As mãos espremendo os cabelos ainda molhados.
- Foi a última vez.
- Como?
Não entendia como fora capaz. Vergonha. O que não diriam as amigas, se soubessem... Do ombro, os filetes d'água percorrem o corpo, há pouco tão disponível, matéria do desvairado prazer.
- Por favor, não me procure mais.
- Não estou entendendo, estava tudo tão bem.
Nada. Apenas recobrara o juízo. A família constituída, os filhos exemplares. Como fora capaz de fazer algo assim. Abominável! Uma vez condenara uma amiga íntima pelo mesmo motivo. Inaceitável! E ela...
Bate o cigarro contra o cinzeiro, pensativa.
- Ele não merece.
- E só agora resolveu pensar nisso, depois de tantos meses?
Nunca era tarde para corrigir um erro grave, imperdoável, dizia. Para recomeçar a vida ao lado dele, a quem julgara fidelidade eterna.
- Por favor, me entenda. Não é certo o que venho fazendo. Uma loucura!
- Sei, sei.
Recompõe os cabelos, agora enxutos. Os lábios, dos beijos frenéticos de há pouco, pressionados para fixar melhor o batom. Os olhos negros repuxados pelo lápis de contormo, fixos no espelho.
- Não me procure mais, por favor.
- E a viagem que havíamos combinado para julho?
Os dedos de unhas polidas de novo girando os cubos de gelo no copo de uísque.
- Esqueça, já disse. Acabou!
- ...
Lentamente, vai repondo na bolsa os objetos de uso pessoal. A expressão ligeiramente tensa. Os olhos no esmalte das unhas. A voz trêmula, como da primeira vez. Lá fora, o aracati começa a soprar. Longínquo, ouve-se o relógio da matriz bater nove horas.
- Ele não merece!
- Entendo.
Seis meses. O que fora apenas uma atração, parecia agora algo doentio, como se não houvesse vida sem ele, sem os encontros semanais naquele apartamento. Uma loucura, sabia. Uma loucura de que não se julgava mais capaz de se desvencilhar.
- Tchau! - enxuga os olhos com a ponta do lenço.
- Tchau!
Ato contínuo, num movimento brusco, abraça-o em prantos, as unhas cravadas nas costas peludas, objeto da indômita paixão. Ajeita a blusa, contém com a curva dos dedos a lágrima que rola pela maçã do rosto. Ainda mais tensa, confere o aperto do cinto, a chave do carro na mão. E, rápido, caminha em direção à porta.
A mesma porta, é certo, pela qual, entre nervosa e provocante, entrará na semana que vem.
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