Entre meu natalício, em novembro, e o Ano Novo, fui agraciado com muitos presentes, todos vindos de amigos e parentes adoráveis, e carregados de profunda simbologia. Há dois tipos de coisas que adoro receber: canetas e livros. Por mais simples que sejam. As primeiras me dão a impressão de que vou gravar em vários lugares a certeza de que passei pela Terra, deixando marcas do meu trabalho e da minha alma. Os segundos me enriquecem a alma. Eis que recebi vários. Entre eles, um me chamou a atenção, pela origem e pelo conteúdo. De Lia, minha sobrinha adolescente, recebi Do amor e outras crônicas, de autoria de Álder Teixeira. Pouco volumoso, o que já foi um convite para se ler de uma sentada, num domingo de folga, suas duzentas e seis páginas são surpreendentes e fascinantes.
Álder é a pessoa talhada para falar de amor (e escrever). A Natureza presenteou-o com belo porte físico, sua afinidade pelas letras o fez um intelectual, professor de Literatura, além de um papo agradável, principalmente, diga-se de passagem, para as mulheres. Ao longo da vida teve grandes amores, "com mulheres maravilhosas", como ele mesmo diz. Um casal de belos filhos é um exemplo da amplitude e profundidade com que viveu o amor em toda sua plenitude. E Álder não se fez diferente dos demais mortais, ao vivenciar o amor, prova que esse sentimento cantado e decantado em todas as línguas, não respeita blindagens sociais, financeiras ou intelectuais. Sofreu, fez sofrer, perdoou e foi perdoado. Avançou, recuou, às vezes venceu, às vezes foi derrotado. Mas, pelo brilho do seu conteúdo pessoal, tem mais bagagem para falar do assunto. Mesmo que não tenha razão em tudo, mas seu relato tem mais brilho.
Álder Teixeira não exprime apenas sua visão do amor. Mas busca raízes históricas, que vão de Platão a Nelson Rodrigues. Respeita o pensamento e avaliação de homens e mulheres de todos os idiomas e matizes. Em suas páginas desfilam romances liberais como o de Sartre e Simone de Beauvoir ou a paixão desenfreada de Romeu e Julieta, ligações que desafiam o tempo como Tarcísio Meira e Glória Menezes. Não falta Shakespeare, em Hamlet, nem Rosa Montero, em Paixão e desamor. Da literatura parte para a música. Explora Vinicius, Elano de Paula, levita na dor de cotovelo de Lupicínio Rodrigues. É manifesta sua admiração pelo "Rei" Roberto Carlos. Expõe ideias e manifestações de alunas suas e de leitoras. Enfim, trabalha como um apresentador de TV, lidando com o universo inteiro de seres humanos, agindo muito mais como moderador, para deleite de seu público, enriquecendo o debate.
Por fim, o livro é uma delícia. Álder discorre, ora com suavidade, ora com apreensão, ora com rispidez sobre o amor. Não nos deixa certos de ter uma rígida posição sobre o amor, mas muito mais uma flexibilidade tão grande quanto a do próprio sentimento. Afinal, amor é como democracia: cada um tem seu jeito, vive com ela, dorme e acorda com ela, ora adora-a, ora odeia, mas sempre acha que ela é a melhor, e sabe que tem de respeitar o sentimento do outro. Se você já amou, se acha que não ama mais, ou se não amou ainda, vale a pena ler Do amor e outras crônicas. Você vai terminar melhor do que quando começou a lê-lo.
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