segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A arte do (re)encontro

Na caminhada da praia, reencontro amigo que havia tempos não via. O homem estava exultante. Vai casar novamente com a primeira mulher. Separaram-se por dez anos, durante cujo tempo cada um reconstruiu a sua vida. Tiveram novos filhos e foram felizes, ao que me consta. Constava, uma vez que me diz nunca ter sido feliz na nova relação. Não esquecera a primeira mulher. Por coincidência, romperam seus relacionamentos há coisa de uns seis, sete meses. Mês e pouco atrás, reencontraram-se na sala de espera de um consultório médico. Enquanto aguardavam seus horários, aproximaram-se para uma conversa como há muito não tinham. Daí a um jantar juntos, um flashback sem compromisso, foi um passo. Agora, decidiram morar juntos de novo.

Diz-me que sofrera bastante com a primeira separação. Havia sido decidida pela mulher e o homem entregara-se a um sofrimento sem nome. Emagreceu, desorganizou-se financeiramente, passou a beber muito e fez análise com diferentes especialistas, até tentar reconstruir sua vida de forma mais equilibrada. Mas nunca mais fora feliz de verdade, afirma. Como tivesse umas manchas brancas mas discretas no rosto e nas mãos, novidade para quem não o via há muito, dou a ver minha curiosidade, ao que satisfaz: - "Vitiligo, amigo. Desilusão amorosa leva da reprovação no colégio ao vitiligo." Disfarço a minha surpresa e seguimos a nossa caminhada, entre uma e outra amenidades.

Fiquei contente com a alegria estampada nos olhos do M., o tal amigo. Tirando as marcas da doença, no fundo irrelevantes, o homem está bem. Delineou o corpo, perdeu a barriga e caminha com uma disposição de fazer inveja, dando-se o direito de uns piques de velocista a cada duzentos metros. Vai bem nos negócios e é hoje um exportador de sucesso num campo de que não me recordo neste instante.

Foi o meu melhor amigo dos tempos de faculdade, mas a vida corrida levou-nos, um e outro, a anos e anos de ausência. Mora em São Paulo e só de vez em quando visita o Ceará. Como sabe que escrevo, brinca: - "Como gostava de fazer, escreva uma crônica sobre o nosso reencontro." Fico sem saber se se refere ao reencontro com a ex-mulher, com quem vai juntar escovas decorridos dez anos da separação, ou se ao nosso, amigos de amizade estreita. Na dúvida, sento-me diante do computador para traçar uma linhas em sua homenagem. Ocorre-me Vinícius: - "A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida." Incompleto, poeta. A vida é a arte do (re)encontro.

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