A série de crônicas sobre cinema, que venho publicando no blog e em jornal impresso, tem agradado aos leitores. Dela, surge a ideia de um livro, algo como 'os filmes da minha vida', com a intenção de contribuir para a formação de novos cinéfilos. De São Paulo, por exemplo, pessoa muito querida diz ter lido meu texto sobre Noivo neurótico, noiva nervosa e comenta: - "Não gosto muito de Allen [Woody], mas confesso ter sido completamente influenciada por você. (risos) Vou rever o filme, sim." Um outro, também por e-mail, pergunta sobre os finais de filme que mais me impressionaram e pede a minha opinião sobre a cena do aeroporto, em Casablanca (Michael Curtiz, 1943).
Olha, Jorge, é de fato uma das cenas mais bonitas do cinema, sobre a qual, há coisa de uns dois, três anos, escrevi uma crônica. Gosto das cenas que surpreendem. Aquela em que, enquanto todos esperavam que Rick (Humphrey Bogart) partisse com Ilsa (Ingrid Bergman) e ele decide ficar, renunciando ao amor impossível, é desconcertante: - "E nós, Rick?" E ele, estoicamente: - "Nós sempre teremos Paris." Você tem razão: As lembranças dos momentos felizes com a pessoa amada jamais se apagarão e, vira e mexe, qualquer um de nós terá sempre Paris ou o Rio de Janeiro para recordar.
Mas, por força de sua provocação, que tal a última sequência de Desencanto (David Lean, 1946), que reedita basicamente a mesma situação? Consciente de que o mais certo era renunciar ao amor de Laura (Celia Jonhson), Alec (Trevor Howard), o amante, como o Rick de Casablanca, apenas aperta o ombro dela, num plano de detalhe memorável, e diz "adeus", até desaparecer por uma porta. Ela, voz off , recorda, depois: - "O destino, até o último minuto, foi miserável conosco. [...] Senti sua mão no meu ombro durante um momento, e logo se foi. Foi embora da minha vida para sempre."
Ou outro, que vi em DVD há poucos dias, Rainha Cristina (Ruben Mamoulian, 1933): Cristina (Greta Garbo) abdica do trono em favor do amor impossível com o espanhol Antonio (John Gilbert), mas, ferido ao defender a honra, ele morre em seus braços quando os dois partem num navio. Ela vai até o convés e, entregando-se a uma dor sem nome, lança o olhar para o infinito. O olhar de Garbo, ali, é mais belo e mais intenso que o de Mona Lisa...
Acho que nessas cenas, leitores, está a explicação para o fascínio que o cinema exerce sobre nós. Bem na linha do que afirmou Nietzsche: "A arte existe para que não se morra da realidade." Por que não sonhar, não viver ou reviver as grandes emoções através de um belo filme, por exemplo? Como numa das passagens a que me referi, quem de nós, um dia qualquer, não se recordará de que apenas apertou o ombro da pessoa amada, quando tínha tanto por dizer -- até que se fosse da nossa vida para sempre?
Olha, Jorge, é de fato uma das cenas mais bonitas do cinema, sobre a qual, há coisa de uns dois, três anos, escrevi uma crônica. Gosto das cenas que surpreendem. Aquela em que, enquanto todos esperavam que Rick (Humphrey Bogart) partisse com Ilsa (Ingrid Bergman) e ele decide ficar, renunciando ao amor impossível, é desconcertante: - "E nós, Rick?" E ele, estoicamente: - "Nós sempre teremos Paris." Você tem razão: As lembranças dos momentos felizes com a pessoa amada jamais se apagarão e, vira e mexe, qualquer um de nós terá sempre Paris ou o Rio de Janeiro para recordar.
Mas, por força de sua provocação, que tal a última sequência de Desencanto (David Lean, 1946), que reedita basicamente a mesma situação? Consciente de que o mais certo era renunciar ao amor de Laura (Celia Jonhson), Alec (Trevor Howard), o amante, como o Rick de Casablanca, apenas aperta o ombro dela, num plano de detalhe memorável, e diz "adeus", até desaparecer por uma porta. Ela, voz off , recorda, depois: - "O destino, até o último minuto, foi miserável conosco. [...] Senti sua mão no meu ombro durante um momento, e logo se foi. Foi embora da minha vida para sempre."
Ou outro, que vi em DVD há poucos dias, Rainha Cristina (Ruben Mamoulian, 1933): Cristina (Greta Garbo) abdica do trono em favor do amor impossível com o espanhol Antonio (John Gilbert), mas, ferido ao defender a honra, ele morre em seus braços quando os dois partem num navio. Ela vai até o convés e, entregando-se a uma dor sem nome, lança o olhar para o infinito. O olhar de Garbo, ali, é mais belo e mais intenso que o de Mona Lisa...
Acho que nessas cenas, leitores, está a explicação para o fascínio que o cinema exerce sobre nós. Bem na linha do que afirmou Nietzsche: "A arte existe para que não se morra da realidade." Por que não sonhar, não viver ou reviver as grandes emoções através de um belo filme, por exemplo? Como numa das passagens a que me referi, quem de nós, um dia qualquer, não se recordará de que apenas apertou o ombro da pessoa amada, quando tínha tanto por dizer -- até que se fosse da nossa vida para sempre?
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