sexta-feira, 10 de maio de 2013

Paul McCartney botou boneco

Quase me curvando ao peso de uma virose, fui ao Castelão levar minha filha ao show de Paul McCartney. Descontadas as quatro horas e meia de deslocamento (isto mesmo: quatro horas e meia para percorrer a distância de pouco mais de 20 quilômetros de onde moro até o Castelão!), para não falar da desorganização no entorno do estádio, os problemas de estacionamento mesmo para quem o pagara com antecedência e o fato de só poder estar em casa por volta de três da manhã, valeu! Valeu mesmo!
 
Do alto dos seus 72 anos de idade, o ex-beatle fez um show de encher os olhos, mesmo por que os efeitos visuais do espetáculo são um item à parte na produção de Out There, como denominou a sua turnê atual. Afora isso, o show impressiona mesmo é pela força da genialidade de Paul McCartney e pelo profissionalismo irretocável com que se apresenta aos seus fãs, levando-os invariavelmente ao delírio a cada canção.
 
Para muita gente, como eu, que só pode adentrar o estádio uns 15 ou 20 minutos depois de iniciado o show, foi emocionante deparar com o artista "executando" (a guitarra é por si só um concerto) o clássico All my loving. Vieram em seguida outros sucessos dos Beatles, como Eight days a week, Your mother should know e a impagável Lovely Rita, que, segundo fui informado pelos fãs mais atentos, jamais tocara antes de Out There em carreira solo.
 
Para quem é afeito às interações entre artistas e público, no que tem sido uma marca de suas apresentações no Brasil, não faltaram as referências  --  em português pelo menos compreensível  --  aos jargões da terra: "Vamos botar boneco", diz Paul McCartney mais de uma vez durante o espetáculo, ou "Vamos vazar", acompanhado do gesto tradicional com que, em bom cearensês, é costume se dizer em lugar de "vamos sair à francesa!"
 
Por essas e outras, Out There agrada a gregos e a troianos, mesmo para aqueles a quem o passar dos tempos foi capaz de embotar tanta coisa: diferentemente da minha filha Carol, que tem o seu inglês em dia, tentei, sem o conseguir, relembrar as letras de algumas das canções antológicas do velho Paul McCartney, a exemplo de We can work it out ou a soberba All together now . 
 
A essa altura do show, no entanto, o estádio por inteiro parecia afinado sob as cordas dos muitos violões e guitarras (Paul troca de instrumento sucessivas vezes) de que o ex-beatle tirava os acordes inconfundíveis de suas mais belas canções. Quando uma plataforma móvel ergue o astro às alturas, sozinho ao violão, a emoção que se sente é incomunicável. Se a expressão pode ter uma conotação positiva, nessa quinta-feira à noite, Paul McCartney botou boneco em Fortaleza. Show!
 
           

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Lula, o ódio e a inveja

Recebo de um amigo texto sobre a estreia de Lula como articulista do mais importante jornal americano. Vem em desagravo do ex-presidente, objeto da pequenez de espírito, da inconsistência intelectual e da desfaçatez de um punhado de brasileiros que não se conformam com o fato de um nordestino, pobre e sem escolaridade, chegar à presidência da República, levar a efeito
um governo popular e conquistar o respeito do mundo inteiro, realidade que o coloca entre os grandes candidatos ao Nobel da Paz, fato impensável para um país de pouco prestígio internacional até a chegada deste gênio da raça ao cargo mais importante do país. Vejam-no na íntegra: 
 
A trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva é conhecida. Ex-retirante, tornou-se operário, líder sindical, presidente e, depois disso, aprovado pela grande maioria de seu povo, passou a ser também reconhecido internacionalmente. À esquerda, pelo historiador Eric Hobsbawn, que afirmou que Lula "ajudou a mudar o equilíbrio do mundo, ao trazer os países em desenvolvimento para o centro das coisas". No mercado financeiro, por Jim O'Neill, da Goldman Sachs, que criou a palavra Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e o definiu como o maior estadista do mundo nas últimas décadas.
Lula, portanto, é um ativo valioso, que interessa a qualquer publicação no mundo. Além disso, com sua agenda internacional focada, sobretudo, na África, ele é hoje seríssimo candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Por isso mesmo, recebeu um convite para publicar uma coluna mensal no The New York Times, maior jornal do mundo, onde poderá defender suas causas e bandeiras. A história de superação de Lula, desprezada por analistas rancorosos e invejosos no Brasil, mas reconhecida até por seus adversários políticos, hoje inspira líderes do mundo inteiro.
Isso não significa, no entanto, que Lula está obrigado a redigir de próprio punho seus artigos. Como colunista, Lula, naturalmente, delegará a tarefa de produzir textos a algum escriba. É assim, sempre foi e sempre será no mundo inteiro. Políticos são homens de ação. Quando transplantam suas ideias para o papel, em geral, contam com auxílio profissional. Afinal, é para isso que existem jornalistas e ghost-writers. Tancredo Neves, por exemplo, que pronunciou alguns dos mais memoráveis discursos da história brasileira, delegava a tarefa ao jornalista Mauro Santayana. Bill Clinton e Barack Obama também têm ghost-writers.
No entanto, de Lula, cobra-se o que jamais foi cobrado de qualquer outro político brasileiro. Em Veja.com, Augusto Nunes classifica o ex-presidente como uma espécie de analfabeto, incapaz de pronunciar um "tanquiú". Escriba de luxo de seus patrões, Nunes já se prestou a todo tipo de tarefa – entre elas, a de exaltar o "caçador de marajás" Fernando Collor, como está bem detalhado no livro Notícias do Planalto, de Mário Sérgio Conti, ex-diretor de Veja.
Estávamos, no 247, decididos a não comentar o texto de Nunes, uma das peças mais insignificantes já publicadas por algum de veículo de comunicação no Brasil. Mas não se trata, infelizmente, de um movimento isolado. No domingo, dia 28, em Época, Guilherme Fiúza, que se notabilizou por biografias de personagens como Bussunda e Reynaldo Giannechini, além do livro Meu nome não é Johnny, consegue descer ainda mais baixo do que seu concorrente em Veja.
Segundo ele, a coluna concedida a Lula é a prova de que "os norte-americanos estão levando a sério o projeto de decadência do império norte-americano". Diz ele ainda que Lula se tornou para o New York Times "um suvenir da pobreza, desses que a esquerda norte-americana ama". Fiúza sugere que Lula escreva Rose's story e diz que ele poderá "narrar as peripécias de Waldomiro, Valdebran, Gedimar, Vedoin, Bargas, Valério, Delúbio, Silvinho, Erenice, Rosemary e grande elenco". Por último, pede a Dilma que proíba a Polícia Federal de ler sua coluna.
O que dizer de personagens como Augusto Nunes e Guilherme Fiúza? Nada, a não ser "sorry, periferia".