terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ainda sobre a traição. Ooops!

Dia desses escrevi neste espaço sobre pesquisa transformada em livro, de J. Ryan, sobre infidelidade e casamentos monogâmicos. O texto, que está disponível no blog, baseando-se na referida pesquisa, afirmava que homens e mulheres traem pelas mesmas razões: por desejo, por se sentirem sexualmente atraídos. O fato, no entanto, suscitou algumas divergências e até alguma indignação, a exemplo do que se pode ver na mensagem da leitora M.P., da qual, preservando a privacidade da autora, destaco o final: - "Esse povo (sic) não tem mais o que pesquisar e fica afirmando tolices, como a que você comentou no jornal na semana passada. Pois fique sabendo que eu sou casada há cinco anos e, posso afirmar, somos muito felizes, não havendo razões para traição!"

Prezada leitora, agradeço-lhe pelo comentário, mas tenho algumas considerações a fazer. A propósito, outra pesquisa é publicada em livro sobre o tema. Trata-se do Por que homens e mulheres traem, de Mirian Goldemberg, de que tomo a liberdade de extrair a seguinte assertiva: "Em vez de assumirem o desejo as mulheres preferem se fazer de vítimas. Sentimentalizam o caso extraconjugal e botam a culpa no marido." Segundo a antropóloga, por essa razão são recorrentes as declarações do tipo "Ele não me procurava mais", "Estava se relacionando fora de casa", "Não ligava mais para mim" e coisas que tais. Tudo balela, pelo menos a concluir pelo que afirma a estudiosa, o que, leitora, aproxima-se claramente da conclusão a que chegou Ryan.

O tema, coincidentemente, volta à pauta na lidíssima coluna de Ruth de Aquino, que citei no meu texto Sexo no Alvorecer. Por sinal, a prestigiada jornalista da revista Época acrescenta pontos de vista pessoais bastante curiosos, sobremaneira por se tratar de uma mulher. Na sua coluna, Rocha não faz concessões e afirma sem meias-palavras: - "O desejo de se sentir desejada conduz a pequenas e grandes infidelidades femininas." Vai além: sem mencionar Freud, em que supostamente sustenta a sua ponderação, a colunista de Época revela conhecer "mulheres absolutamente certinhas, monogâmicas, que casaram virgens e têm sonhos delirantemente libertários." (sic)

Que o seu casamento esteja as mil maravilhas, estimada leitora, é fato que deve deixá-la feliz e lisonjeada, o que é diferente de tratar-se de uma realidade comum a homens e mulheres em sua generalidade. Sua indignação, que entendo como uma tentativa de fortalecer as razões mais sublimes por que deveriam se orientar todos os amantes, ressente-se de consistência e não pode absolutamente ser utilizada como tentativa de contradizer o óbvio.

Em tempo, voltando ainda uma vez a Ruth de Aquino, com propriedade a colunista faz alusão ao filme A bela da tarde, um clássico de Luis Buñuel que 'discute' o assunto maravilhosamente bem: a personagem central, interpretada por ninguém menos que a estonteante Catherine Deneuve, em sua melhor forma, é casada, rica e feliz com o marido, mas, pelas razões que só Freud soube tão bem explicar, entrega-se a estranhos como uma prostituta de luxo. O mesmo tema, como se pode ver, explorado genialmente por Nelson Rodrigues no conto A dama do lotação, adaptado para o cinema por Neville D'Álmeida. Belíssimo filme, também.

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