Amigo, anos depois do rompimento com a ex-mulher, está de volta. Mas diz que "cristal quebrado não tem conserto", pode? Já entra na relação, outra vez, inseguro, e nutre o medo da própria sombra. Ontem, entre um chope e outro, dizia meio vacilante: - "Foram dois anos de separação... Ela teve um namorado, é complicado!" Estava tenso, cheio de pruridos com o fato de que a ex tentara recomeçar sua vida. Um quadro curioso, em pleno século XXI. Como estivéssemos todos, outros amigos e eu, empenhados em ajudar o 'ciumento retrospectivo' (a mulher rompera com o novo namorado bem antes de ceder à proposta de reaproximação), citei ene casos semelhantes que tiveram desfechos os mais felizes. Nada. O moço está pra lá de encucado com a situação. Incrível.
Mudávamos de assunto, Dilma Rousseff aqui, Ronaldo O Fenômeno acolá, volta e meia e um chope a mais, o tema voltava, na boca dele, claro: - "É por que não é com vocês... Saber que dormiu com outro, que fez com ele as mesmas coisas..." Quem haveria de segurar a cargalhada? Muito engraçado. Um dos nossos, acanalhado, como dizia meu pai, ainda arriscou: - "Bobagem. Lavou, 'tá novo de novo!" Por pouco, o happy hour não se transforma em tragédia. Foi aí, como é de praxe, que lancei mão da literatura para restabelecer a harmonia entre os convivas do fim de tarde.
Lembrei, num lampejo a serviço da paz, do novo Nobel de Literatura, o peruano Mário Vargas Llosa. Não é que o romancista escreveu uma obra-prima sobre o assunto? Isso mesmo: Travessuras da menina má, belíssimo! Ricardo, um peruano radicado em Paris, reencontra um ex-amor da adolescência e vê, sob a magia do belo sentimento, que jamais esquecera a mulher. Tentam, mas o destino, trapaçeiro, separa mais uma vez os dois. Começa, assim, uma sequência extravagante de reencontros, em Londres, dos pubs, da cultura hippie dos anos 70; em Tóquio, com suas excentricidades; em Madri, das mudanças dos anos 80. Uma história extraordinária sobre as muitas faces do amor, no estilo inconfundível de narrar que faz de Vargas Llosa um dos dois maiores ficcionistas vivos. O outro, com a morte de Saramago, é García Márquez, óbvio.
E por falar no autor de Cem anos de solidão, uma curiosidade. Ele, Gabriel García Márquez, e Mário Vargas Llosa, que foram grandes amigos, são hoje desafetos figadais. O motivo? Teria o colombiano, numa visita a Llosa "dado em cima" da mulher deste. É conhecido o barraco em que os dois gigantes da narrativa de ficção contemporânea estiveram envolvidos numa cidade da Europa, Paris ou coisa que o valha. Mais novo e mais inteiro, o escritor peruano e atual Nobel deixou Márquez bastante avariado. O mundo das celebridades têm essas coisas também.
Voltemos às Travessuras da menina má. De uma forma particularmente gostosa, Llosa narra essa sedutora história de encontros e desencontros em lugares e circunstâncias as mais diversas. Com estilo e elegância aqui, discretamente cômico ou trágico ali, Mário Vargas Llosa joga com o banal e o inusitado para discutir o amor em toda a sua complexidade. Um belo livro sobre a paixão, o acaso, o perdão, a dor e o prazer da relação entre homem e mulher. Um drama muito parecido, guardadas as proporções, com o do meu amigo que acaba de reatar com a ex-mulher. Que ele não tenha reparado na dubiedade do título, Travessuras da menina má. Tenho dito.
Nada como Uma menina má para causar uma reflexão! "meninas são tão mulheres", mas um poeta de "alma nua" entende que o tempo passa... afinal o poema não tem hora pra chegar... "deixa eu perder a hora, pra ter tempo de encontrar a rima", quem sabe revisitar o jardim seja um atalho pro seu amigo.
ResponderExcluirBelo comentário. E obrigado pela visita ao blog!
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