quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Que belo homem foi meu pai

ÉRAMOS OITO IRMÃOS, quatro homens e quatro mulheres. O casal mais velho, Odivaldo e Odilma, filhos do primeiro casamento do meu pai. Os outros, pela ordem decrescente, Gracinha, Chico, Emídio, eu, Fátima e Socorro.

Crescemos debaixo de uma educação austera, sobretudo orientada pela inflexibilidade de mamãe, Alderila, mulher temperamental e de atitudes invariavelmente decididas. Papai, Deusdedith Teixeira, homem rigoroso nos costumes, nas opiniões e no caráter, foi o mais íntegro, grave, sério e autodisciplinado dos homens que conheci. E, para além de tudo isso, a humildade personificada.

De papai, aprendemos algumas lições indeléveis: jamais tergiversar depois da palavra empenhada; nunca tirar proveito da fragilidade alheia; não baixar a cabeça ante a prepotência, a arrogância, a valentia de quem quer que seja; em momento algum desejar aquilo que, sendo do outro, não nos pertence; respeitar os mais velhos; ser correto nos negócios, grandes ou pequenos; que a honestidade é um bem supremo; que todos somos iguais, ricos e pobres, brancos e pretos; que Deus existe; que mais vale amigos na praça que dinheiro no caixa; que a família é algo sagrado; que nem tudo se acaba com a morte; que nada tem mais valor que a paz; que jamais alguém lhe bata à porta para querer de volta o que é seu; que se deve amar, amar e amar sempre; que o ódio não compensa; que se pode chorar, sem pruridos, sem achar que o pranto vai nos diminuir sob qualquer aspecto.

Era humilde, nunca abjetamente submisso. Era manso, exemplarmente brando de temperamento, mas corajoso, destemido. A propósito, é conhecida a história: certa vez, ameaçado de morte, a faca no peito, fixou o olhar nos olhos do agressor e ponderou: - "Se eu fosse você, não faria essa besteira não". O homem baixou a arma, trêmulo, e sumiu feito um cachorro acanhado, para nunca mais voltar.

A mansidão de papai era contagiante. Jamais negava ajuda a quem quer que fosse, nem mesmo quando lhe pediam, por empréstimo, o 'cavalo preto de Deusdedith'. Solícito, entregava amorosamente o laço: - "É só ir à roça e pegar." Como só se permitisse ser laçado por seu dono, o cavalo preto ia de um canto a outro do cercado, volteava, corria em disparada, saltava, escoiceava, parava, ao longe, desafiador. Depois de hora, hora e meia de tentativas frustradas, o solicitante voltava, esbaforido: - "Deusdedith, seu cavalo é muito velhaco." A história virou piada. A piada tornou-se máxima: Mais velhaco que o cavalo preto de Deusdedith!

Que belo homem foi meu pai!

Um comentário:

  1. Queria tanto dizer o mesmo de alguém que conhecí como Pai... mas posso dizer o mesmo da minha mãe!

    Seus textos me inspiram... fico grata por dividir conosco essas histórias maravilhosas.

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