o novo "Docente & Decentes" foi palco de uma festa memorável, e a poesia de Cícero Braz objeto de sensibilizadora aclamação. 
 
 
 

2 comentários:

  1. Meu querido amigo, Álder, recebo suas palavras como um bálsamo de amor. Suas palavras calam fundo no meio literário, justo você por quem uma admiração profunda. Ficarão no meu coração os lisonjeios e deixo para os seus meus mais profundos carinho e agradecimentos. Grande abraço

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  2. Foi lindo demais! Meu poeta Cícero Braz de Almeida é merecedor dessa grande alegria.

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