O Banquete é um dos diálogos de Platão de que mais gosto. É o mais simples, mesmo no pretexto de que se serve para tecer uma das mais consistentes reflexões de toda a história da filosofia sobre o amor. Imaginemos algo muito próximo do que chamamos hoje happy hour: amigos se reúnem para festejar a vitória de um deles, Agathón, num festival de teatro. E, entre comidas e bebidas, pelas tantas, um deles puxa a conversa em torno do tema polêmico. Nasce uma das obras-primas da literatura universal.
Desses diálogos, todavia, dois merecem maior atenção, o debate entre Aristófanes e Sócrates. Aquele, mais sonhador, mais poeta. Este, mais pé-no-chão, mais realista. Para Aristófanes, no começo, homens e mulheres eram duplos. Cada um tinha dois rostos, quatro pernas, quatro braços etc. E, como ainda hoje, muita vaidade, muita audácia, queria sempre mais. Chegar ao céu, por exemplo. Foi aí que os deuses, através do maior deles, Zeus, resolveram reagir. E, como punição pela arrogância, homens e mulheres foram cortados ao meio: - "Serão duas vezes mais fracos, já não poderão subir aos céus!"
Por isso, procuramos tanto a nossa metade perdida, sob pena de continuarmos incompletos, condenados a sentir a falta do outro pelos tempos afora. Quando acontece de encontrarmos a nossa metade, sentimo-nos felizes e realizados. É a idealização do amor. Desejamos a fusão, a unificação das almas e dos corpos. É a paixão: 'Encontrei o homem, a mulher da minha vida', dizemos. Aristófanes sonhador.
Mais realista, Sócrates, num piscar de olhos, identifica na forma como seu interlocutor compreende o amor, o que nela existe de ilusório: a utopia do amor exclusivo, definitivo, capaz de saciar a nossa vontade de completude. Um dia, alguém deixará de amar, alguém sofrerá com isso. Não há, nesse caso, a falta, razão por que não haverá mais o desejo. Schopenhauer chamará isso de tédio. Quantos de nós não terá 'amado' mais de uma vez? É que não mais exclusivo, não mais definitivo é o amor. E volta-se a ser incompleto.
Com pequeno desconto, assim afirmou Sócrates: - "Poetas, sofistas, enganadores dos outros." Para ele, amor é desejo daquilo que nos falta. Amamos o que não temos, portanto, aquilo que está ausente, distante de nós. O amor, segundo o mito, é incompletude. Não há amor feliz, pelo menos para sempre. Estamos falando, claro, do amor eros, que existem diferentes formas de amar. Eros, é desejo... o desejo é falta. Séculos depois, revendo Platão, Kant afirmaria que "a felicidade é ter aquilo que se deseja". Mas se desejamos, não é porque nos falta? O amor platônico.
Desses diálogos, todavia, dois merecem maior atenção, o debate entre Aristófanes e Sócrates. Aquele, mais sonhador, mais poeta. Este, mais pé-no-chão, mais realista. Para Aristófanes, no começo, homens e mulheres eram duplos. Cada um tinha dois rostos, quatro pernas, quatro braços etc. E, como ainda hoje, muita vaidade, muita audácia, queria sempre mais. Chegar ao céu, por exemplo. Foi aí que os deuses, através do maior deles, Zeus, resolveram reagir. E, como punição pela arrogância, homens e mulheres foram cortados ao meio: - "Serão duas vezes mais fracos, já não poderão subir aos céus!"
Por isso, procuramos tanto a nossa metade perdida, sob pena de continuarmos incompletos, condenados a sentir a falta do outro pelos tempos afora. Quando acontece de encontrarmos a nossa metade, sentimo-nos felizes e realizados. É a idealização do amor. Desejamos a fusão, a unificação das almas e dos corpos. É a paixão: 'Encontrei o homem, a mulher da minha vida', dizemos. Aristófanes sonhador.
Mais realista, Sócrates, num piscar de olhos, identifica na forma como seu interlocutor compreende o amor, o que nela existe de ilusório: a utopia do amor exclusivo, definitivo, capaz de saciar a nossa vontade de completude. Um dia, alguém deixará de amar, alguém sofrerá com isso. Não há, nesse caso, a falta, razão por que não haverá mais o desejo. Schopenhauer chamará isso de tédio. Quantos de nós não terá 'amado' mais de uma vez? É que não mais exclusivo, não mais definitivo é o amor. E volta-se a ser incompleto.
Com pequeno desconto, assim afirmou Sócrates: - "Poetas, sofistas, enganadores dos outros." Para ele, amor é desejo daquilo que nos falta. Amamos o que não temos, portanto, aquilo que está ausente, distante de nós. O amor, segundo o mito, é incompletude. Não há amor feliz, pelo menos para sempre. Estamos falando, claro, do amor eros, que existem diferentes formas de amar. Eros, é desejo... o desejo é falta. Séculos depois, revendo Platão, Kant afirmaria que "a felicidade é ter aquilo que se deseja". Mas se desejamos, não é porque nos falta? O amor platônico.