Com o pedido de que escreva um comentário para a aba do livro, chegam-me às mãos os originais do É isso aí..., de Elano de Paula. Trata-se de uma obra antes de tudo deliciosa, que me permitam a licença do adjetivo para falar das propriedades de um livro. É que os textos de Elano de Paula, entre as muitas qualidades que possui (e que são numerosas!) causam, já ao primeiro contato, essa sensação de prazer que já os diferenciam, quer se trate de conto, crônica ou mesmo narrativas mais longas, como o romance, fôrma literária em que se notabiliza por força do estilo elegante e solto.
Agora, nesse tão aguardado É isso aí..., uma conversa por escrito, como o próprio título sugere, Elano se mostra ainda mais estilizado, no bom sentido, permitindo-se fundir tipos textuais, transitando entre a crônica e o conto com a habilidade de um especialista, recortando partes de romances inéditos ou já publicados e dando-lhes a fisionomia de histórias curtas, com a clássica linearidade e a estrutura de narrativas independentes. Um belo livro, de uma pessoa humana que admiro há muito tempo, sem que jamais lhe tenha apertado a mão. Sim, Elano e eu tornamo-nos amigos à distância, ele no Rio e eu aqui em Fortaleza. Nas vezes em que vem ao Ceará, os afazeres dele e os meus criam sempre uma dificuldade do encontro. Na última vez, convidara-me para um vinho em sua casa, mas uma viagem minha, imprevista, levou-nos a adiar o sarau literário de que participariam, ainda, alguns outros amigos comuns, entre eles o Ernesto e o "negão", o violão de que quase nunca se separa.
Pois bem. Elano foi roteirista de seriados da globo, é um artista nato, embora tenha se tornado, talvez, mais conhecido como o empresário de sucesso. É um homem de uma elegância pessoal que impressiona, já pude ver, mesmo a distância. Seus escritos, leem-se como quem conversa numa roda de amigos. É absolutamente reservado em face de certas coisas que hoje fazem a maioria dos homens feliz, como a visibilidade que evita a qualquer custo. Irmão do cineasta Zelito Viana e do humorista Chico Anísio, detesta ser identificado por isso. E nem precisa, claro, pela identidade própria do grande artista e do grande homem que é.
É isso aí... é um livro para ler, reler e reproduzir nas conversas entre amigos. Numa história e noutra, aflora o documental, o memorialístico, em que não raro o leitor se projeta, como num restauro de fotografia que o tempo desgastou. É o caso da crônica Dona Mariquinha, homenagem à primeira professora, na infância em Maraguape, construído com branda e doce emoção, na medida certa, com o savoir-faire que só os grandes cronistas possuem. Em breve.
Como a ponte que fui entre essas duas grandes figuras, cabe a mim a culpa por ainda não ter providenciado um encontro entre os meus dois amigos. Porém são três vidas atribuladas e atropeladas pelo corre-corre do dia-a-dia.
ResponderExcluirMas ainda há tempo!
Tive o privilégio do acesso à orelha escrita pelo Álder para o livro de Elano Paula e posso acrescentar que faz jus ao livro.