segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Consultório sentimental
Amiga telefona-me em prantos. Rompeu o namoro e, arrependida, quis voltar. Encontrou resistência e não conseguiu reverter a situação. Está sofrendo e, frustrada em sua tentativa de reconciliação, sente-se humilhada. - "Foi horrível, estou me sentindo um lixo. Minha autoestima está no chão!" Calma, amiga. A coisa não é bem assim, esses fatos fazem parte da história dos amantes. O amor não é um embate de corações fortes, ainda que a paixão nos dê a equivocada sensação de que somos donos do mundo. Pura embriaguez. O amor, na perspectiva da passionalidade, é antes o encontro de corações sensíveis e delicados. Gelatina pura. Por isso, tanta emoção, tantos altos e baixos, tantas lágrimas nos momentos de contentamento e nos momentos de dor.
O que lhe aconteceu, e que a deixa tão para baixo nesse instante, é próprio de quem ama e sente-se contrariado quando o enamoramento, essa fase mágica da relação, vai cedendo espaço para a realidade da vida. Mesmo dos amantes. Vai ver, cedo ou tarde, o coração aparentemente endurecido do seu ex-namorado, pode amolecer, se de fato ainda sente por você aquilo que um dia os fez desmoronar na presença do outro. Ou não, como diria Caetano. Aí, é juntar os cacos e tocar a vida. Lembra de uma crônica em que citei Alejandro Gândara e de que você disse gostar? - "Sofrer uma desilusão amorosa é que nem estar num barco e enjoar. Você pensa que vai morrer, mas os outros apenas acham graça do seu desespero." É assim. O que lhe ocorreu não é um fato isolado, uma experiência de profundo desconforto que só você viverá. Como disse, faz parte da vida dos amantes.
Por sinal, se o coração endurece, é porque o amor já deixara de existir, pelo menos da parte dele. É a verdade que dói, nunca a dor vai chorar tão grande dor, como quis o poeta, compreendo, aquilo que você menos queria ouvir de mim. Mas é preciso encarar o luto que advirá disso, se for mesmo essa a realidade que a espera. O tempo dirá o que em verdade está se passando com o relacionamento de vocês. Se quer abreviar esse tempo que não tem fim, para quem sofre, é importante procurar ver se havia os sinais que só agora você percebe. Se você rompeu a relação é provável que não o tenha feito por impulso, embora isso seja próprio dos amantes, também. Falo dos sinais que o companheiro, no seu caso, foi dando e você, nas nuvens, nem se deu conta. Um pretexto aqui, outro acolá, para evitar o encontro que você tanto desejou; um beijo menos 'sentido', um carinho forçoso, as mensagens do celular que chegavam com tanta frequência e, de repente, começaram a rarear; os textos mais frios e sem a poesia de antes.
Sei que não é fácil para você identificar esses sinais, agora que o peito aperta e a dor que não tem nome é como uma pequena morte. Quem sabe você já não perdera seu namorado havia tempos, mas seus olhos apaixonados eram pequenos para enxergar a proximidade do fim. Permita-me citar Távola, em uma de suas crônicas antológicas sobre o tema: - "Não tem namorado quem não sabe dar o valor de andar de mãos dadas, do carinho safadinho no escuro do cinema cheio, da flor catada no muro e entregue de repente, da poesia de Fernando Pessoa e Vinícius de Moraes..." Veja, amiga, se as coisas estavam andando assim entre vocês. Do contrário, é crise passageira, porque ainda existe amor. E você, por quem estou torcendo com a minha melhor emoção, vai ter seu namorado de volta. Mas tenha paciência, valorize o silêncio, deixe o tempo dizer.
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Professor de Estética, História da Arte, Literatura Dramática e Comunicação e Linguagem.
Escreve contos, crônicas e artigos de análise literária.
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